A disseminação global do novo coronavírus pode retirar, no pior cenário, cerca de €100 mil milhões em receitas às companhias aéreas só este ano, pelas contas da associação internacional de transporte aéreo. É quatro vezes mais do que o estimado há duas semanas.
A projeção foi atualizada esta quinta-feira de manhã pela IATA e limita-se apenas a perdas com a queda no tráfego de passageiros, sem contabilizar o transporte de carga. Se a situação ficasse contida nos atuais mercados, as perdas ficariam pelos $63 mil milhões (cerca de €56 mil milhões). Num cenário de maior difusão do vírus, a associação internacional de transporte aéreo estima que o valor possa quase duplicar, para $113 mil milhões (€101,3 mil milhões).
Há apenas duas semanas, a estimativa da IATA apontava para que as perdas fossem quatro vezes menores do que agora antevê no pior cenário: $29,3 mil milhões (€26 mil milhões). “Desde então, o vírus espalhou-se a mais de 80 países e as reservas futuras foram fortemente afetadas em rotas que não se limitam à China,” justifica a entidade em comunicado.
No cenário mais conservador, que leva apenas em linha de conta mercados onde se registam mais de 100 infetados com o vírus, as perdas esperadas no tráfego de passageiros são de 11% a nível mundial, desencadeando a quebra de receitas de €56 mil milhões, sobretudo na Ásia.
No quadro de um contágio mais alargado, que geraria perdas de €101,3 mil milhões, o continente europeu seria um dos mais afetados. No grupo de países onde se inclui Portugal, o impacto esperado na queda de passageiros é de 9%, significando uma perda de receitas de €6 mil milhões neste conjunto.
Flybe é a primeira vítima nos ares
Esta manhã ficou a saber-se que uma das companhias aéreas que já apresentavam dificuldades operacionais nos últimos meses acabou por sucumbir à redução da procura causada pela propagação do coronavírus. A britânica Flybe, sediada em Exeter, entrou em insolvência esta quinta-feira e interrompeu todas as suas operações.
“Apesar de todos os esforços, não temos alternativa – já que não se conseguiu encontrar uma solução viável que nos permitisse continuar a operar,” afirmou em carta aos colaboradores o CEO da empresa, Mark Anderson, citada pela BBC.
Em janeiro passado, a empresa esteve em negociações para tentar obter um financiamento de emergência que lhe permitisse continuar a voar, depois de ter sofrido com o impacto do Brexit. O Governo avançou com uma proposta de crédito fiscal de 100 milhões de libras, mas a companhia não conseguiu garantir o empréstimo, o que precipitou a insolvência, explica o The Guardian.
A insolvência deixou milhares de passageiros sem alternativa nos aeroportos que são servidos pela companhia – 56 neste momento, 30 dos quais aeroportos europeus fora do Reino Unido.
O governo de Boris Johnson diz agora estar a tentar encontrar soluções para os 2.000 trabalhadores da companhia aérea, a que se juntam 1.400 postos de trabalho indiretos. O secretário dos Transportes, Grant Shapps, disse que o executivo “tentou de tudo” para salvar a empresa, mas que “a companhia, já com problemas, não conseguiu sobreviver.”
A companhia regional britânica tinha sido comprada por quase €2,6 mil milhões há um ano pela Connect Airways, detida pela Virgin Atlantic, Stobart Group e pela Cyrus Capital Partners.