A inflação na Zona Euro voltou a abrandar em fevereiro. Mas a desaceleração foi mais lenta do que o previsto pelos economistas, o que dá argumentos ao Banco Central Europeu (BCE) para esperar mais tempo antes de tomar a decisão de cortar as taxas referência. Estes dados, a par de outros indicadores económicos, têm levado os investidores a refrear as apostas de que o alívio nos juros pode estar para breve, o que se tem refletido nas Euribor, que interromperam a sequência de queda.
Vamos a números. Em fevereiro, o índice de preços teve uma taxa de variação anual de 2,6%, segundo a estimativa rápida divulgada esta sexta-feira pelo Eurostat. No mês passado, a variação tinha sido de 2,8%. Apesar de o processo de desinflação continuar em curso e de a evolução dos preços se estar a aproximar da meta de 2% definida pelo BCE, a inflação core permanece acima de 3%. Excluindo bens com preços mais voláteis – como a energia, alimentos, álcool e tabaco – os preços subiram 3,1%, uma desaceleração face à variação de 3,3% observada em janeiro. O consenso dos economistas apontava para uma variação de de 2,5% no índice harmonizado de preços e de 2,9% na inflação core.
Descida de juros em abril ficou fora de questão?
A inflação ficou entre uma a duas décimas acima das estimativas dos economistas. Mas isso foi suficiente para que os bancos de investimento refreassem as apostas de que o BCE iria começar a descer os juros já em meados de abril. Agora, a data mais consensual para o início do alívio nas taxas passou a ser junho. Numa nota a investidores, os economistas do Goldman Sachs referem que “tendo em conta os dados da inflação e os recentes comentário do BCE, agora esperamos que primeira descida aconteça em junho”, em vez de abril.
Também a Capital Economics mudou a estimativa para a data do primeiro corte de juros. “A maior parte dos responsáveis do BCE tem mantido a opinião de que precisam de mais tempo para ficarem convencidos de que a inflação irá cair de forma sustentada para 2%. Os dados de fevereiro irão fortalecer essa convicção. Assim, um corte da taxa de juro em abril – como tínhamos vindo a projetar – não irá acontecer”, afirmam os economistas da consultora.
Economia e emprego dão razões ao BCE para esperar
Além de a inflação não estar a abrandar tanto como o previsto, há outros indicadores económicos que podem servir de base a uma maior espera por parte do BCE. Apesar de os juros altos estarem a enfraquecer a economia, para já, a Zona Euro tem evitado o cenário da recessão e os dados do emprego têm mostrado solidez. Aliás, também esta sexta-feira, o Eurostat revelou que a taxa de desemprego baixou para um mínimo de 6,4% no passado mês de janeiro, menos duas décimas que no mesmo período de 2023.
“Para os próximos meses, o cenário para a inflação aparenta ser relativamente benigno. Ainda assim, com o desemprego em mínimos e a economia a evitar a recessão, o BCE não irá a correr para cortar as taxas de juro já que permanecem preocupações sobre a inflação nos serviços”, considera Bert Colijn, economista do ING, numa nota a investidores.
Taxas Euribor interrompem descida
O processo de desinflação ligeiramente mais lento que o esperado e os sinais de relutância dados por responsáveis do BCE levaram os mercados financeiros a cortar nas apostas feitas no final do ano passado de que os juros iriam descer de forma rápida. E isso tem tido reflexo nas taxas Euribor.
Evolução da Euribor a seis meses

No indexante a seis meses, por exemplo, após um alívio entre outubro e o início e janeiro, a taxa voltou a subir nas últimas semanas. Situa-se agora em 3,91%, após em fevereiro ter caído até aos 3,83%. Na prática, isso indica que poderá levar mais algum tempo até que a descida das taxas se reflita nas prestações do crédito à habitação com taxa variável.