Nuno Correia e Carla Gomes são os líderes da equipa nomeada para o prémio de inovação do Instituto Europeu de Patentes (IEP). A criação de um sistema de tração para centrais solares flutuantes, que permite acompanhar a rotação do sol, e assim maximizar a captação de tal fonte energética, pôs esta equipa de engenheiros no grupo finalista para a atribuição do Prémio Europeu do Inventor deste ano.
Tal sistema permite a constituição de “ilhas” flutuantes com painéis fotovoltaicos que seguem a rotação do sol, captando 40% mais energia do que as tradicionais soluções estáticas. Além do mais, “é neutro em carbono, não ocupa espaço em terra, impede o crescimento de algas e preserva os recursos hídricos”, garantem os seus autores. Atributos que vão de encontro à desejada transição mundial para a neutralidade carbónica, uma vez que ao não ocupar espaço em terra, liberta terreno passível de ser usado para fins agrícolas, compensando assim a perda de solos afetados pela poluição ou a natural erosão.
Isto mesmo sublinhou António Campinos, presidente do IEP, no momento em que anunciou o grupo de finalistas: “Esta invenção é um excelente exemplo de como a tecnologia pode ajudar a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e contribuir para uma utilização mais sustentável dos recursos da terra, ao mesmo tempo que encoraja o investimento em energias renováveis em larga escala.”
Parceria entre a academia e indústria
Os engenheiros Nuno Correia e Carla Gomes desenvolveram esta invenção no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) no Porto. Ele é, desde 2006, diretor da unidade de Materiais e Estruturas Compósitas do Instituto; e ela, além de ser gestora de projeto de engenharia de polímeros, iniciou recentemente funções também na CorPower Ocean, uma empresa líder no desenvolvimento de tecnologia para aproveitar a energia das ondas.
Mas foi a empresa SolarisFloat , que procura “soluções novas e tecnologicamente inovadoras para fins energéticos”, que contratou esta equipa para criar um sistema flutuante de painéis fotovoltaicos capaz de seguir o sol e produzir maior quantidade de energia solar. É esta empresa que tem a propriedade da patente.
Nuno Correia admite que a propriedade da patente foi fundamental para o desenvolvimento do projeto: “Creio que ninguém teria investido o dinheiro que eles investiram sem uma patente”.
Ao projeto chamaram Protevs: as ilhas flutuantes são suportadas por “um sistema de tracking a dois eixos”, projetadas para serem ecologicamente amigáveis e não causar qualquer impacto negativo no ecossistema. A empresa, do grupo JP, é que irá comercializar esta inovação. No seu site, diz-se “preparada para liderar a inovação em energia fotovoltaica flutuante” e considera “expectável que este mercado cresça mais de 24% até 2030”.
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O principal mercado será provavelmente a Europa, mas poderá também ter parceiros na India e na América do Sul, com destaque para o Brasil, que alberga um dos maiores reservatórios de água do mundo, atualmente usados para gerar energia hidroelétrica. Mas estas centrais flutuantes “poderiam fornecer 80% da energia do país, se cobrissem 8 % da área em 165 grandes reservatórios”, garantem os seus autores.
A Solaris Float considera ainda desenvolver uma solução para o alto mar.
Reduz a evaporação da água
Com 38 metros de diâmetro, cada “ilha” contém 180 painéis fotovoltaicos que vão rodando de forma autónoma em torno de um ponto central com a ajuda de motores elétricos. Para já, este sistema foi “concebido para ser usado em águas relativamente calmas, como lagos e albufeiras”. Um anel exterior preso por cabos e âncoras permite que se mova verticalmente até 30 metros, acompanhando assim o nível das águas. Usando materiais reciclados, pode ainda voltar a ser reciclado no fim de vida.
Durante a investigação, outros benefícios foram descobertos, como o de diminuir a evaporação da água. “Ao produzir sombras e atuar como um corta-vento, a plataforma baixa a temperatura da água e reduz a evaporação até 60%. A água fria retém mais oxigénio dissolvido do que a água quente, o que ajuda os organismos aquáticos a florescer e reduz o crescimento de algas de superfície. Reduzir a evaporação também pode ajudar a mitigar a escassez de água”, lê-se no comunicado.
Os efeitos deste processo inovador estão agora a ser avaliados num projeto piloto com um consórcio liderado pela Organização de Investigação Científica Aplicada dos Paises Baixos.
Vencedores anunciados a 21 de junho
Promovido pelo IEP, o Prémio Europeu do Inventor é um dos mais prestigiados. A equipa liderada por Nuno Correia e Carla Gomes é uma das quatro finalistas na categoria PME’s, que reconhece “inventores excecionais em pequenas empresas com menos de 250 empregados e um volume de negócios anual até 50 milhões de euros. Há ainda mais três categorias: Indústria, Investigação e Paises não Europeus.
Os vencedores da edição deste ano serão anunciados numa cerimónia virtual a 21 de junho
Este ano, e pela primeira vez, o IEP irá encorajar os mais novos com o Prémio Jovens Inventores. Este oferece uma recompensa monetária aos três finalistas que encontrem soluções criativas para os desafios urgentes do desenvolvimento sustentável.