A economia portuguesa deverá recuperar do tombo provocado pela crise pandémica na segunda metade de 2022, segundo o cenário base do Banco de Portugal. Os economistas da instituição reviram em alta as previsões para a evolução do PIB e do emprego no médio prazo. Isto assumindo que “as restrições serão gradualmente levantadas a partir do segundo trimestre de 2021” e que “a implementação de uma solução médica eficaz estará concluída até ao início de 2022, em paralelo em Portugal e na área do euro”.
O Banco de Portugal prevê agora um crescimento de 5,2% do PIB em 2022, acima da estimativa anterior de 4,5% feita em dezembro. Para 2021 e 2023, as projeções ficaram inalteradas em 3,9% e 2,4%, respetivamente. Já a estimativa para a taxa de desemprego melhorou para todos os anos da projeção.
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, destacou, na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico, que houve uma “resistência muito significativa” do emprego. E salientou que, apesar da crise, houve uma preservação do rendimento disponível, que cresceu 0,6%. Explicou que este fator poderá ser uma das explicações para a subida da carga fiscal, que aumentou no ano passado para 34,8%, um novo recorde, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
A instituição nota ainda resiliência do lado das exportações de bens: “A recuperação das exportações reflete a dinâmica favorável da procura externa de bens e da recuperação mais gradual do turismo e dos serviços relacionados. As exportações de bens e serviços crescem 13,7% em 2021, 11,5% em 2022 e 5,3% em 2023. Por seu turno, as exportações de bens crescem 15,1% em 2021 – ultrapassando as de 2019 – e aumentam 4,9% e 3,2% em 2022 e 2023”.
Os cenários alternativos e o papel da poupança
Apesar da melhoria de algumas previsões de médio prazo para a economia portuguesa, o Banco de Portugal continua a ressalvar que a incerteza sobre estas estimativas é elevada. E volta a apresentar cenários alternativos para a evolução da economia, caso a pandemia evolua melhor ou pior que o esperado.
No cenário favorável, o PIB poderia crescer 4,7% este ano e 5,4% em 2022. Isto caso “o melhor controlo das infeções e o levantamento mais rápido das medidas de contenção” levem a uma “redução da incerteza e num aumento da confiança dos agentes económicos”.
Já partindo de pressupostos mais adversos, a economia apenas recuperaria 1,6% em 2021 e 3,2% no próximo ano. Isto porque “o surgimento de novas variantes permanece uma ameaça, podendo traduzir-se em novos períodos de confinamento e restrições à circulação entre fronteiras ao longo de 2021”.
Mário Centeno salientou que “os riscos existem”. E diz que, contrariamente às anteriores projeções, já não estão centrados apenas na evolução da crise da pandemia. Após a taxa de poupança ter subido no ano passado para 12%, os economistas do Banco de Portugal contam com a utilização desse dinheiro colocado de lado durante a crise seja usado para o consumo. Os economistas da instituição incluem na sua análise que a taxa de poupança regresse aos valores de 2019 em 2023 (6,8%). Mas, avisa o governador do Banco de Portugal, “se a taxa de poupança for mais moderada, poderemos ter uma recuperação mais lenta”. E realça que “não seria a primeira vez que as crises estivessem associadas a alterações estruturais das famílias e redução mais lenta da taxa e poupança”.
Ainda assim, o cenário central do Banco de Portugal é que, com o levantamento gradual das restrições e a redução da incerteza, o crescimento do consumo privado reflita “a evolução favorável do rendimento disponível real das famílias e a manutenção de condições benignas de financiamento”. Assim, os economistas da instituição projetam que o consumo privado cresça 2,0%, 4,8% e 2,3% em 2021-23, sendo a recuperação mais lenta nos serviços que exigem interação social. E preveem que a recuperação do consumo seja “reforçada pela tendência descendente da taxa de poupança no horizonte de projeção”.