Portugal deve apostar na formação contínua da sua mão de obra, além de aproveitar as suas condições naturais, e na criação de um enquadramento favorável à atração de imigrantes qualificados que queiram trabalhar e investir no País. Estas foram algumas das ideias defendidas para posicionar a economia portuguesa no pós-pandemia, deixadas durante a sessão promovida pela EXAME e pela Ageas Seguros onde se analisaram os novos caminhos das empresas e as formas de devolver confiança à economia.
“A pandemia tem um lado bom: muitas pessoas podem escolher onde viver, separadamente de onde trabalhar,” argumentou Pedro Santa Clara. Para o professor na Nova SBE, o País deve adotar uma “política de imigração razoável” que permita atrair estudantes, startups, centros de referência de empresas, trabalhadores freelancers e reformados, ao ritmo de 100 mil pessoas por ano na próxima década, além de alterações na regulação e nos impostos para trazer capital externo.
“Portugal tem vantagens, pode-se estar aqui numa quinta do Douro, no Algarve, na Costa Vicentina ou na Figueira da Foz e trabalhar para todo o mundo,” considerou o presidente do ISQ, um dos participantes numa das mesas redondas do evento. Pedro Matias apontou ainda a presidência do Conselho da União Europeia, no primeiro semestre do ano que vem, como um momento único para Portugal dar um impulso à economia digital.
Durante a sessão, realizada online e durante a qual foi também apresentado o prémio Inovação em Prevenção, iniciativa da Ageas Seguros e da EXAME, Rui Leão Martinho defendeu a necessidade de uma “formação permanente” dos portugueses. Uma opinião do bastonário da Ordem dos Economistas secundada por Jorge Marrão, que afirmou ser necessário operar essa transformação ao nível das competências para garantir que o País tem pessoas para operar toda a tecnologia que a transformação digital trará consigo.
Riscos e potencialidades
O presidente da Associação Missão Crescimento deixou na conferência as linhas principais de um estudo sobre os novos desafios das empresas portuguesas, onde enunciou uma série de limitações e fragilidades da economia nacional, que podem resultar nomeadamente numa possível perda de empresas (entre 200 a 400 mil) e postos e de trabalho associados (1,4 milhões na pior das conjeturas) se vier a repetir-se um cenário semelhante ao da última crise económica e financeira.
De acordo com o documento, a China está mais bem posicionada que os EUA e a Europa para fazer frente à crise tanto do lado do endividamento como da margem para a cobrança de impostos. E Portugal enfrenta constrangimentos do lado do investimento, com uma potencial forte perda de capital, excessivo endividamento, e com as empresas a apresentarem uma repartição desequilibrada entre o valor que vai para remuneração de empregados e o que fica de excedentes brutos de exploração.
Num quadro em que o Estado tem vindo a socorrer vários setores da economia, o responsável sublinhou a ideia de “vigilância” em relação à intervenção dos poderes públicos, nomeadamente sobre como vai ser construída a orgânica desse auxílio, se virá pelo lado da dívida ou do capital, e por quanto tempo permanecerá. “Não é possível reconfigurar setor privado sem intervenção inteligente do estado – que não cometa os erros passados, em que, apesar dos investimentos, não crescemos nada – e sem capital externo,” acrescentou. “Tenho muita desconfiança do Estado como investidor estratégico nas empresas. Vai acontecer nas que dão votos. É um convite à corrupção, ao clientelismo, ao tachismo,” adicionou Pedro Santa Clara.
Distinguir os melhores e partilhar bons exemplos
A sessão marcou ainda o lançamento oficial do prémio Inovação na Prevenção, que vai distinguir as boas práticas empresariais na área da prevenção, especialmente a forma como as empresas e seus gestores gerem preventivamente os riscos associados à sua atividade (regulamento disponível aqui). Um prémio dividido em quatro categorias: dimensão nacional, geral; melhor projeto de prevenção relativo às pessoas; melhor relativo ao património; e melhor relativo ao ambiente.
O prazo de inscrição começou esta terça-feira, 14 julho, e encerra a 31 de outubro. No mês seguinte, far-se-á a análise final dos projetos a concurso, a qual incluirá a visita presencial às empresas selecionadas para essa fase final. O júri vai pronunciar-se na primeira quinzena de dezembro, com a escolha dos vencedores, sendo os prémios atribuídos em janeiro de 2021.
“É importantíssimo que façamos uma ideia clara dos principais riscos, da forma como impactam no dia a dia das empresas. E que a gestão adequada do risco também poderá facilitar um acesso ao financiamento e ter influência no pagamento do prémio à seguradora,” notou José Gomes. Sublinhando uma vez mais a ideia de que os custos financeiros são apenas uma pequena parte do prejuízo que a atividade das empresas enfrenta com sinistros que são evitáveis, o CEO da Ageas Seguros salientou que também no setor segurador há necessidade de reinvenção. No caso da sua seguradora, focando-se na consultoria e na assessoria do risco: “É aí que queremos apostar.”
Pedro Matias também defendeu a importância de gerir e antecipar riscos. O presidente do ISQ descreveu que grande parte do trabalho desta empresa é prevenir o surgimento de acidentes, mas que isso já não chega. “Há mecanismos que têm evoluído ao longo dos anos que permitem subir na cadeia de valor, inovando e não ficando só na prevenção.”
Tiago Freire, diretor da EXAME, destacou depois a importância do género de eventos como o prémio Inovação na Prevenção para partilhar boas práticas e criar uma cultura de excelência nas organizações: “Só mostrando se pode ser distinguido e ser exemplo para as outras empresas. E há muita coisa boa a ser feita em Portugal,” concluiu.