Arranca hoje a terceira prova da temporada de 2021 de Fórmula 1 e todas as equipas já estão de regresso a Portimão, onde os pilotos se têm dedicado a fazer o reconhecimento da pista durante os últimos dias. No entanto, o facto de o acesso às bancadas do Autódromo Internacional do Algarve (AIA) estar vedado ao público, e de as regras da DGS terem obrigado a um confinamento mais restritivo em Portimão, está a preocupar os empresários da região.
A prova, que teria um impacto potencial de pelo menos €27 milhões – considerando os números divulgados pelo promotor da prova, relativos ao GP do ano passado –, deverá trazer desta vez um retorno bastante menos significativo. Porém, segundo Rita Marques, secretária de Estado do Turismo, uma vez que não há público, os custos com a organização, apoiada pelo Estado, também deverão ser menores. Em 2020, aquelas despesas fixaram-se nos €9,4 milhões, segundo os dados do Relatório de Execução, a que a EXAME teve acesso e que divulgou em março passado.
Questionada pela EXAME sobre se a ausência de público implicaria um reforço do investimento público na prova – estimado em €1,5 milhões –, a governante afirma apenas que “os custos atinentes à organização da prova serão seguramente mais reduzidos, tendo em conta que a logística da mesma será substancialmente mais simples”, e que “as negociações entre a Secretaria de Estado do Turismo e a F1 prosseguem nesta altura por forma a melhor adaptar o acordo firmado às condições nas quais a prova se irá desenvolver”.
Recorde-se que Paulo Pinheiro, administrador da Parkalgar, que gere o autódromo, referiu que o contrato negociado com a FIA – protegido por cláusulas de confidencialidade, o que impede que seja público o verdadeiro custo de trazer o GP para Portimão – implicaria sempre um “patamar de conforto” a ser assumido pelo Executivo. No entanto, nenhuma das partes esclareceu à EXAME qual seria esse patamar.
Rita Marques garantiu esta quinta-feira que “o promotor esteve sempre em contacto com as entidades competentes e com as diferentes áreas do Governo, tendo sido informado da impossibilidade de presença de público oportunamente. Será de recordar que o concelho de Portimão foi um dos quatro concelhos que não avançaram para a terceira fase de desconfinamento, decisão conhecida a 15 de abril”, justificou.
Desde que houve a confirmação de que não seria possível ter público no AIA, a EXAME tentou, sem sucesso, contactar Paulo Pinheiro para esclarecer as questões relativas aos custos, receitas estimadas e apoios públicos.
Hotéis animados, mas não muito
“Manteve-se até relativamente tarde – até há três semanas – a esperança de que pudesse haver algum público” na prova, diz, por seu lado, Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé. “Temos uma realidade que é a do hotel em Lagos, que é o mais impactado positivamente por este tipo de eventos. No ano passado, quando houve o Grande Prémio [em outubro] o hotel esteve praticamente cheio. Este ano a ocupação está nos entre 40% a 50%. E isto porque tínhamos contratos com os teams e ainda mantivemos algum negócio, mas diria que metade do que seria suposto…”, justifica.
“O setor está tão mau, tão mau, que qualquer coisa já me deixa todo contente!”, admite ainda o responsável, explicando que se tivesse esta taxa de ocupação num abril pré-pandemia “seria simpático mas não fazia grande diferença em termos de resultados”. Este ano, e depois de um 2020 onde a atividade se resumiu a sete semanas, uma ocupação de 50% em abril é significativo, nota.
O gestor aproveitou ainda para salientar que apesar de tudo é difícil estimar o real impacto de um GP de F1, realizado em “condições normais”, uma vez que esta nunca foi a realidade em Portimão. No ano passado, apesar de haver público nas bancadas, a lotação estava reduzida por determinação da DGS e a própria FIA já tinha regras apertadas para cada prova.
Por isso mesmo, continuou o responsável do grupo hoteleiro, “isto para valer a pena e para justificar, tem que ser realizado em condições normais, e pode ter um impacto muito significativo para a região”. Nessa altura, “a expetativa é que esse impacto chegue a outras cidades e zonas do Algarve, como Vilamoura, Albufeira e que possa beneficiar mais unidades hoteleiras, mais restaurantes, mais negócios… Estes eventos fazem sentido do ponto de vista de alguma continuidade e da notoriedade que vem ao longo do tempo”, alerta. “Eventos destes, one shot, têm um impacto forte de dois ou três dias, mas não salvam o ano. São bons do ponto de vista da promoção, mas tanto melhores quanta continuidade tiverem…”
No mesmo sentido, o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) defende que “o que havia de se garantir era o evento ter continuidade nos anos vindouros, assegurar que não sai. É um evento para o qual não pode haver aposta só para um ano ou dois. Não tenho conhecimento de que estejam a decorrer negociações [nesse sentido].”
Elidérico Viegas acredita ainda que “houve algum excesso de zelo – embora se compreendam as razões e os motivos que levaram as autoridades a não permitirem público –, tendo em conta a dimensão e a possibilidade de garantir as regras de segurança” e, tal como Rebelo de Almeida, salienta que este ano a prova “terá um impacto naturalmente mais reduzido, limitado à estadia das equipas, sponsors, jornalistas. É importante para os hotéis e empreendimentos da área de influência do autódromo. Não é o mesmo impacto que teria se pudesse ter havido público”.
A Secretária de Estado do Turismo recorda, por seu lado, que “como era do conhecimento de todos, o calendário previsto para as diferentes fases de desconfinamento poderia ser alterado atendendo a determinados critérios epidemiológicos de definição de controle da pandemia e ainda considerando a existência de capacidade de resposta assistencial do Serviço Nacional de Saúde, o que acabou por acontecer no concelho de Portimão”.
E questionada sobre se os empresários vão ser compensados pelo facto de as restrições impedirem a presença de mais pessoas na região, Rita Marques é perentória: “O Governo continuará a disponibilizar instrumentos de apoio às empresa do setor do turismo, compensando a ausência de faturação por motivos que se prendem com as restrições à mobilidade por todos conhecidas”. Que é como quem diz, não deverá haver qualquer apoio específico para este caso em particular.
Por esclarecer fica também se estará a haver negociações para colocar Portugal no calendário da F1 em 2022, numa altura em que vários circuitos já garantiram contratos com a FIA, como é o caso de Miami, Spielberg, Hungaroring, Zandvoort ou Melbourne.
Apesar de alguns destes destinos terem contratos plurianuais – como é o caso de São Paulo ou da Cidade do México – a pandemia obrigou a alterar o calendário da FIA, nas últimas duas temporadas, o que permitiu a países como Portugal voltar a receber o ‘Grande Circo’.
No entanto, não há qualquer informação relativa a um possível regresso de Portimão ao calendário de 2022, apesar de ser um dos circuitos mais aplaudidos pelos pilotos.
Esta sexta-feira, 30 de abril, o AIA recebe os treinos livros dos 20 pilotos de F1, seguidos da qualificação, no sábado, e da prova no dia 2 de maio. No entanto, e tal como aconteceu na última prova da temporada, em Imola, Emiglia-Romagna, desta vez os fãs da modalidade só vão mesmo poder acompanhar esta etapa através dos canais oficiais: a Eleven, em Portugal, ou o site oficial da Fórmula 1.
Com Lewis Hamilton, da Mercedes, de olho na 100.ª pole position da sua carreira e Max Verstappen, da Red Bull, concentrado em dificultar a vida ao piloto britânico, este fim-de-semana promete uma prova particularmente renhida no Autódromo do Algarve.