É mais um fator de pressão sobre o Sporting, agora de caráter financeiro. A SAD leonina divulgou – via CMVM – um comunicado no qual alerta para a provável instabilidade financeira gerada pela convocação, a curto prazo, de uma assembleia-geral para decidir sobre os seus corpos sociais. Mais, a SAD pretende o adiamento, pelo menos por seis meses, do reembolso final de um empréstimo obrigacionista que vence em Maio.
É que estava prevista (estará já em marcha) para Maio uma emissão obrigacionista de 30 milhões de euros, que serviria para reembolsar uma operação semelhante feita em 2015, bem como “o financiamento de operações de tesouraria da SAD”. No entanto, a provável convocação de uma assembleia-geral para discutir os órgãos sociais do clube, designadamente a presidência do mesmo, “impediria a concretização atempada da referida nova oferta obrigacionista, desta forma colocando em causa os fins da mesma, concretamente o reembolso da actual emissão, e, consequentemente, a estabilidade financeira da Sporting SAD”.
A solução defendida pelo Sporting é o adiamento do pagamento dessa emissão obrigacionista de 2015, “para nunca antes de Novembro de 2018”, ou seja, seis meses após a data prevista para esse reembolso final. Para que tal aconteça, é necessário que os subscritores dessas obrigações dêem a sua concordância, em AG específica a convocar para essa deliberação. Se tal acontecer, os detentores da dívida deverão continuar a receber juros até essa nova data, recebendo então a totalidade do montante inicialmente investido.
Na sequência da crise interna iniciada na semana passada, envolvendo um conflito entre o presidente do clube e da SAD, Bruno de Carvalho, e a grande maioria dos jogadores do futebol sénior do clube, a direcção tornou-se alvo de forte contestação. O presidente da mesa da Assembleia Geral, Jaime Marta Soares, admitiu mesmo convocar os sócios para discutir a eventual destituição de Bruno de Carvalho e, segundo a SIC Notícias, a segunda maior accionista da SAD quer também convocar uma AG. A Holdimo, de Álvaro Sobrinho, tem quase 30% da instituição, sendo o primeiro accionista, destacado, fora do próprio grupo Sporting (como o clube).
Por outro lado, a Sporting SAD deixa claro que não vê motivo para a convocação de tal AG para pronúncia sobre os corpos sociais. “Tais declarações públicas foram, por isso, extemporâneas e lesivas, até atendendo aos resultados financeiros positivos no Clube e na Sporting SAD; nestes termos, não existem quaisquer motivos para as declarações e pretensões formuladas”, pode ler-se no comunicado. Este acrescenta que esses desenvolvimentos têm “igualmente influência negativa na valorização da sociedade desportiva, pelos efeitos negativos no valor das acções da mesma”.
A própria administração da SAD assume que irá, ela própria, pedir a convocação de duas reuniões: uma de sócios, para deliberar o que fazer em relação ao empréstimo obrigacionista previsto para Maio; e a de obrigacionistas, que decidirão se aceitam o adiamento pelo menos até Novembro.
As emissões obrigacionistas são o instrumento a que os clubes mais têm recorrido. Destinam-se normalmente a investidores individuais (muitas vezes adeptos do clube emissor), pagam um juro muito acima do oferecido nos depósitos e, no final, reembolsam todo o valor investido. Tipicamente, é feita uma nova emissão obrigacionista para, com esse dinheiro fresco que entra, se pagar a emissão anterior, que vence perto da mesma altura. Se o Sporting não consegue fazer essa nova emissão, devido à instabilidade no clube, teria dificuldades em reembolsar os investidores de 2015.