Quando se fala de concursos de dimensão internacional, a organização é tudo. Com três centenas de jurados para gerir, no caso do Concurso Mundial de Bruxelas, as regras são simples e claras para todos os participantes, desde o dia da chegada: primeiro, todos devem andar devidamente identificados com os cartões distribuídos à chegada, durante o check-in do júri. Esses cartões têm o nome do jurado, a bandeira do país a que pertencem e também a indicação da mesa de prova em que cada um se vai sentar. Se for o caso, também é nele que constam os números do autocarro que devem apanhar para as várias atividades que geralmente acontecem antes e depois dos momentos de prova. Esta é uma forma de obrigar as pessoas a misturarem-se com os seus congéneres, sem ceder à tentação de ficar apenas com a comitiva do país a que pertencem – neste ano, havia cerca de 30 jurados de Portugal, o que significa que era difícil não encontrar um no nosso grupo, mesmo que nos esforçássemos.
No dia das provas, cada mesa – com, em média, cinco jurados – tem um presidente, devidamente identificado, que foi selecionado pela organização. É essa a pessoa responsável por confirmar que cada amostra de vinho servida está em condições e é também ela que valida as pontuações finais globais de cada amostra, podendo pedir que os elementos da mesa justifiquem as suas notas. Cada painel de jurados prova, em média, 50 amostras por dia – há, não raras vezes, pelo menos, um vinho repetido a ser enviado para a mesa, o que ajuda a fazer uma espécie de controlo nas pontuações. E, sim, na maior parte das vezes pontuamo-lo de modo diferente (ainda que ligeiramente; um ponto para cima, um ponto para baixo, consoante o que provámos nos entretantos). Primeiro, são servidos os brancos; depois, os tintos, todas as amostras devidamente numeradas e agrupadas por séries. A parte mais divertida? Tentar adivinhar a que país ou região pertence cada uma e apostar com os nossos colegas. A cada vinho que se prova são dadas pontuações: pela nitidez da cor, pela qualidade e intensidade do aroma e do sabor, pelo final de boca… no fundo, pelo equilíbrio global que cada amostra revela. As notas são inseridas num tablet, identificado com o número e a mesa de cada jurado, e automaticamente enviadas para o dispositivo da pessoa que preside à mesa. Depois de agregadas, a mediana define a nota final com que cada vinho vai ser pontuado – as medalhas, de prata, ouro e grande ouro são atribuídas dentro de um intervalo previamente anunciado pela organização.
Neste ano, durante os dias que passei a pontuar vinhos na Croácia, posso dizer-lhe que a minha mesa (onde havia também pessoas da Índia, República Checa, Bélgica e Bielorrúsia) não deu uma medalha sequer a qualquer um dos vinhos provados no primeiro dia – muitos eram italianos e franceses, de regiões tidas como incríveis. No segundo dia, começámos por medalhar com ouro alguns vinhos portugueses – vinhos verdes, todos eles com mais de dois ou três anos –, mas foram os vinhos do México, que provámos nos últimos dias, que mais nos surpreenderam: arrancaram de nós as melhores pontuações, e ninguém acertou no país de onde vinham. Porém, foram um bálsamo para o nosso palato, que estava muito cansado de provar vinhos bastante medianos ao longo de três dias. “Parabéns! Não restam amostras para provar”, é a mensagem com que nos transmitem que o nosso trabalho terminou.