Exame
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O copo universal de Jancis Robinson faz 5 anos

Há meia década, a mais respeitada crítica de vinhos do mundo, apresentou um copo desenhado por si e por Richard Brendon ao mercado. Para a britânica, um copo é mais do que suficiente para retirar o melhor de cada vinho

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Sociedade

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Sociedade

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Nem taças nem flutes. Há um copo ideal para beber champanhe, mas não é nenhum dos tradicionalmente usados. Saiba qual é

Ronaldo lança coleção de copos solidários
VISÃO Solidária

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Depois de completarem o financiamento das novas instalações da Casa dos Rapazes, Cristiano Ronaldo e a Pepsi volta a unir-se para ajudarem a instituição

Jornal de Letras
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In vino derivas, XXXIII

Eu e a bebida acabámos! Ela não volta a tratar-me desta maneira...

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Diálogo copofónico

 - Não me digas que estás sóbrio outra vez?

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Deixem os balcões para os solitários!

Mal entro no bar, percebo que estou sóbrio por um traçadinho. Vejo-a quase sem olhar. Dirijo-me devagar para o balcão e sento-me, ganhando espaço entre dois convivas. Ela vê-me. Digo-lhe que estou porreiro com o polegar. E digo-lhe que estou sóbrio. - Estou sóbrio. Ela olha-me interrogativa. Eu sou mais afirmativo. Foi sempre assim. E assim continua esta noite. Há perspectivas que não mudam. Outras mudam.- Somos tão diferentes, agora, que até estamos em lados opostos do balcão. Tu, de pé, a dares copas, e eu sentado, a ver jogar - digo. Ela ignora-me. Lava um copo. Tenho os cotovelos apoiados no balcão e deixo o peso dos ombros afastar um casal que jaz ao meu lado direito.- Estás a ver se limpas o balcão? - pergunta ela- Não, apenas gosto de balcões! - respondo eu.- Deve ser por isso que, no outro dia, o estavas a beijar... - oiço-a dizer.Estou a sorrir. E devo ir-me embora, penso. Mas não vou. Tento recorrer a uma frase nossa. Mas já não é nossa. Ela não diz nada. Eu penso que, afinal, talvez tenha bebido aquele traçadinho. Apesar disso, avanço, confiante.- Dá-me um Jameson, duplo e sem gelo, se fazes favor.Ela não diz nada. Mas eu insisto até a ver servir a bebida num copo alto. Ei-lo. - Tudo o que me deste sempre me fez mal! - digo. Ela irrita-se e fica com um sorriso indiferente. Indiferente. O melhor que faço é ir-me embora, oiço-me dizer. Sim, não estou a pensar, estou mesmo a falar sozinho. O melhor que faço é ir-me embora.Ela atende um cliente e diz qualquer coisa ao patrão, que eu não oiço. Ele olha para mim. Puta! Cabrão! O melhor é ir-me. Mas não me oiço. O que faço é contar o dinheiro que tenho. O amor sempre me fez mal. E sempre me ficou caro, também.- São seis euros! - pede-me ela. - As minhas lágrimas são caras e o teu débito é grande! - cuspo-lhe. Acho que ela não está sequer a ouvir-me. - Estás a ser ridículo. E eu hoje não estou com paciência para as tuas merdas! - diz.Talvez me esteja a ouvir, afinal. Tiro uma nota de vinte euros do bolso, a última, e estico-a sobre o balcão molhado. Menos do que a nota, agora. Ajeito-me e dou mais uma carga de ombro ao casal do meu lado direito, enquanto bebo, de um trago, o Jameson. Duplo. Sem gelo. O desequilíbrio deles faz-me, de alguma forma, sentir equilibrado. Nós somos os infiéis da balança uns dos outros. É assim a vida. O casal reclama qualquer coisa. Eu não respondo. O sal do vómito tempera-me a língua.- Devias passar um paninho neste balcão imundo... - digo-lhe, todo provocação. - Vou deixar que tu o limpes com o casaco ou que o lambas como no outro dia! - responde. O melhor que faço é ir-me embora, penso. Mas o que faço é pedir outro Jameson... - duplo e sem gelo, já sei - diz ela. Nem dei por mim a pedi-lo. - Mas é o último. Não te sirvo mais nada. E é em copo de plástico que já estamos a fechar - diz ela. Eu balbucio qualquer coisa de que não me recordarei amanhã. E alargo a minha presença no balcão. O casalinho foge, finalmente. O dono do bar aparece, como num passo de magia, para pedir que me vá embora.- It's a kind of magic - cantarolo. E riu-me. - Meu amigo, vou ter que lhe pedir que se vá embora... - repete ele. É o melhor que faço. Mas agora não dá. Ele insiste, de forma muito educada, para que eu saia.Tento dizer-lhe que um dia é do copo e o outro do fígado. Mas já não encontro as palavras. Encontro sim o Jameson em copo de plástico e bebo-o até meio. Falta-me ar para o emborcar de uma vez. E lá está o sal a bailar-me na saliva. Ele pede-me que saia, mais uma vez. E eu mando-o à merda.- Vai à merda!Ela aparece, de repente, vinda do nada, para pedir-me que saia. É uma espécie de magia.- It's a kind of magic... - oiço-me cantarolar.E aí ela diz-me para ir com calma.- Vai com calma. E repete. - Vai com calma...Eu vou. Vou com calma. Saio e sento-me numas escadas à entrada de um prédio qualquer, poucos metros abaixo do bar. Não estou bem sentado. A melhor maneira de não cairmos é já estarmos no chão. Sento-me no chão. Vejo-a sair. Não sei há quanto tempo estou aqui fora. Com calma. Com os copos é tudo presente. Podemos até beber pelo passado, mas tudo é presente com os copos. Lá vai ela, toda futuro, com o patrão pelo braço. Puta! Cabrão! Riem e vão com calma, mas em passo apressado. Têm para onde ir. Tenho a boca salgada. E então, lembro-me de alguma coisa e vou à minha vida.