Ser sustentável está “na moda” e ainda bem que assim o é. Na produção agrícola, a relação e o respeito pela terra fazem parte da nossa génese e por isso, acredito que nada disto é, ou pelo menos não deveria ser, novidade para nós, agrónomos.
A sustentabilidade, duma forma generalista, pode ser definida como o uso ou exploração dos “nossos” recursos naturais sem comprometermos a sua disponibilidade para as gerações vindouras.
Qualquer exploração agrícola atual que se assuma moderna e responsável tem de passar duma prática intensiva para sustentável, sob pena de em pouco tempo se esgotarem os seus recursos. Sábios os ensinamentos dos antigos, quando praticavam a rotação de culturas deixando parte das parcelas em pousio.
Na agricultura, muito concretamente na exploração vitivinícola, a sustentabilidade assenta em três pilares fundamentais: ambiental, económico e social.
Hoje, mais de 90% das explorações vitícolas em Portugal, estão certificadas para um modo de Produção Integrada ou Biológica, onde a produção de uvas se rege por uma intervenção mínima, restringindo, tanto quanto possível, não só o uso de tratamentos com pesticidas para o controlo de pragas ou doenças como também a própria intervenção humana ou mecânica na vinha.
A opção por não mobilizar os solos duma vinha, por exemplo, optando pelo enrelvamento natural ou semeado, promove o combate à erosão, conserva a humidade e aumenta a fertilidade. A contribuição direta destes cobertos vegetais nas vinhas, ajuda a um aumento da diversidade de insetos, muitos com papel fundamental por serem predadores de potenciais pragas, tornando-se também parte essencial duma cadeia alimentar que passa pelas aves, répteis e mamíferos.
A par desta prática, em muitas explorações são aproveitados os subprodutos da vinificação de uvas (engaços e peliculas) bem como a matéria orgânica resultante das podas, que ao serem reincorporados, fertilizam os solos.
Numa ótica comercial, a biodiversidade e a produção sustentável são elementos fundamentais para uma imagem positiva e responsável de qualquer empresa que atue nos mercados nacional e internacional. A constante solicitação por parte dos consumidores de vinho biológico é cada vez mais premente, procurando conhecer a origem e modo de produção daquilo que consomem. O crescente aumento e disponibilidade de produtos com denominação e certificação de métodos de produção sustentáveis são disso prova. A consciência ambiental e a produção sustentável passaram a fazer parte dos critérios de compra de muitos consumidores.
Por último, mas não menos importante, na vertente social, é preocupação comum das empresas vitivinícolas, especialmente das situadas no interior do País, serem garante de empregabilidade das comunidades locais, promovendo continuamente melhores condições de trabalho e bem-estar dos seus recursos humanos e consequentemente aumentando a sua motivação e eficiência. Para além disso, muitas destas empresas exercem uma ação concreta no apoio às mais diversas instituições locais.
É hoje uma realidade irreversível que a produção vitivinícola não se esgota numa mera atividade que se quer rentável. A sustentabilidade passou a fazer parte do modo de pensar e agir da cultura do vinho, transversal a todo o sector, terminando no consumidor cada vez mais atento e exigente.