A história das empresas que nas últimas décadas produziram ou montaram brinquedos a partir de Portugal faz-se de carrinhos, de barcos, de aviões, de bonecas, de peluches, de máquinas de lavar, frigoríficos ou fornos de brincar, mas também dos primórdios, da folha de flandres e do arame, até à baquelite e à borracha, passando pela liga metálica de zamac até chegar ao omnipresente plástico. De empresas familiares (a grande parte) até às multinacionais, que entravam diretamente no mercado ou através de sócios portugueses. E de centenas ou milhares de trabalhadores que trabalhavam para brincar.
Hoje, perceber esse percurso passa também, e sobretudo, pelos círculos de colecionadores, pelas feiras e museus da especialidade e pelos sites de venda de produtos em segunda mão, como o OLX, onde vão parar muitas memórias de infância. “Se hoje encontrar brinquedos da JAJ [José Augusto Júnior] valem uma pipa de massa”, alerta Júlio Penela, bisneto de José Augusto Júnior, o artesão que a partir de Alfena foi precursor do que viriam a ser duas das poucas marcas portuguesas tradicionais de brinquedos que ainda resistem, a PePe e a Jato (ver texto principal) e que vivem sobretudo do mercado da saudade e da lusitanidade.
Brintói, Luso-Toys, Jamba, Minibri ou Radar são hoje marcas que também só se recordam nesses círculos ou na memória de quem, nas décadas de 1970 ou 1980, por exemplo, recebeu pelo Natal uma boneca Tucha ou um boneco Gavi, brincou aos cowboys com uma pistola de plástico da Osul, levou para a praia (ou para a banheira…) um barquinho da Fanabri ou teve a sorte de ter uma miniatura à escala, da Luso-Toys ou da Vitesse.
Nas próximas linhas, abrimos o baú (ou fazemos, como agora se diz nas gerações mais recentes, uma espécie de unboxing) do que foi uma indústria dos brinquedos com mais ou menos made in Portugal – já que não é certo, em todos estes casos, que os seus componentes cá tenham sido produzidos na íntegra. Ainda assim, é o retrato de uma época em que no País ainda se trabalhava para brincar.
Minibri
Criada na Maia em 1986, a Minibri – Indústria de Brinquedos, Lda. fabricou miniaturas de carros de metal. A empresa terá sido extinta no início da década de 2000, fornecendo até aí a francesa Norev e vendendo com marcas próprias como Vitesse – hoje propriedade da Macau Sky Star Toys Company Limited –, SM Super Models, Retro Vitesse, Onix, Quartzo, Victoria ou City. Era detida através da Cinerius, criada por sócios portugueses e franceses em 1982, que tinha ainda participação numa empresa de moldes (Compasso) e numa de serigrafia (Seridecal). Parte da produção chegou a ser feita na China.
Steiff
A Steiff – Brinquedos, sediada em Oleiros e detida pela alemã Margarete Steiff, GMBH, fabricava em Portugal mais de 100 mil ursinhos de peluche por ano. Criada em 1993, a empresa durou duas décadas no País até que fechou portas em 2013, em plena altura de intervenção da Troika. Deslocalizou então a produção para a Tunísia, deixando 103 pessoas no desemprego, na sua maioria mulheres. A câmara local ainda apelou a Angela Merkel para que impedisse o fecho, mas sem sucesso. Cada urso de peluche chega a custar 300 euros, no caso das edições limitadas e em leilões atinge valores na ordem dos milhares de euros.
Fanabri/Gulliver
Criada em 1987 na Marinha Grande e com atividade suspensa desde 1993, a Fanabri – Fábrica Nacional de Brinquedos era detida em praticamente 50% pela brasileira Gulliver – Manufacturas de Brinquedos, S.A., (fundada em 1969 por um espanhol), a que se juntavam sócios portugueses. A empresa produzia para venda no País, entre outros, miniaturas de barcos e carros fabricados em plástico (vendidas avulso), bem como figuras, veículos de combate, armas e acessórios da gama S.O.S. Commandos, além do jogo de futebol de mesa Onze, adaptado neste caso aos principais clubes portugueses.
Brintói
Conhecida sobretudo por marcas como Tucha (“A boneca que faz o que tu fazes”, que foi produzida nas versões mergulhadora ou alpinista e por isso apelidada muitas vezes de “barbie portuguesa”), Sandra (a boneca que andava e movia a cabeça “sem pilhas”), ou Gavi (o boneco que “toma biberão e faz xixi”), a Brintói – Sociedade Produtora de Brinquedos, S.A. foi fundada em 1976 na Figueira da Foz. Os brinquedos chegavam ao mercado através da participada Jugal – Sociedade Nacional de Brinquedos. Suspendeu a atividade em 1993. Comercializava ainda bonecos de chiar como Topo Gigio ou Abelha Maia.
Radar
A Fábrica de Plásticos Radar, Lda. produzia miniaturas de carros, barcos e utensílios domésticos em plástico, além de bolas de futebol. Foi criada em 1965 na Maia pela família Vilas Boas e está atualmente dada como extinta. Outras fábricas de plásticos também se adaptaram à produção de brinquedos, casos das algarvias IPAF ou Faplastal (surgidas em 1958 e 1972, em Faro) ou a fábrica de pentes Ribeirinho, de Guimarães, que em determinada altura produzia “bonecas, berços, carrinhos, cornetas, guizos”.
Osul/Metosul
A fábrica de plásticos Henriques & Irmão (ou Luso-Celulóide), criada nos anos 1940, em Espinho, iniciou-se mais tarde no fabrico de brinquedos. Aqueles que eram produzidos em plástico levavam a marca Osul (pistolas, miniaturas de carros e também de eletrodomésticos como máquinas de lavar, fornos ou frigoríficos), a que se viria a juntar a marca Metosul, aplicada aos brinquedos em metal, essencialmente miniaturas de carros como camiões e táxis. A atividade da empresa está atualmente dada como extinta.
Luso-Toys
A Nelson & Dias da Rocha, que detinha a Luso-Toys, fábrica portuguesa de miniaturas, foi constituída três meses depois do 25 de Abril de 1974 em Gueifães, Maia, no mesmo local que é hoje indicado como sendo a sede da Minibri. Nos anos 1970 e 1980, a empresa da Maia vendeu, sob a marca Luso-Toys, modelos em plástico e, mais tarde, em zamac (liga metálica de zinco, alumínio, magnésio e cobre), para carros clássicos, de rali e Fórmula 1. A insígnia foi aplicada também a jogos de tabuleiro como O Tesouro ou o Jogo do Rallye.
Jamba
A marca, cujo logótipo está associado à imagem de um elefante, foi criada pela UPLA – Fábrica Universal de Plásticos Lda., fundada na Marinha Grande em 1956. Entre os artigos Jamba fabricados estão desde carros e bonecos a pistolas e esporas de cowboy, comboios, gaitas e até baloiços de corda. Além da marca Jamba, a empresa também vendia brinquedos com a insígnia própria, UPLA. Em 1997, a UPLA fundiu-se com a Grandarte, dando origem à Grandupla – Fábrica de Plásticos, SA, que viria a enfrentar a insolvência em 2012.
(artigo publicado na edição 440 da EXAME, de dezembro de 2020)