Na Europa, a maré não podia ser mais vermelha: os principais índices acionistas continuam a cair mais de 6%, com as energéticas a liderar as perdas. Na praça lisboeta, que seguia a perder praticamente 7% às 11h, a Galp liderava as perdas ao afundar 14,7%, depois de ter já ter caído mais de 17% durante a abertura da sessão. A EDP e a EDP Renováveis acompanham, e escorregam ente 5% e 6%, respetivamente, seguidas por todas as outras cotadas nacionais. O índice Stoxx 600 afundava 6%, a maior quebra desde 2016.
Gigantes como a BP e a Royal Dutch Shell desvalorizaram cerca de 20% esta manhã, com o preço do petróleo a sofrer o maior tombo desde a Guerra do Golfo, em 1991, segundo dados compilados pela Bloomberg. A pressionar o preço do ‘ouro negro’ estão não apenas os receios em torno do Covid 19 mas também o facto de Arábia Saudita ter garantido que não vai baixar os níveis de produção na última reunião da OPEP – a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que aconteceu este domingo. No mesmo sentido, aquele país afirmou ainda que vai cortar no preço do barril de petróleo o que, temem os analistas, pode inundar o mercado desta matéria-prima.
Os barris de crude e de ‘brent’ (a referência para as importações portuguesas) estão a negociar abaixo dos 30 dólares, o valor mais baixo dos últimos quatro anos. A grande surpresa aqui é a combinação de preços já historicamente baixos e de quedas acentuadas. “A queda do petróleo levou à capitulação completa dos outros mercados”, referia Jim Reid, estrategista do Deutsche Bank ao Financial Times esta manhã.
Nos EUA, o cenário no mercado secundário denuncia uma abertura em baixa, também, com a yield sobre a dívida norte-americana a 10 anos a escorregar para um mínimo histórico de 0,5%, um mínimo histórico, com os investidores a fugir de todos os outros ativos e procurarem refúgio nas obrigações. Há apenas um ano e meio, os títulos da dívida da maior economia do mundo tinham uma taxa de juro de 1,5%.
Na Ásia, o vermelho é também a cor dominante, com os principais índices acionistas a registar perdas em redor dos 4%.
“O céu está a cair”, escrevia este domingo Chris Rupkey, do MUFG Union Bank. “Saia, saia enquanto pode. Os problemas de Wall Street vão acabar por atingir, com força, a economia real”, alertava o analista numa nota citada pela Bloomberg.
Os especialistas estão a fazer soar os alarmes em torno de uma possível recessão técnica na Europa e nos EUA durante o primeiro semestre deste ano, devido ao movimento dos investidores, que procuram agora investimentos mais seguros do que os voláteis mercados bolsistas. “O pior da economia ainda está para chegar”, referia Joachim Fels, da consultora Pimco, numa nota enviada aos clientes. As preocupações com as consequências na produção chinesa e no impacto do Covid 19 no setor das viagens está a pesar no sentimento de investidores e analistas.
Montanha-russa deverá manter-se
Esta deverá ser outra semana difícil para os mercados financeiros, numa altura em que Itália já ‘fechou’ um quarto do seu território, os cancelamentos de viagens e alojamentos se multiplicam e os médicos em redor do mundo continuam a lutar para perceber como controlar o Covid 19 de uma forma eficaz e célere.
Várias empresas implementaram o regime de teletrabalho, mas em setores como o financeiro os especialistas temem que possa haver uma redução na eficiência. Especialistas ouvidos pela Bloomberg davam conta de que alguns profissionais do setor ficam mais nervosos por estarem a trabalhar sozinhos, e que isso pode refletir-se em decisões menos seguras e ponderadas. Ainda assim, esta é uma decisão que tem permitido a várias companhias manterem a produção e salvaguardarem os seus trabalhadores, enquanto contribuem para evitar a proliferação das infeções e, consequentemente, o agravar da sobrecarga dos sistemas de saúde.
Por outro lado, o facto de ter havido uma quebra acentuada nos eventos agendados para esta época – o primeiro trimestre do ano recebe, genericamente, as principais feiras de hotelaria e turismo – deverá também repercutir-se a médio e longo prazos neste setor, um pouco por todo o mundo.
As companhias aéreas estão a assumir as taxas de cancelamento de voos dos clientes, com alguma esperança de que o medo – a única motivação que os especialistas apontam para tantas desistências – não dure para sempre, e que consigam recuperar os negócios assim que passar o pico de receios em redor do novo corona vírus.