O presidente da EDP, António Mexia, foi reeleito esta quinta-feira, 5 de abril, para um quinto mandato à frente da elétrica portuguesa, prolongando assim um consulado que já leva 12 anos. Com aprovação de 99,7% dos votos em assembleia-geral – reunião em que está presente 70% do capital – , além de Mexia são reconduzidos para um mandato de três anos (2018-2020) também João Manso Neto, António Martins da Costa, João Marques da Cruz, Miguel Stilwell de Andrade, Miguel Setas e Rui Lopes Teixeira.
Novos no órgão de gestão da elétrica que conta com nove integrantes são os nomes de Maria Isabel Pereira, que vem da direção jurídica da empresa e que estava como secretária da sociedade na Assembleia Geral, e Vera Pinto Pereira, até aqui diretora-geral da Fox Networks Group em Portugal e Espanha. Já Nuno Alves, que há 12 anos era administrador financeiro, sai para se dedicar a projetos pessoais, numa “decisão bem ponderada e há muito equacionada,” como disse em janeiro ao Negócios.
Novo é também o nome que passa a presidir ao Conselho Geral e de Supervisão, o de Luis Amado, embora já tivesse presença no órgão. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo chairman não-executivo do Banif ascende (era vice-presidente) e substitui Eduardo Catroga, tendo obtido o assentimento de 95,44% dos acionistas presentes na AG.
Dos nomes que se conhecem da lista de 21 que compõem o órgão, Fernando Maria Masaveu Herrero, Celeste Cardona, Ilídio Pinho, Jorge Braga de Macedo, Vasco Rocha Vieira, Augusto Mateus, João Carvalho das Neves, María del Carmén Fernandez Rozado e António Vitorino (como presidente da Assembleia Geral) são reconduzidos nos cargos.
Clementina Barroso (administradora não-executiva do Banco CTT e professora associada convidada no ISCTE) e Laurie Fitch (até aqui partner da PJT Partners) são dois nomes que não constavam da anterior composição. Os nomes dos membros deste órgão indicados pela China Three Gorges, Draursa, Mubadala, BCP e Sonatrach não eram conhecidos na convocatória.
A nova administração, proposta pela CTG, Oppidum, Mubadala, Fundo de Pensões do BCP e pela argelina Sonatrach (com 39,34% do total do capital), aprovou ainda as contas de 2017 e a proposta de aplicação de resultados, com o pagamento de um dividendo bruto de 19 cêntimos por ação (no total de 694,7 milhões de euros, semelhante ao valor do ano anterior), e a política de remuneração que coloca o salário fixo anual de António Mexia em 800 mil euros.
CMEC, CES e outros desafios do próximo mandato
Mexia inicia este novo período à frente da empresa com uma pedra no sapato chamada custos para a manutenção do equilíbrio contratual, ou CMEC, assunto que em junho passado levou o Ministério Público a constituir arguido o CEO por suspeitas “de corrupção ativa e passiva e participação económica em negócio,” tal como aconteceu com João Manso Neto (seu número dois nesta administração) e Pedro Furtado e João Conceição, ambos da REN. Em investigação está a alegada intervenção da empresa na negociação dos CMEC, que vieram substituir os antigos contratos de aquisição de energia.
Estes contratos estão aliás atualmente a ser renegociados e também aqui há um assunto pendente para a companhia, já que o Governo e a EDP continuam a não se entender sobre o valor que a elétrica deverá receber a este título ao longo da próxima década.
Entre os desafios que a elétrica enfrenta no próximo triénio está o posicionamento em relação à consolidação do setor energético a nível europeu. O nome da empresa portuguesa surgiu nos últimos meses envolvido em alegadas tentativas de compra vindas de Espanha, pela Gas Natural, ou pela italiana Enel. Isto depois de ter falhado a OPA da EDP sobre a EDP Renováveis devido à oposição sobre os minoritários (mas ainda nos horizontes da casa-mãe) e de a companhia ter alienado a Naturgas em Espanha.
Em suspenso está ainda a questão relacionada com o pagamento da contribuição especial sobre o setor energético, que em janeiro a elétrica deixou de pagar – 69 milhões de euros por ano -, juntando-se assim à Galp e REN, que protestam em tribunal pela legalidade desta contribuição criada em 2014 ainda pelo governo PSD-CDS. Noutra frente a EDP tem tentado relativizar o facto de Portugal contar com preços de eletricidade (tal como no gás) no retalho que são superiores à média europeia, para o que contribuem as elevadas taxas e impostos que recaem sobre a fatura final.
Chineses incontornáveis no futuro da empresa
No seu percurso de 12 anos na empresa, Mexia viveu o começo do fim e o processo final de privatização da EDP – é assim que a companhia define a saída do Estado do capital social, com a entrada em 2011 da China Three Gorges, empresa que já recebeu mais de 800 milhões de euros em dividendos desde a sua chegada.
Um terço da empresa está nas mãos de minoritários, 23,27% nos chineses da China Three Gorges (CTG). O Capital Group tem 12%, sendo o segundo maior acionista. A espanhola Oppidum Capital (Corporación Masaveu) tem 7,19% e a gestora de ativos BlackRock com 5%, próximo dos 4,98% da estatal chinesa CNIC Co e dos 4,06% da Mubadala.
Com 28,25% da empresa nas mãos de empresas ligadas à China, o futuro próximo da EDP deverá obrigatoriamente estar ligado às decisões que vier a tomar o gigante do “país do meio” sobre o seu investimento em Portugal. No ano passado a EDP teve lucros de 1.113 milhões de euros (uma subida de 16% em relação ao ano anterior) e dívida líquida reduziu-se em 2.000 milhões de euros no espaço de um ano – ainda próxima dos 14 mil milhões de euros, depois de atingir um máximo de 18 mil milhões em 2012.
Ciclicamente, um dos aspetos que causa mais atenção mediática – e polémica – é o salarial, com Mexia a ser apontado com o gestor mais bem pago entre as empresas que negoceiam em bolsa – levou para casa no ano passado quase 2,3 milhões de euros em remuneração bruta, 983,9 mil euros fixos, a que acresceram prémios relativos ao desempenho de 2016 e uma variável plurianual ainda referente a 2014.