Na montanha-russa dos mercados há quem ganhe nas subidas, quem encha os bolsos nas descidas e quem faça da volatilidade a sua praia. Este ano, a sorte grande parece ter calhado a estes últimos, com alguns dos traders dos maiores bancos norte-americanos com atividade no mercado de derivados a verem as suas carteiras engordar.
Depois de vários anos de negociação marcada por relativa estabilidade, a turbulência das praças financeiras nos últimos meses – perante a guerra comercial EUA-China e as sucessivas subidas de juros da Fed – criou oportunidades de ganhos para o mercado de instrumentos ligados ao preço das ações.
Em causa estão, por exemplo, notes (representativos de dívida), opções ou empréstimos para compra de ativos, que são usados nomeadamente por hedge funds para apostar em quanto e quando vão subir ou descer os preços dos títulos, protegendo-se ou procurando beneficiar da volatilidade, e que proporcionaram o maior negócio à banca de investimento, segundo o The Wall Street Journal.
O jornal refere que as unidades que negoceiam nestes derivados financeiros em bancos como o Bank of America, o BNP Paribas, o Citigroup, o Goldman Sachs ou o JPMorgan foram este ano as campeãs nas receitas que, de acordo com dados da Coalition (empresa de análise para a banca de investimento) cresceram 84% no primeiro semestre para $3,8 mil milhões (ou €3,35 mil milhões) na América.
Esta subida está a refletir-se nos salários pagos aos traders destas áreas de negócio, que num ano cresceram algumas centenas de milhares de dólares nas funções mais elevadas, podendo chegar aos $3 milhões (€ 2,6 milhões) este ano. Além da maior dinâmica do mercado, a procura crescente por estes especialistas está a influenciar o que os bancos estão dispostos a pagar.
O mercado de derivados financeiros, cada vez mais baseado em computação e análise de dados, exige um perfil diferente de profissionais – denominados quant traders, especializados em estratégias de investimento quantitativo – o que põe estes bancos a disputar talentos a tecnológicas como a Google ou a Amazon ou a empresas ligadas às criptomoedas.
Este ano, as receitas daquelas unidades devem crescer 9,5% em relação a 2017, segundo a empresa de recrutamento de topo Options Group. Em comparação, outras áreas de negócio devem experimentar variações menores do que as dos mercados de derivados – no caso das cash equities (títulos negociados a pronto) não chega a 3% e a banca de investimento praticamente estagna – ou mesmo negativas, como no caso dos instrumentos de rendimento fixo (como obrigações), cujas unidades verão as receitas descer 2,6%.
“Haverá uma grande pressão para não perder pessoas em áreas como a de estratégias de investimento quantitativo, inteligência artificial ou cientistas de dados,” afirma Michael Karp, presidente do Options Group ao WSJ. “É um mercado muito competitivo. De repente estes skills tornaram-se muito valiosos ,” acrescentou Dushyant Chadha, líder da unidade de derivados financeiros do UBS que viu as receitas subirem 30% nos primeiros nove meses do ano.
Há uns anos, a cada vez maior dependência dos grandes bancos da negociação algorítimica levou a uma queda significativa nos postos de trabalho de Wall Street. Agora, a indústria precisa de repor a sua equipa de profissionais, mas com um perfil diferente: menos análise e estratégia fundamental e mais análise de dados e padrões matemáticos.
Segundo o The Wall Street Journal, alguns dos grandes bancos estão a propor soluções de derivados financeiros a investidores tradicionais como seguradoras e fundos de pensões que queiram proteger-se da volatilidade. E também há investidores de retalho a apostar em soluções de derivados, como títulos estruturados, para proteger-se contra perdas no mercado acionista.