Na conferência Portugal em Exame deste ano regressou a rubrica “Gerir em Português” em que gestores estrangeiros contam como tem sido a sua experiência em Portugal. A conclusão dos participantes deste painel, que decorreu esta quinta-feira, é que Portugal é um País com imenso potencial, mas que ainda tem alguns pontos para melhorar de forma a aumentar os seus resultados. Isto apesar de nos últimos anos se ter notado um trabalho de afirmação da imagem de Portugal, como sublinhou Roberta Medina. A vice-presidente do Rock in Rio afirmou que quando chegou ao País, há 18 anos, a imagem de Portugal estava “desatualizada”. Mas, desde então, nota que tem havido muito trabalho por parte de empresas e figuras públicas que têm melhorado a imagem de Portugal lá fora. “Evoluímos imenso nesse olhar”, refere.
No entanto, o País ainda é mais associado à qualidade para se viver do que propriamente a ser um bom local para fazer negócios. Roberta Medina nota que “gerar negócio em Portugal é ainda um grande desafio”. Na relação para o Brasil observa que “vem muita gente morar para cá pela qualidade de vida mas não tanto para fazer negócios”. A facilidade de adaptação em Portugal foi também um dos pontos fortes destacados por Steven Braekeveldt. O CEO do grupo Ageas Portugal, que já viveu em países na Ásia e na América do Sul, não tem dúvidas em afirmar que “Portugal é o país mais fácil na adaptação e para se viver, muito por causa das pessoas”. Mas este ponto forte, pode ser também um calcanhar de Aquiles: “Os portugueses são as pessoas mais simpáticas na Europa, mas são também as mais simpáticas a fazer negócios e isso é prejudicial”.
Segundo os participantes deste painel, ainda há muito trabalho a fazer para melhorar a economia nacional. “Temos alguns desafios na nossa economia, desde a carga de IRC, aos custos de eletricidade e à falta de produtividade”, diagnostica Markus Kemper. O presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso-Alemã nota ainda alguma “insegurança dos empresários portugueses”, que têm ainda receio de internacionalizar. Considera que esta aversão ao risco é uma “questão cultural” e que “há muitas coisas a fazer”, já que o “mercado está lá fora e não cá dentro”. Será uma questão de falta de autoestima e de ambição? Roberta Medina nota que pode ser esse o caso, apesar de ressalvar o perigo de se generalizar. Mas a gestora afirma que começa a ver uma “grande mudança nas gerações mais jovens, que têm muito mais confiança e são mais positivas”.
Steven Braekeveldt nota que Portugal é um “exportador líquido de talento” e salienta que se fosse um jovem português também iria para o estrangeiro, já que poderia ter um salário três a quatro vezes mais elevado que em Portugal. No entanto, Markus Kemper defende que apesar de “acharmos que somos um país de mão de obra barata, já não o somos e se conseguimos produzir bens de valor acrescentado temos de os saber vender lá fora”.
Outro ponto que, na perspetiva do presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso-Alemã, deveria ser melhorado está relacionado com a educação. Para melhorar a produtividade, Markus Kemper recomenda seguir a receita alemã do ensino dual: “É uma triangulação quase perfeita entre os jovens, as empresas e as escolas de formação e o grande responsável para que a taxa de desemprego dos jovens na Alemanha seja idêntica à das outras faixas etárias”.
Além da formação mais virada para a necessidade das empresas, há outro fator, que segundo Steven Braekeveldt, poderia ajudar a aumentar a eficiência e criatividade. O CEO do grupo Ageas Portugal recorda que quando veio para Portugal teve de explicar às pessoas que nunca estudou medicina. “Toda a gente me tratava por doutor”, contou. O gestor considera que o discurso dos “doutores e engenheiros” nas empresas “mata a transparência e a inovação”. Observa que “há demasiadas camadas e perde-se muito tempo, existindo também uma ideia errada entre o que é a liderança e a função. Há muitas pessoas que têm a função e não são líderes e existe demasiado respeito pela hierarquia”.