Hong Kong tornou-se um dos maiores centros financeiros em todo o mundo nos últimos anos, mas a ligação umbilical à China tem trazido problemas de segurança para as empresas, dada a constante tensão entre as duas maiores economias do mundo.
O mais recente sinal de desconfiança entre as duas nações eclodiu entre duas das maiores empresas de consultoria e auditoria. Segundo o Financial Times, a Deloitte e a KPMG estão a pedir aos seus funcionários para usarem telemóveis descartáveis quando viajam para Hong Kong, evitando possíveis roubos de informação ou dados de empresas.
“A imprensa e as empresas estrangeiras não deviam, em teoria, ser sujeitas ao controlo, restrições ou repressão por parte de Pequim, mas na prática elas temem que isso suceda”, começa por explicar Paulo Duarte, professor de relações internacionais da Universidade do Minho, à EXAME.
Acrescenta que “tal pode criar constrangimentos e interferências graves em material por vezes sigiloso. Para minimizar estes riscos as empresas procuram deixar o mínimo rasto”.
Esta tem sido uma prática comum em várias empresas tecnológicas norte-americanas, nos últimos anos, quando se deslocam à China. Agora, a medida está a alargar-se também a Hong Kong, região administrativa especial da República Popular chinesa, que tem aumentado o controlo sobre o território após as restrições de confinamento, devido à covid-19. A medida agora adotada por estas “gigantes” norte-americanas, pode aumentar a tensão entre os EUA e a China.
“Quando os EUA e China precisam cada vez mais de cooperar em virtude da agenda de conflitos existente no Médio Oriente e na Ucrânia, acredito que o ‘timing’ para estas medidas suscetíveis de provocar a China não é o mais indicado, não obstante a sua legitimidade”, conclui Paulo Duarte.
Em 2020, no dia 1 de julho – data em que se assinala a transferência do território a soberania britânica para a chinesa – Pequim aprovou a controversa lei de segurança de Hong Kong. Logo um ano depois dos violentos protestos que se espalharam pela região durante sete meses, que levaram à detenção de nove mil pessoas.
Na altura, a grande maioria das empresas norte-americanas presentes em Hong Kong disseram estar com receios desta nova lei. De acordo com um inquérito da Câmara do Comércio Americana, 76% das 183 empresas dos EUA questionadas estavam “extremamente preocupadas” com o agudizar de controlo chinês.
Num alerta enviado pela administração de Joe Biden a todas as empresas na região, em 2021, pode ler-se que o presidente americano considera que “as empresas enfrentam riscos associados à vigilância eletrónica e à entrega de dados às autoridades”, bem como ao “acesso restrito à informação”.
Entre outras coisas, a legislação define novas penas para quatro principais crimes: secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrageiras; sendo que, quem os cometer, pode passar a ser condenado a prisão perpétua. Foi criado ainda um gabinete de segurança nacional que decide quais os casos a serem julgados na Cinha continental – e de acordo as suas próprias leis – e o primado do direito chinês, quando existe conflito com as leis daquela região.