Maximilian J. Riedel é empático, simpático e tem uma facilidade de comunicação indispensável para o cargo que ocupa. Depois de a Riedel colocar o mundo inteiro a beber vinho em copos de pé e feitos à mão, na década de 1970, o representante máximo da empresa austríaca esteve em Portugal a apresentar a coleção ‘Veloce’, lançada há cerca de um ano. Falou à EXAME uns minutos antes de dar início à Riedel Wine Glass Experience em Lisboa, um evento para o qual foram convidados escanções, produtores e especialistas de vinho e jornalistas.
Pela primeira vez na capital portuguesa, Maximilian garante que Portugal é um país importante para a Riedel, sobretudo pelo crescimento potencial que apresenta: com os vinhos nacionais a ganharem cada vez mais quota de mercado, e num posicionamento superior, os consumidores também mudam e a Riedel quer acompanhar. Este ano, espera crescer a dois dígitos no País, cujo mercado equipara ao da Bélgica e da Holanda e que representa, para a Riedel o dobro do da Colômbia.
“Acredito que pode igualar a dimensão do mercado italiano”, refere otimista. Para isso, quer trabalhar cada vez mais perto dos produtores que, diz, são o verdadeiro segredo do seu sucesso. Isto porque Maximilian veio a Portugal apresentar, precisamente, uma linha que contempla nove referências diferentes, cada uma delas “potenciando as castas” de cada vinho: Cabernet Sauvignon, Riesling, Syrah/Shiraz, Pinot Noir/Nebbiolo, Sauvignon Blanc, Rosé, Chardonnay, um copo para Champagne/Espumantes e um copo de água. A Veloce destaca-se ainda por ser uma linha em que todos os copos são mais leves, com um pé mais alto e totalmente feitos à máquina – após vários anos de investigação –, num movimento que não terá retrocesso, garante o CEO da Riedel.
Por uma razão simples: “No futuro não haverá artesãos para os fazer. Assim antecipo uma questão, e consigo diminuir o preço no consumidor”, diria durante a apresentação. “Vocês não conseguem identificar que não são feitos à mão. Estão perfeitos”.
“Ainda não temos nenhum copo específico para castas portuguesas, mas o Alvarinho, por exemplo, é perfeito num copo de Sauvignon Blanc”, garante, explicando que aproveitou os últimos anos para fazer muitos testes com vinhos nacionais. “A especificidade de cada casta vai ser a nosso desafio dos próximos anos”. E Portugal está na lista dos países que se querem destacar. Por isso mesmo, repete, quer os produtores a trabalhar consigo. “Se os produtores portugueses vierem ter connosco, claro que trabalharemos para ter referências que potenciem as particularidades dos vinhos portugueses”. São eles que conhecem os vinhos, as características de cada casta, são eles quem pode indicar que design pode favorecer cada referência.
Maximilian Riedel rejeita liminarmente a opinião de que um bom copo é suficiente para provar vários vinhos – uma ideia defendida por, a título de exemplo, a Master of Wine Jancis Robinson, uma das mais respeitadas críticas de vinho do mundo. “Já lhe vou provar porquê”, atirou em jeito de desafio, indicando-me o início da prova.
À frente de cada um dos presentes estavam quatro copos, com uma gravação na base que indicava a sua melhor utilização: Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Noir e Cabernet/Merlot. Em cada mesa, quatro vinhos, monovarietais das castas referidas. Provámos cada vinho em dois ou três copos diferentes, de forma a que Maximilian provasse o seu ponto.
É verdade que o Sauvignon Blanc soube de forma diferente quando provado no copo de Chardonnay – perdemos-lhe toda a elegância e só sentimos, praticamente, o amargor do final – e também é verdade que o Pinot Noir ganha exuberância no copo ‘certo’.
“Experimentem beber Champanhe num copo de Pinot Noir e vão ver a diferença. Nem faz sentido bebê-lo numa flute”, desafia – já falámos sobre isso aqui.
Durante uma hora, Maximilian contou a história da família enquanto nos guiava pela prova dos quatro vinhos em quatro diferentes copos. Recordou o avô e o pai e o trabalho incansável que ambos fizeram em conjunto com os produtores de vinho do Porto, e salientou o trabalho de Georg J. Riedel (o seu pai) por ter aperfeiçoado a tradição familiar ao criar formatos específicos de copos para cada tipologia de vinho.
“Produzir em máquina estes copos requer um nível muito elevado de precisão e experiência – digo-o sem esconder uma pontinha de orgulho. É extremamente difícil produzir um copo desta qualidade em máquina. Conseguimo-lo graças às competências dos nossos técnicos e aos anos de experiência de produção em série”, realçou o responsável que, garante, não quer que nenhum consumidor parta copos para comprar mais.
Quer, sim, que cada consumidor tenha mais do que um copo em casa para “fazer de cada garrafa uma verdadeira experiência”.
Portugal tem mais de 250 castas autóctones, às quais se juntam todas as outras que qualquer apreciador de vinho gosta de consumir. Na impossibilidade de termos em casa um copo para cada uma delas – até porque ainda não existem fabricados – perguntámos a Maximilian o que pode fazer um consumidor comum que só queira ou só possa ter um ou dois exemplares de cada.
“Escolha o copo adequado à sua casta preferida. E à do seu esposo ou esposa, já agora. Comece por aí”, diz divertido.
A verdade é que copos diferentes permitem experiências diferentes. Se nós consideraríamos ter um copo para cada variedade? Possivelmente não. Talvez para uma casta muito específica de que gostemos muito, e mais por snobismo do que por realmente nos fazer assim tanta diferença. Confirmamos a diferença na experiência e, no caso de alguns profissionais, pode fazer todo o sentido. Nós continuamos, ainda assim, a ser da equipa da Jancis.