Segundo a consultora Consulting2gether, cerca de 40% dos restaurantes fizeram uma redução nos pratos presentes na ementa, enquanto 10% dos estabelecimentos decidiram criar algum tipo de promoção para chamar mais público às suas mesas.
De acordo com os dados de um inquérito que foi revelado esta quarta-feira, 3 de junho, 90% dos restaurantes ficaram muito além da [nova] lotação máxima dos seus espaços nas primeiras semanas em que reabriram. O período que marca, de alguma forma, o fim do Grande Confinamento em Portugal está a ser duro para este setor, que foi um dos mais afetados desde que a 18 de março o Presidente da República decretou o Estado de Emergência no País, cujas medidas levaram ao encerramento de praticamente todos os estabelecimentos comerciais.
Em relação ao consumo registado, antes e depois da pandemia, os dados recolhidos pela Consulting2gether apontam para que o ticket médio tenha sido igual para 70% dos entrevistados.
Uma das maiores diferenças que, eventualmente, se operou em parte significativa dos estabelecimentos (33%), foi o facto de começarem a disponibilizar o serviço de take-away ou de entregas ao domicílio (através de outras plataformas, tal como a Glovo ou a UberEats). Uma tentativa de mitigar os efeitos devastadores que o fecho de portas provocou logo no primeiro mês de encerramento dos estabelecimentos.
No entanto, não é estratégia suficiente para um regresso que, apesar de se sinalizar que vai ser normal, já deu mostras de que não vai ser: as pessoas estão mais receosas, muitas famílias já perderam rendimentos, outras receiam que isso venha a acontecer, as orientações das autoridades de saúde continuam a ser pouco consistentes, e a verdade é que ainda nem todos se sentem confortáveis no regresso a um restaurante como faziam anteriormente. E sem uma vacina ou um fármaco eficazes a chegar nos próximos meses, ninguém sabe exatamente durante quanto tempo os receios vão tomar conta dos consumidores.
No comunicado enviado às redações, Jorge Abreu alertava para alguns números: ” É um indicativo de que mais da metade dos estabelecimentos tenham reaberto as portas exatamente como antes da pandemia em termos administrativos, ou seja, sem uma estratégia específica para estes novos tempos. Falta um novo planeamento que contemple aspetos financeiros, de logística e de análise de rentabilidade do negócio”, considera o CEO da consultora. “E não oferecer promoções neste momento, em que as pessoas estão preocupadas com os problemas financeiros, pode representar uma diminuição da ocupação”, salienta.
Ainda assim, desde dia 18 de maio – quando tiveram autorização para voltar a servir refeições nos seus próprios espaços, com apertadas medidas de segurança e higienização – 60% dos restaurantes conseguiram colocar mais de metade da nova ocupação do estabelecimento, com um ligeiro crescimento na comparação entre a primeira e segunda semana pós-confinamento.
Uma das críticas que, durante o período do Grande Confinamento foi apontada ao setor da restauração foi precisamente o facto de este se ter revelado muito pouco resiliente, tendo em conta que em abril a maioria das empresas já tinha colocado totalmente ou parte das suas equipas em regime de lay-off. Segundo os dados agora divulgados pela consultora, 87,5% dos restaurantes ainda tem trabalhadores neste regime disponibilizado pelo Governo para assegurar a manutenção de postos de trabalho.
Num setor onde os salários já são tendencialmente baixos, e onde a precariedade é muitas vezes a regra, esta opção deverá ter efeitos bastante significativos no médio e longo prazos – as estimativas, aliás, apontam para que o regresso do desemprego em massa seja uma realidade mais próxima do que aquela com que gostaríamos de viver.
É preciso esperar mais algum tempo para perceber como a economia vai voltar ao ativo, e de que forma as pessoas estão dispostas a gastar o seu dinheiro – sobretudo numa altura em que a sombra de mais uma vaga de austeridade teima em não passar. Mas uma coisa parece certa: vai ser preciso uma estratégia muito diferente das que têm sido seguidas até aqui para conseguir ter alguns resultados positivos no curto e médio prazos.