Em tempos de turbulência na Luz, a SAD do Benfica conseguiu cumprir o objetivo de se financiar em 35 milhões de euros, através de obrigações que terão de ser reembolsadas em 2024 e que pagam um juro ilíquido de 4%. No entanto, o valor da procura e o número de investidores foram os mais baixos dos últimos anos, o que indicia danos na confiança causados pela crise vivida pelos encarnados. Participaram apenas 1887 investidores, um valor bastante abaixo da média de 4800 registada entre 2015 e 2020.
Já com a operação a decorrer, o então presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, foi detido no âmbito da operação Cartão Vermelho, que investiga crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento. O antigo líder do clube ficou em prisão domiciliária até ao pagamento de uma caução. Foi substituído por Rui Costa e acabaria por renunciar ao cargo. Essas investigações levaram o regulador do mercado de capitais, a CMVM, a alertar os investidores para o riscos e incertezas da oferta de obrigações, assim como para a “opacidade” da estrutura acionista, devido ao acordo feito por José António dos Santos para vender mais de 20% da SAD ao empresário americano John Textor.
Apesar da pressão e da incerteza, a SAD conseguiu concluir este empréstimo obrigacionista, que é essencial para reforçar a liquidez do Benfica após ter reembolsado quase 20 milhões de euros em títulos de dívida que venceram no mês de julho. Além disso, a SAD diz também que usará o encaixe para “diversificar fontes de financiamento” e desenvolver a atividade corrente.
Esta operação era crítica para o Benfica, mais ainda porque não é certo que o clube consiga aceder aos milhões da Liga dos Campeões, tendo de disputar uma pré-eliminatória contra o Spartak de Moscovo e, em caso de vitória, a ter ainda de enfrentar um play off. Mas, apesar de o objetivo ter sido cumprido, os números da operação mostram como a imagem do clube da Luz foi abalada junto do mercado.
A procura na emissão ficou apenas 179 mil euros acima do montante em oferta e ficou bem abaixo do que aconteceu em emissões anteriores. Em alguma delas o interesse era de tal ordem que chegou a haver uma revisão em alta do valor a emitir. Foi o caso da emissão do ano passado em que o montante foi revisto em alta de 35 milhões para 50 milhões de euros.
A SAD encarnada enfrenta um calendário pesado de amortizações de dívida. Em maio do próximo ano terá de devolver 40 milhões aos investidores e em 2023 vencem obrigações no valor de 50 milhões de euros.