“Eu nunca entendi sequer a lógica de um vinho branco ser servido num copo mais pequeno do que um vinho tinto”. Foi assim que Jancis Robinson deu início à apresentação do copo universal em Portugal. Apesar de o copo ter começado a ser concebido no verão de 2017, foi somente em 2023 que a colunista do Financial Times esteve em Lisboa para falar sobre ele.
A ideia surgiu de Richard Brendon, designer britânico admirador do trabalho de Jancis. Foram precisos, contam a sorrir, muitos meses de namoro para que ela a convencesse a emprestar o seu olhar, conhecimento e nome a um copo, numa altura em que milhares de modelos de copos de vinho enchem o mercado.
E, sobretudo, com grandes marcas como a Riedel ou a Schott Zwiesel a apostar numa estratégia diametralmente oposta: a de ter um copo para cada tipo de vinho, às vezes para castas específicas.
“Temos visto, por outro lado, um movimento que afasta o champagne das flutes, tal como os vinhos doces ou fortificados a deixar de ser servidos em copos mínimos – algo que nunca entendi, também”, continua com um sorriso Jancis Robinson.
Estamos no Pestana Palace, em Lisboa, numa apresentação organizada pela Herdade do Rocim, ainda antes do verão, para dar a escanções, comerciantes e jornalistas a oportunidade de conhecer o copo que tem, paulatinamente, conquistado os apreciadores de vinho. “Quando o Richard me perguntou o que para mim era importante num copo, houve quatro coisas muito evidentes: ser um copo estável, com pé, uma borda realmente fina e uma forma clássica. E esta evidencia os aromas”, garante Jancis.
Richard salienta ainda que o copo desenhado em conjunto com Jancis – e a EXAME comprovou que é o modelo que ela tem em casa para os milhares de provas que faz todos os anos – cabe na máquina de lavar e é feito sem chumbo, uma tendência que é crescente na Europa e que lhe confere mais resistência e elegância. Feito à mão, começou por ser produzido na Eslovénia, mas a pandemia acabou por levar a produção para a Ásia, porque o pequeno país europeu não estava a conseguir dar vazão à procura, explicam os responsáveis do projeto.
Em 2023, Richard e Jancis esperam que as vendas dos copos cheguem às 60 mil unidades, depois de em 2018, quando começaram a comercializá-lo, não tivessem superado as 10 mil. Em Portugal, são comercializados em packs de duas unidades ou individualmente, e têm um valor unitário a rondar os €50. Entretanto, Richard e Jancis já assinam também dois decantadores – um para vinhos jovens e outro para vinhos antigos – e um copo de água (que é basicamente igual ao copo de vinho, mas sem pé).
“As casas estão a ficar mais pequenas, e falamos muito de sustentabilidade. Parece-me sensato ter apenas um copo que sirva todos os vinhos”, continuará Jancis, feroz defensora da descomplicação. “Eu não encontro sentido em comprar uma série de diferentes copos para diferentes vinhos. E devo dizer que tiro o meu chapéu à Riedel pelo que têm conseguido fazer ao mercado”, atira com uma gargalhada.
Questionada pela EXAME sobre se a marca austríaca já se manifestou sobre estas opiniões de Jancis – recorde-se que a especialista assina, desde 1990, uma coluna na edição de fim-de-semana do britânico Financial Times e que as suas críticas têm verdadeiro impacto no mercado dos vinhos, com uma legião de milhões de seguidores em todo o mundo – a Master of Wine sorriu e referiu que não teve ainda “o prazer de falar com Maximilian Riedel” e, portanto, não faz ideia do que pensa o responsável da empresa. E, em jeito de provocação, pede-nos que provemos vários vinhos no seu copo e num outro de uma reconhecida marca de qualidade.
Foram seis os vinhos que experimentámos – espumantes, tintos e brancos – de várias regiões nacionais, e há algo que não podemos negar: tirando no fortificado, que realmente não apreciámos tanto no copo de Richard e Jancis, todos os outros ganharam exuberância nos aromas e nitidez nas cores. Se se tornaram vinhos diferentes? Naturalmente que não, mas a verdade é que fez diferença, particularmente em vinhos que podem ser mais envergonhados.
Se é um apreciador de vinhos, certamente importa-se com o copo que tem em casa para o beber. Se, como eu, não tem armários infinitos para as dezenas de modelos que gostaria de ter – apesar de não achar que seja preciso um copo para cada vinho, adoro beber espumantes em taças, por exemplo, e há copos de Pinot Noir que são quase, quase indispensáveis – este modelo universal pode ser uma boa opção.
Mas, tal como nos vinhos, o importante é encontrar o modelo que mais satisfaz as suas necessidades e gostos. Tudo o resto virá por acréscimo.