A crise económica provocada pelo coronavírus deverá ter uma violência quase inédita. As novas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para uma contração da economia de 8% este ano. Em 150 anos de dados, só por uma vez Portugal enfrentou uma recessão mais dolorosa. E já foi há mais de 90 anos.
Para se perceber melhor a dimensão do choque, basta pensar que, durante o programa da troika, o pior ano para a economia portuguesa representou uma quebra de perto de 4%. Agora, estamos a falar do dobro. Esses -8% são também mais pessimistas do que os -5,7% projetados pelo Banco de Portugal no seu cenário mais adverso.
Dados compilados por economistas do FMI recuam até 1866 e mostram que, neste século e meio, só houve um ano pior para a criação de riqueza. Foi em 1928, ano em que a atividade económica caiu a pique, perto de -9,7%. Em abril desse ano, Salazar volta a assumir a pasta das Finanças. A única recessão que se aproxima desses valores ocorreu em 1936. Em junho desse ano, começou a Guerra Civil Espanhola. A economia afundou 7,6%.
Os -8% previstos pelo FMI parecem estar em linha com os números com que o Governo está a trabalhar. Em entrevista à TVI, Mário Centeno disse que, por cada 30 dias úteis de paragem, deveria observar-se uma quebra de 6,5% do PIB. Ainda assim, o ministro das Finanças disse esperar que a contração da atividade não chegue aos dois dígitos.
A paragem da atividade económica deverá ter como espelho um aumento do desemprego. Segundo as estimativas do FMI, o desemprego irá mais do que duplicar, de 6,5% para 13,9%. Em 40 anos de dados de emprego, nunca se assistiu a um salto tão grande num só ano. Se, realmente, ele ficar perto dos 14%, Portugal regressa aos máximos registados durante o período mais duro da troika.
O País não está sozinho neste barco. Os economistas do Fundo esperam que o mundo inteiro mergulhe numa recessão, com o PIB global a recuar 3%. A Zona Euro deverá ser uma das regiões mais atingidas (-7,5%) e terá todas as suas economias no vermelho. Luxemburgo deverá ter o desempenho “menos mau” (-4,9%), enquanto a Grécia, muito dependente do turismo, sofrerá o maior impacto (-10%).
O único ponto positivo dos dados do FMI é que antecipam uma recuperação da economia logo em 2021, com taxas de crescimento robustas e criação de emprego, como aliás parece ser a tendência história nas últimas décadas: os dados mostram, que, depois de uma recessão violenta, a economia tende a recuperar no ano seguinte. E para Portugal, depois de uma quebra de -8%, é esperado um crescimento de 5%. O desemprego, depois de disparar para 13,9%, cairá para 8,7%.