Ignorem um mundo em transformação por vossa conta e risco. Foi essa a mensagem do painel de sustentabilidade social e ambiental da conferência das 500 Maiores & Melhores Empresas portuguesas. Mesmo que não seja por convicção, as empresas serão obrigadas a adaptar-se, se não quiserem perder o comboio do dinheiro e da mão-de-obra.
“Há dois tipos de movimento. Aqueles que só querem cumprir as novas regras do jogo e aqueles que veem na sustentabilidade um elemento de transformação para o futuro”, afirma Miguel Cardoso Pinto, EY-Parthenon Leader. “O capital e o talento vão começar a migrar para empresas que procurem long term value [criação de valor no longo prazo]. De empresas que estão apenas preocupadas em entregar valor aos acionistas, para empresas que entreguem valor a mais stakeholders – colaboradores, acionistas, fornecedores, clientes e a sociedade.”
Aparentemente, essa postura tem também impacto no desempenho. O consultor lembrou que a adoção desta agenda está também relacionada com mais hipóteses de alcançar melhores resultados financeiros.
Essa mesma lógica foi sublinhada por Rui Minhós, diretor de assuntos institucionais de Portugal da Tabaqueira. “Tem de haver uma estratégia de negócio responsável. As empresas existem para dar dinheiro e gerar lucros. Até uma instituição de caridade tem de ter receitas”, apontou, na conferência organizada pela Exame, com o apoio do Bankinter, Tabaqueira e dos knowledge partners Informa D&B e EY. “Estas transformações existem para as empresas continuarem a ser competitivas e a gerar valor.” Mas não só.
No caso da Tabaqueira, integrada na multinacional Philip Morris, isso significou o início, em 2015, de uma estratégia de abandono progressivo de um modelo de negócio, concentrando-se mais na venda de tabaco aquecido e, eventualmente, em deixarem de vender sequer cigarros. Para exemplificar o compromisso da empresa com essa transformação, Rui Minhós cita o encerramento de fábricas de tabaco e uma aposta na diversificação sem que isso se reflicta, para já, em peso nas receitas.
Durante um processo de transição tão drástico como aquele que estamos a viver, as organizações cometem muitos erros. Seja demorarem muito tempo a iniciar as mudanças ou fazê-las de forma errada. Contudo, Miguel Cardoso Pinto diz que o erro com que mais se depara é a ideia de que uma estratégia de sustentabilidade existe como algo à parte. “Um dos erros é que é uma coisa separada. Sendo provocador, não existe uma estratégia de sustentabilidade. É preciso uma estratégia para a organização e ela tem de ser sustentável. Antes também se falava de uma “estratégia digital” e eu perguntava “então qual é a outra?” Aqui é a mesma coisa.”
A exigência dos investidores, dos governos, dos reguladores, dos clientes e dos trabalhadores está a empurrar algumas empresas para mudarem a sua atuação, garantindo que a sua atividade resiste à evolução dos tempos, através de estratégias ambientalmente mais responsáveis ou com maior intervenção ou cuidado social. O longo prazo deve estar integrado no coração das decisões.
Claro que nem todas terão capacidade financeira para se lançarem de cabeça neste novo mundo. Basta pensar que a esmagadora maioria do tecido empresarial português é feito de pequenas e médias empresas, com margens de tesouraria muito estreitas. O que dizer a essas?
“Os motores de transformação são as grandes empresas, mas as pequenas serão obrigadas a cumprir as regras das grandes e a regulação se quiserem continuar em jogo. Terão oportunidade de participar”, acrescenta Miguel Cardoso Pinto. “O nível de disrupção a que estamos a assistir não tem paralelo e a velocidade, sendo exponencial, obriga a transformações.”
E o talento, cada vez mais difícil de atrair e de manter, obriga a que as empresas tenham atenção a todos estes temas e a uma postura de sustentabilidade alargada, que vá para além da questão ambiental. Rui Minhós lembrou, no caso da Tabaqueira, o esforço por uma política de diversidade e inclusão, até para acomodar todas as nacionalidades que ali trabalham.