O impacto da Covid-19 nas bolsas tem sido devastador. A maior parte dos investidores têm sofrido perdas significativas. Mas há quem tente lucrar com as quedas nas bolsas. A Bridgewater, que tem o maior fundo especulativo do mundo, colocou este mês uma aposta de mais de 15 mil milhões de dólares para lucrar com a desvalorização das ações europeias, segundo as agências financeiras internacionais. Isto numa altura em que bancos centrais, governos e instituições internacionais têm anunciado cada vez mais medidas para mitigar o impacto da Covid-19 na economia e também nos mercados financeiros.
A tática utilizada pela Bridgewater, conhecida como short selling ou vendas a descoberto, consiste em pedir ações emprestadas para as vender e recomprá-las mais tarde a preços mais baixos. Por exemplo, se as ações que se pediram emprestadas forem vendidas a 100 euros e depois descerem para 80 euros, lucra-se 20 euros. Desde o início do mês, o índice que mede a pulsação às ações europeias desvaloriza quase 30% devido ao pânico dos investidores sobre o contágio da Covid-19 à economia e aos resultados das empresas, o que indicia que a gestora terá lucrado uma boa maquia nas últimas sessões.
No raide lançado pela Bridgewater às bolsas europeias, as maiores apostas na descida foram em ações francesas, alemãs, holandesas e espanholas. Entre as empresas na mira do hedge fund estão a SAP (empresa de software), a ASML (fabricante de semicundutores), o banco francês BNP Paribas e a Siemens.
A gestora não desmentiu essas posições. Mas explicou, citada pela Bloomberg, que “negoceia em mais de 150 mercados no mundo e tem posições inter-relacionadas, muitas vezes para proteger posições e isso pode mudar frequentemente. Seria incorreto olhar para uma posição em qualquer altura para determinar uma estratégia geral”.
Em momentos de tensão nos mercados as táticas que apostam na descida das ações podem piorar a situação nas bolsas.
O problema do short selling em momentos de tensão nos mercados é que amplifica as quedas, já que intensificam a pressão vendedora. O regulador europeu do mercado de capitais adotou medidas nos últimos dias para tornar estas operações mais transparentes. Mas países como França, Espanha e Itália já proibiram esta prática para evitar que haja investidores a acelerar os problemas das suas cotadas. Em Portugal, a CMVM ainda não tomou uma decisão desse tipo.
Este tipo de táticas costuma ser utilizado por investidores bastante sofisticados e com estratégias de investimento flexíveis, caso da Bridgewater. E os bolsos deste gigante dos hedge funds são bem fundos, já que tem mais de 160 mil milhões de dólares sob gestão e alguns dos maiores investidores do mundo como clientes.
Os avisos de Ray Dalio
O mentor da Bridgewater é Ray Dalio, um dos maiores gurus dos mercados financeiros. O investidor faz publicações regulares no LinkedIn sobre as suas perspetivas para a economia e bolsas. Antes da aposta na queda das ações europeias, alguns dos fundos da Bridgewater levavam desvalorizações acima de 13%. Dalio chegou a admitir que a empresa viveu uma fase em que não conseguiu navegar os mercados e lamentou o facto de não ter conseguido ganhar dinheiro.
Mas isso parece agora ter mudado com a aposta na queda dos índices europeus. No início do mês, Dalio afirmou que nos mercados “o impacto em empresas alavancadas [que correram riscos excessivos ou muito endividadas] nas economias mais afetadas será provavelmente significativo”. E referiu que a Covid-19 “era um daqueles acontecimentos catastróficos que acontece a cada 100 anos e que aniquila aqueles que venderam proteção para o caso de ocorrerem e que não se protegeram a si próprios apostando que este tipo de eventos virtualmente nunca se tornam realidade”. Ray Dalio referia-se a seguradoras que venderam proteção para cobrir danos decorrentes de epidemias.
No conselho que deixou aos seus seguidores, Dalio relembrou: “Tu e a tua família são os ativos mais importantes de que precisas de cuidar. Já no investimento, espero que imaginem o pior cenário possível e se protejam dele”.