A dívida das empresas mais do que duplicou na última década a nível mundial, no seguimento da crise económica e financeira, e atingiu no final do ano passado $13 biliões (€11,5 biliões). Como se não bastasse, a OCDE alerta que, nos próximos três anos, terão de ser pagos ou refinanciados $4 biliões (€3,5 biliões) em obrigações – um recorde.
A facilitar a criação desta montanha de dívida – na última década o ritmo anual de endividamento corporativo duplicou – estiveram desde logo as condições de política monetária ultraexpansionista dos bancos centrais, que não só colocaram os juros em mínimos históricos como encetaram programas de compra de dívida para procurar reanimar as economias dos dois lados do Atlântico.
A OCDE alerta agora para as dificuldades em gerir um tão grande montante de dívida gerada no mercado financeiro internacional, perante os sinais de abrandamento económico global (com destaque para a China) e as guerras comerciais entre Estados Unidos e China. E a isto há que juntar o movimento de subida de juros nos EUA ao longo dos últimos três anos e a possibilidade de que, no próximo ano, também o Banco Central Europeu comece a aumentar o preço do dinheiro.
A China, onde a dívida empresarial quase quadruplicou numa década, e os EUA, onde o elevado endividamento pode ser o gatilho para a próxima recessão, são preocupações centrais dos analistas. A OCDE sublinha ainda que mais de metade de toda a dívida contraída nos mercados internacionais (54%) é considerada de baixa qualidade, por ter sido emitida por entidades com uma condição financeira frágil, o que cria riscos ao reembolso dos obrigacionistas.
“No caso de uma recessão, as empresas demasiado alavancadas terão dificuldades em gerir a sua dívida o que, por seu lado, traduzido em menor investimento e maiores taxas de incumprimento, pode amplificar os efeitos dessa mesma recessão,” alerta o organismo.
Citado pelo The Guardian, Paul Watters, da agência de rating S&P, mostrou-se por outro lado preocupado “que a margem de manobra e a vontade de as autoridades cooperarem sejam hoje menores do que há uma década,” referindo-se às limitações criadas pela dimensão do programa de compra de ativos dos bancos centrais e pelo nível historicamente baixo de juros.