Estendamos a lista com algumas das empresas mais disruptivas do momento, e é difícil escolher uma em que o dedo de Jeff Bezos não tenha tocado: Google, Twitter, Uber, Airbnb. Todas trouxeram modelos de negócio inovadores. E todas atraíram a atenção do empreendedor como investidor de primeira hora. Mas o sucesso destes modelos, que invadiram o quotidiano recente, ensombra todos os outros investimentos que terão corrido mal e de que pouco ou nada reza a história, mesmo que o CEO da Amazon reconheça publicamente a utilidade dos falhanços.
Até que chegassem às prateleiras produtos e serviços inovadores como o leitor de livros digitais Kindle, o dispositivo de digital média Fire Tv, o altifalante inteligente Amazon Echo ou a assistente virtual Alexa, dezenas de projetos pouco ou nada sucedidos tiveram de ficar pelo caminho. E Bezos parece não se importar com os milhares de milhões de dólares gastos em falhanços – é o próprio que os contabiliza. Afinal, “alguns poucos sucessos compensam por dezenas de coisas que falharam”, garante.
O homem que em outubro 2017 se tornou o mais rico do mundo e, segundo alguns, da História – tinha em janeiro deste ano um pecúlio estimado em cerca de 110 mil milhões de dólares, quase 20 mil milhões à frente do sempiterno líder dos multimilionários Bill Gates – está entre um dos ícones atuais da inovação. Mas para Bezos, além de arriscar, um bom líder tem de conseguir encorajar os outros a fazerem o mesmo.
Terá sido isso que aconteceu em 1994, quando aos 30 anos se despediu da bem remunerada posição de vice-presidente sénior, na gestora de ativos DE Shaw & Company, e convenceu os pais a investirem parte do seu fundo para a reforma – 300 mil dólares – no projeto que criou na garagem, um site de venda de livros na internet.
Em julho de 1995, a Amazon saía do papel: depois de ver a internet a crescer mais de 2000% ao ano, Bezos acreditou que o acesso à World Wide Web estaria em todo o lado dentro de pouco tempo. E não se enganou. Nos anos seguintes, surfou a onda e mudou definitivamente a forma como compramos, devolvendo poder ao consumidor, o que, de resto, o empreendedor consubstancia num dos seus princípios: a obsessão pelo cliente.
Postos em fila, os pilares de gestão apontados à retalhista eletrónica chegam quase à dezena e meia, da qual se destacam ainda a exigência por padrões elevados e a adoção voraz das principais tendências. Contratar e formar os melhores (o próprio Bezos, na fase inicial, era quem recrutava os colaboradores na empresa, subindo a fasquia à medida que fazia cada nova admissão), ou a tomada rápida de decisões e a simplificação e invenção, tudo são lições na cartilha de Jeff.
Foi esta procura pela diversificação e pela inovação que o levou a estar também ligado à aventura aeroespacial – com a fundação da Blue Origin que quer reduzir o preço das viagens ao espaço e torná-las rotineiras – e a focar-se na Inteligência Artificial e na aprendizagem automática, as novas meninas dos olhos de Bezos que poderão conduzir – acredita – a uma “era dourada”nas próximas décadas, influenciando todos os domínios do conhecimento e da economia. O apetite pela inovação não o impediu, porém, de investir no mais tradicional dos meios de comunicação – a imprensa –, com a compra de The Washington Post, em 2013.
Mas no horizonte do empreendedor que um dia sonhou ter uma empresa duradoura no volátil mundo da internet continua aquilo que ele designa por “Dia 1”, ou o primeiro dia. A expressão, presente na carta aos investidores de 1997 – ano da entrada em bolsa – para definir os primeiros passos na era da internet, foi recuperada na missiva do ano passado, duas décadas depois. Agora, para ilustrar a necessidade permanente de busca da excelência e da novidade na organização e do compromisso com o cliente, recusando ficar refém dos processos: “O dia 2 é o torpor, seguido da irrelevância, seguido por um declínio insuportável e doloroso, seguido pela morte. E é por isso que [na Amazon] é sempre Dia 1.”
Os 10 mandamentos
1 – Minimizar os arrependimentos. Imaginar os arrependimentos que terá quando chegar aos 80 anos e tentar evitá-los
2 – Cultura invejável. Desenvolver uma cultura e um padrão que possam ser ambicionados ou seguidos por outros
3 – Manter a Paixão. Não deixar que o intelecto se sobreponha à paixão
4 – Atenção às tendências. Estar atento às tendências mais recentes e adotá-las
5 – Aposta no talento. Contratar os melhores e desenvolver a suas capacidades dentro da organização
6 – Prioridade ao cliente.Dedicar uma atenção obsessiva ao cliente, ouvindo-o e tomando nota das suas necessidades
7 – Foco no produto.Concentrar o investimento no desenvolvimento do produto para torná-lo desejável para o consumidor
8 – Inovação. Inventar e simplificar para permitir pensar em grande
9 – Não ficar refém dos processos. Não deixar que sejam os processos a dominar o negócio
10 – Pensar a longo prazo. Desenvolver resistência às críticas que podem travar novas ideias