Há já muitos anos, na minha primeira apresentação pública sobre empreendedorismo, coloquei no primeiro slide a imagem de uma mulher vistosa. A assistência tentou adivinhar porque estava ali aquela imagem (não era por eu ter a sorte de a ter como namorada!) e, após discussão animada, adiantei o motivo: a senhora (e sim, podia ter sido facilmente um homem) representava a moda. Continuando, acrescentei que estávamos a ver o possível início da moda do empreendedorismo e alertei para o perigo de nos deixarmos iludir por modas.
Na área da Gestão há muitos termos que entram (e também saem facilmente) do discurso empresarial. Nessa altura das minhas tentativas, como académico, de falar da importância de empreendedorismo e tentar desmistificar o termo, escrever “empreendedorismo” no Microsoft Word em português gerava automaticamente um erro ortográfico. Hoje em dia, à medida que o empreendedorismo se torna cada vez mais popular e entra no discurso diário, escolher ser “empreendedor” torna-se opção para muitos, e não apenas para aqueles que acabaram de sair da universidade. Esta é a parte positiva da recente febre à volta do empreendedorismo (um fenómeno que na realidade existe há seculos). Contudo, há outro lado mais preocupante: o da moda.
Mas o Empreendedorismo não pode ser uma moda. Não sei se já estamos no pico dessa onda, mas estamos sem dúvida no meio de uma. As principais publicações periódicas destacam regularmente o “aparente” sucesso dos nossos empreendedores. Digo “aparente” porque a maioria das startups falham no espaço de 2 a 5 anos. Não referir os falhanços e as lições daí a tirar é contar apenas uma pequena parte da história de empreendedorismo.
Ser empreendedor ou melhor ainda, ser chamado “empreendedor” tornou-se sexy. Observe-se a grande quantidade de concursos de ideias de negócios que se realizam um pouco por todo o mundo. Uma breve pesquisa no Google do termo “business plan competition” gera quase um milhão e trezentos mil resultados. A propagação destes concursos pode levar-nos perigosamente perto de promover a noção de que o empreendedorismo é a mera geração de ideias de negócio, e com elas ganhar concursos. Conheço algumas pessoas (não só em Portugal, mas também noutros países Europeus), que são profissionais em fazer pitches. Parece que o seu negócio é ganhar concursos de ideias! Esses concursos têm o seu valor, mas um business pitch bem feito, ou um plano de negócios meticuloso, não substituem o processo árduo que é o empreendedorismo.
Se o processo de começar um novo negócio possa ser comparado ao início de uma escalada, então os empreendedores, nessa metáfora que costumo utilizar, são os montanhistas. Nesse sentido, o empreendedorismo parece estar associado a já estar no topo da montanha! Empreendedorismo, no entanto, é todo o processo de subida, com todos os riscos a ele associados. A eventual conquista da montanha envolve uma viagem árdua, recheada de inúmeros perigos. Não se deixe iludir por modas.