“Uma avaliação mais equilibrada, utilizando menos adjetivos e advérbios, poderia também representar melhor as discussões políticas construtivas que tiveram lugar em Lisboa.”
A frase consta da terceira avaliação pós-programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), publicada em abril de 2016. Um período em que ainda havia abundantes dúvidas sobre a solidez da solução governativa liderada por António Costa, com FMI e Comissão Europeia a exercerem bastante pressão sobre o país. Os relatórios de avaliação pós-programa são acompanhados por um comentário do diretor do FMI responsável por determinadas regiões e Cottarelli representava no Conselho de Administração do Fundo a Albânia, a Grécia, Itália, Malta, San Marino e Portugal. Durante o seu mandato, foi sendo habitual a defesa dos esforços de Lisboa.
Numa entrevista dada em 2015 ao Jornal de Negócios – ainda durante o Executivo de Pedro Passos Coelho – o economista sublinhava que estava “a demorar um pouco mais de tempo ao “staff” do FMI a reconhecer que houve uma melhoria clara nas condições económicas” de Portugal. “O “staff”, talvez corretamente, tende a olhar para o que ainda falta fazer. Mas temos também de considerar o progresso conseguido”, acrescentava.
O “staff” a que Cottarelli se referia é composto pelos técnicos que vêm periodicamente a Portugal avaliar o progresso do país, durante e após o programa de ajustamento. Essa equipa foi sempre mais dura com Lisboa do que o Conselho de Administração do FMI, chegando a falar-se de um diferendo entre a opinião dos técnicos e a cúpula política da instituição.
No já referido relatório de 2016, Cottarelli foi mais longe do que alguma vez tinha ido na defesa dos esforços portugueses. A sua declaração completa:
“Sentimos que uma avaliação mais equilibrada – que realce não apenas os desafios que ainda existem, mas também alguns resultados importantes que foram conquistados no período mais recente – seria mais apropriado, especialmente no que diz respeito a perspectivas orçamentais e à política do Governo na área das reformas estruturais […] “Uma avaliação mais equilibrada, utilizando menos adjectivos e advérbios, poderia também representar melhor as discussões políticas construtivas que tiveram lugar em Lisboa.”
O italiano considerava que o Orçamento do Estado para 2016 trazia “uma política orçamental destinada a continuar o processo de ajustamento orçamental, ao mesmo tempo que estimula a recuperação do rendimento disponível das famílias, maior coesão social e crescimento económico sustentável”, ao mesmo tempo que elogiava a execução orçamental do arranque do ano.
Cottarelli antecedeu Vítor Gaspar na liderança do departamento de Assuntos Orçamentais do FMI entre 2008 e 2013. No final de 2014, foi nomeado por Mateo Renzi diretor do Fundo, depois de meses a rever a estrutura da despesa pública italiana, tendo ficado conhecido como “Sr. Tesoura”. Abandonou o FMI em outubro do ano passado.
O economista foi esta manhã nomeado pelo Presidente italiano para liderar um governo transitório até à realização de novas eleições. A ideia é que haja um novo escrutínio no início do próximo ano. Porém, isso só acontecerá se for aprovada uma moção de confiança no Parlamento. Caso contrário, haverá eleições ainda este Verão. Este segundo cenário parece ser o mais provável.
Hoje, os juros de Itália dispararam para o valor mais alto em três anos, arrastando consigo Portugal e, de forma mais ligeira, Espanha. O movimento foi acompanhado por uma quebra do euro.