Guardamo-las, por norma – e eu nunca entendi porquê – para aniversários, Natal e passagens de ano, mas não nos ocorre beber um bom vinho espumante como aperitivo ou para acompanhar uma refeição. E não confundamos um bom espumante com o costumeiro vinho frisante com que teimamos acompanhar o leitão, quando um dia se convencionou que devia ser essa a combinação perfeita.
Ora, num País que tem produzido tão bons espumantes, parece-me redutor guardar as garrafas, e as várias referências, apenas para ocasiões super especiais. Entendo se estivermos a falar de uma garrafa de Champagne – e aí perdoem-me os amantes dos nossos brilhantes espumantes da Bairrada, mas ainda nos falta palmilhar significativamente para chegar aos calcanhares de um belíssimo champagne francês –, até porque geralmente representam um investimento maior, mas por que não criar o hábito de optar por um bom espumante, de quando em vez?
Até porque, pensemos sobre o assunto, isso aumenta de forma exponencial as nossas opções, que deixam de estar confinadas aos vinhos tintos e brancos com geralmente selecionamos para cada momento.
Havemos de voltar à Bairrada em breve para falar de alguns projetos que merecem a nossa atenção – aquilo que Luís Gomes tem feito com o Giz é exemplo disso – mas hoje trazemos uma espécie de solução de compromisso que fica ali entre a Bairrada e Champagne.
Os Crémant du Jura, uma Denominação de Origem Controlada francesa, cuja produção fica pouco atrás, em termos de qualidade, dos vinhos da região de Champagne, devem ser tidos em conta quando se pensa num espumante para ter à mesa. Este em particular, o Indigène, é produzido pela família Tissot, que se dedica à vinificação há várias décadas. Um vinho de agricultura biológica – garantiu o certificado biodinâmico há praticamente 20 anos – que se destaca pela cremosidade típica dos vinhos espumantes desta região, e pelos aromas a pêssego e flores.
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Deve o seu nome às leveduras indígenas utilizadas no processo de fermentação, que substituindo as leveduras industriais obrigam a uma refermentação de 9 meses, ao invés dos industriais 2. Mas é também graças a esta opção que o vinho se torna muito mais delicado, com uma gordura que lhe confere elegância e um final de boca suavemente prolongado.
A acidez garantida pelo calcário dos solos e a altitude que varia entre os 250 e os 400 metros acima do nível do mar, equilibram perfeitamente a doçura que teima em aparecer logo no nariz. Como aperitivo ou para acompanhar uma refeição leve como marisco, massas ou saladas, é uma escolha segura e divertida.
Um espumante que, em Portugal, pode ser comprado por cerca de €30, e que abre a porta às outras referências da família Tissot, conhecida por engarrafar vinhos praticamente parcela a parcela.
Uma boa opção para os dias que ainda se sentem quentes, e para celebrar à chegada de desejáveis tempos melhores.