Aparecem no estúdio da EXAME com mochilas às costas e postura descontraída. Não se conhecem, mas começam logo a falar dos seus projetos e conquistas. Têm entre 18 e 23 anos, muitas ideias e estão habituados a desbravar contactos e a fazer com que as coisas aconteçam. Tiago, João e Mário, os três jovens que se juntaram nesta sessão fotográfica, são exemplo disso mesmo. Movem massas e conseguem juntar pessoas por um objetivo, uma causa, um projeto. São empreendedores, de entre oito que a EXAME selecionou a partir do contributo de entidades como a ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, a Portugal Ventures ou a consultora Gesbanha, e espelham uma geração de “fazedores”. Tiago Vidal, 21 anos, é um deles. Está a organizar, pelo quinto ano consecutivo, mais uma edição da GO Youth Conference, iniciativa sobre empreendedorismo jovem que lançou quando tinha apenas 17 anos e ainda estava no ensino secundário.
A primeira edição, em 2012, contou com 100 participantes e 15 oradores. “Depois demos um salto e começámos a convidar oradores internacionais, pegando nos melhores exemplos de jovens no mundo que tenham criado empresas com sucesso. Conseguimos trazer as pessoas mais jovens no mundo que já levantaram capital de risco. E outros que com 20 e poucos anos levantam 15 milhões a 20 milhões de euros por cada ronda de investimentos que têm”, conta.
Há dois anos, a segunda edição da GO Youth Conference, que foi destacada como um dos melhores eventos para start-ups (empresas em fase de arranque) na Europa pelo site de tecnologia TechCrunch, contou com 16 oradores e a participação de mais de 400 pessoas. No ano passado, o cofundador da Siri (vendida à Apple por mais de 200 milhões de dólares) foi uma das presenças mais mediáticas. Este ano, em abril, a conferência contou com 25 oradores e acolheu 600 empreendedores e investidores na Lx Factory, em Lisboa, durante dois dias. No evento participaram empresários portugueses como Miguel Pina Martins (Science4You), Miguel Santo Amaro (Uniplaces), Filipa Neto (Chic by Choice) e António Murta (Pathena).
A quinta edição da GO Youth Conference, que decorrerá em 2016, vai trazer 10 novos oradores e outros 10 que se destacaram nas edições passadas, juntará empresas de sectores mais tradicionais como o têxtil e o calçado e deverá reunir entre 800 e 900 pessoas na Lx Factory.
Esta, porém, deverá ser a última edição que a equipa fundadora organiza. Tiago Vidal é finalista do curso de Gestão na Universidade Católica e acredita que será mais difícil organizar o evento dali para a frente. “Todas as conferências têm um prazo de validade”, afirma. “Acho que a Go Youth serviu um propósito, tinha um objetivo e está cumprido. Hoje fala-se mais do empreendedorismo jovem, conseguimos mudar mentalidades.” Tiago Vidal está agora a tentar falar com a organização da Web Summit (veja entrevista ao fundador, Paddy Cosgrave, nesta edição), a maior conferência de tecnologia e empreendedorismo da Europa, que acontecerá em Lisboa no próximo ano. “Estamos a tentar que a nossa conferência seja integrada num evento maior e a Web Summit tem pequenas summits, pelo que seria interessante incluir a Go Youth Summit, por exemplo”, revela Tiago Vidal.
Quanto ao futuro, o jovem empreendedor vai tentar cumprir o seu sonho: “Criar empresas que tenham valor para as pessoas ou que mudem a maneira como as pessoas fazem alguma coisa.” No verão passado, Tiago esteve a fazer um estágio na sociedade de capital de risco Index Ventures, em Londres, e gostou. “Talvez possa vir a trabalhar nessa área, mantendo-me próximo das pessoas que lançam negócios. Mas depois quero lançar a minha empresa tecnológica. Tenho várias ideias, mas só vou investir tempo e dinheiro quando achar que vale mesmo a pena. Não vale a pena criar uma empresa insignificante.”
O jovem que já falou em Davos
João Rafael Brites, 22 anos, tem uma licenciatura em Economia, dois mestrados (Economia e Gestão Internacional) e é professor assistente na Nova School of Business and Economics. “Podia ir trabalhar para consultoras ou auditoras, mas o que quero é viver do projeto que lancei, o Transformers.” O percurso deste jovem empreendedor é especial e começou a ser traçado quando tinha 16 anos e descobriu o breakdance. Com a experiência, o grupo de dançarinos (crew) que entretanto integrou passou a ser convidado para dar workshops e espetáculos. “Treinávamos todos os dias e começámos a ter um papel mais ativo na sociedade, ensinando outros miúdos, dos 10 aos 14 anos, a dançar.” Em 2009, foi um dos 60 jovensde todo o mundo selecionados para o programa de empreendedorismo social Global Changemakers. Foi depois um dos seis que participou no Fórum Económico Mundial de Davos, o único europeu, para apresentar um projeto de transformação social usar as artes para transformar os espaços públicos. Foi a partir daí que nasceu o projeto de voluntariado Transformers, que mobiliza “mentores” do desporto, das artes e de outras áreas para organizarem atividades inspiradoras para jovens em escolas, hospitais e centros de acolhimento, de modo que estes se “transformem” e encontrem uma forma de se exprimir e intervir positivamente na comunidade.
“Nove em cada 10 jovens não estão envolvidos em qualquer grupo cívico, político, social ou de voluntariado. E 11,6% é a taxa de voluntariado jovem, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. É isto que queremos mudar: ‘Faz a diferença fazendo aquilo que mais gostas de fazer'”, refere João Brites. Até agora, o projeto tem recrutado mentores (de áreas como o breakdance, o rap, o desenho, a culinária, o futebol ou a música), que liga a grupos de aprendizes, que aprendem durante nove meses e são depois desafiados a ensinar outros. Financiado durante três anos pela Fundação EDP, o projeto Transformers já trabalhou com mais de 1800 jovens, em 50 comunidades, através de 52 atividades diferentes.
“Fizemos um estudo de impacto e concluímos que a taxa de voluntariado dos 1800 jovens é de 74%. Foi isto que nos deu a certeza de que não podemos parar”, revela João Rafael Brites. Desde o verão, porém, o projeto chama-se Movimento Transformers e tem um novo desafio. “A única forma que tínhamos de escalar o nosso impacto era fazer um projeto mais sustentável, resolvendo os problemas e obtendo receitas. O objetivo é criar uma comunidade global de pessoas que fazem a diferença através do que mais gostam de fazer.”
A ideia agora é criar “escolas de superpoderes” através de um “franchising social”. O novo modelo será lançado em novembro. O kit do movimento Transformers, destinado a autarquias ou associações de estudantes, por exemplo, custará 300 euros, terá uma licença válida por um ano e incluirá formação durante uma semana, logótipos personalizados, um letreiro (para sinalizar a entrada do espaço), assistência operacional e um manual com os princípios e desafios. O projeto conta angariar 10 “escolas” por mês a partir de janeiro, atingindo 60 mil euros em receitas no primeiro ano de atividade.
Com o foco na geração digital
Também o projeto de Mário Rui André, 22 anos, está numa fase de transição. Objetivo: rentabilizar. Chegou a trabalhar numa agência de marketing digital em gestão de redes sociais, mas no ano passado demitiu-se. “Estou a arriscar tudo. Disse ‘não’ a um salário e conto agora com o apoio financeiro dos meus pais, porque acredito no projeto”, conta o jovem, que com 20 anos criou um órgão de comunicação social online/digital que hoje já soma uma audiência mensal de 400 mil pageviews (há um ano tinha 100 mil), 21.300 ‘gostos’ no Facebook, 2100 seguidores no Twitter e 700 no Instagram.
A origem do Schifter -site de tecnologia, ciência, cultura e sociedade -surgiu em 2012, quando Mário frequentava o segundo ano do curso de Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, e criou um blogue pessoal, o Hype, para partilhar as coisas de que mais gostava: tecnologia e marketing.
Mas a marca Hype já estava registava e o blogue morreu, dando então lugar ao Schifter, lançado em novembro de 2013 e registado na ERC -Entidade Reguladora para a Comunicação Social (e com marca registada). Hoje, o Schifter conta com cerca de 40 colaboradores, entre redatores, fotógrafos, jovens que trabalham em agências de publicidade e outros órgãos de comunicação social ou estudantes.
Apenas Mário Rui André trabalha a tempo inteiro no projeto. Incubado na Startup Lisboa, o Schifter conta com mais três pessoas na organização: “João Ribeiro, gestor de marca do Schifter e, de certa forma, o meu braço direito; Alexandre Couto, diretor criativo e também editor de cultura, e Rita Pinto, editora-chefe.” O objetivo é “ser o media da geração digital”, afirma Mário Rui André, apontando a mira aos jovens entre os 18 e os 35 anos. Para já, “trabalhamos todos pro bono, incluindo eu, mas estamos seguros da viabilidade do projeto”. Certo de que o Schifter é o meio de comunicação de que a geração digital precisa, Mário acredita que há espaço em Portugal para o projeto, mas que é preciso que as marcas, os anunciantes e as agências de meios também acreditem.
O plano de negócios do Schifter está agora a ser finalizado, no sentido de rentabilizar o projeto, para que os “custos sejam cobertos pelas receitas e consigamos ter alguns lucros e pagar salários”. A equipa do Schifter está ainda a desenvolver um novo logótipo e um novo site, “para nos prepararmos para os desafios futuros. Apesar de muita gente dizer que gosta do nosso site, ele tem muitas falhas e limitações; não é o site que o Schifter deve ter”.
O sonho de Mário Rui é ter uma redação. “Quis criar uma linha editorial, escrever sobre o que gosto e fazer algo novo em Portugal. Esta franja do mercado não estava preenchida. E se eu fosse trabalhar para uma redação, possivelmente seria agora estagiário, a escrever as peças que ninguém quer.”
Como Mário, João e Tiago, há outros exemplos de jovens empreendedores que prometem dar cartas. Exemplos como o de Miguel Campos, 23 anos, que há quatro anos iniciou um canal com o nickname de Feromonas e hoje é o youtuber mais popular de Portugal, com 2,6 milhões de subscritores (um quarto da população portuguesa).
Tiago reuniu centenas de pessoas numa conferência. João falou no Fórum Económico de Davos e criou um projeto social. Mário lançou um órgão de comunicação para a “geração digital”. Estes jovens, na casa dos 20 anos, são exemplos de empreendedores que prometem dar que falar.
HOLOFOTES DO EMPREENDEDORISMO
Casos de jovens portugueses que criam, expandem empresas e levantam milhões de euros junto de investidores já fazem furor lá fora
No verão deste ano, a revista Forbes publicou um artigo onde destacava o espírito empreendedor português, referindo mesmo que o “rápido surgimento dos empreendedores portugueses” está relacionado com a “história invisível dos últimos quatro anos, com empresas promissoras a obterem financiamento, a lançarem produtos no mercado internacional e a assegurar a saída dos investidores”. A start-up portuguesa TalkDesk foi uma das citadas por aquela publicação.
Tiago Paiva (28 anos) e Cristina Fonseca (27 anos) tinham 24 e 23 anos quando criaram a TalkDesk, há quatro anos. Depois de já terem angariado 3,6 milhões de dólares (cerca de 3,3 milhões de euros) junto de investidores como a 500 Startups, Alex Khein e Storm Ventures, esta empresa portuguesa que se dedica ao desenvolvimento de software para call centers conseguiu angariar este ano mais 15 milhões de dólares (13,2 milhões de euros) numa nova ronda de investimento liderada pela empresa de capital de risco DFJ, que tem participações em empresas como Skype, Twitter e Tumblr.
Mas há mais exemplos de empresas portuguesas criadas por jovens e que estão cada vez mais nas bocas do mundo. A de Miguel Santo Amaro é uma delas. Miguel tem agora 26 anos, mas tinha 23 quando lançou a Uniplaces com dois amigos (um argentino e um britânico), uma plataforma online de alojamento onde estudantes de qualquer parte do mundo podem reservar um apartamento ou quarto. A empresa emprega 120 colaboradores, dos quais mais de 100 em Portugal, opera em mais de 30 cidades e serve estudantes de 150 países. Este ano deverá fazer uma nova ronda de financiamento, depois de já ter levantado 5 milhões de euros junto de investidores.
A história de empreendedorismo de Filipa Neto e Lara Ladeiro, 24 anos, começou quando tinham 20 anos e ainda frequentavam a faculdade. Tiveram uma ideia e decidiram participar no concurso de empreendedores Acredita Portugal. Na altura, ficaram em segundo lugar entre três mil participantes e foi a partir daí que decidiram focar-se no projeto. No início do ano passado criaram a Chic by Choice, plataforma online de aluguer de vestidos de alta costura. A empresa foi lançada num evento da indústria da moda e tecnologia em Londres. Depois do Reino Unido, as jovens testaram o negócio em França e Alemanha, e hoje a Chic by Choice já envia vestidos para mais de 11 países europeus, com 95% dos alugueres para fora de Portugal. Já no verão deste ano esta start-up portuguesa comprou a sua concorrente alemã La Remia.
TROCAR O FACEBOOK POR UM SONHO
Ricardo Sousa recusou um convite a que poucos diriam “não”. Em 2013, recebeu uma proposta para trabalhar no Facebook, em São Francisco, EUA, mas decidiu antes apostar na empresa que estava a criar na área digital, a ColorElephant, lançada em outubro de 2012, e que conta hoje com uma equipa de 10 pessoas.
Apesar dos seus 22 anos, Ricardo Sousa já trabalhou com empresas como a BMW, a Microsoft, a L’Oréal, a Cisco, a Evernote, o Grupo Impresa (dono da EXAME) ou a Sofitel, é orador em conferências nacionais e internacionais para falar sobre educação ou empreendedorismo e já foi referido em publicações como o The Economist ou a TV Tokyo.
Com 14 anos criou a Textos e Companhia, portal que permitia a publicação de textos de autores desconhecidos e que chegou a contar com mais de dois mil textos (acabou por desaparecer com o crescimento dos blogues). Em 2010, enquanto estudante de Ciências e Tecnologias na Escola Secundária de Carregal do Sal, Viseu, criou a Switch Conference, “conferência que tinha em mente a discussão entre empreendedores e tecnólogos”, explica. Tinha 17 anos quando juntou cerca de 600 pessoas num evento que foi nomeado pela revista WIRED como uma das melhores conferências tecnológicas a nível europeu.
Ricardo ainda frequentou o 1.º ano do curso de Gestão no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa, mas desistiu para ir trabalhar fora do país. Mudou-se para Berlim, onde trabalhou na 6Wunderkinder (entretanto adquirida pela Microsoft) e na Wooga. “Recebi convite para continuar na segunda, mas decidi regressar a Portugal.” Na mira tinha o lançamento da ColorElephant. Entre os serviços que a empresa hoje presta contam-se as plataformas de gestão de recursos humanos ou as campanhas de apresentação de produtos para marcas de beleza. A ColorElephant prepara-se agora para lançar, em janeiro, o ClientPlus, ferramenta que permite gerir a partir de uma única plataforma todo o feedback sobre a empresa (nas redes sociais, na loja ou pela Internet).
TECNOLOGIA COM FOCO NA SEGURANÇA
Diogo Granja tem 18 anos, mas tinha 17 quando começou a desenvolver o projeto Portuguese Rescue Technology com um colega de turma, Rúben Pinhal, 19 anos, no âmbito da Junior Achievement Portugal (JAP), associação que promove o empreendedorismo nas escolas. O objetivo dos jovens foi criar uma solução para ajudar a salvar a vida dos passageiros de automóveis através de uma câmara que dá aos profissionais dos serviços de emergência médica a perceção real do estado dos ocupantes.
Com esta ideia, “participámos no programa da JAP, mas não passámos à segunda fase, por isso decidimos inscrever-nos no ASA ANJE Startup Accelerator”, conta Diogo. O projeto foi um dos 30 selecionados para participar no programa de aceleração da ANJE, ficando entre os finalistas.
Diogo e Rúben já têm o plano de negócios definido e estão em contacto com uma empresa de eletrónica de Aveiro para produzir o protótipo, mas também com a fabricante Toyota, para começar a fazer testes em veículos.
Já este ano o Parlamento Europeu estipulou que os novos modelos de veículos ligeiros e comerciais vendidos a partir de 2018 terão de estar equipados com o eCall, sistema que efetua de modo automático uma ligação para o serviço de emergência em caso de um sinistro. O sistema de vídeo que os jovens portugueses criaram vai, assim, ao encontro desta decisão.
Com aulas das 8h30 às 18h, o desenvolvimento do projeto tem envolvido “muitos fins de semana e noitadas, mas queremos levar isto para a frente”, afirma Diogo, que ainda está a terminar o 12.º ano de escolaridade.
O CAPACETE INTELIGENTE DE VISEU
O que começou por ser uma ideia para um concurso académico é hoje um projeto que está a mostrar ter pernas para andar. Foi já há dois anos que Armando Lopes (18 anos), Daniel Pina (18 anos) e Kelve Ferreira (22 anos) deram os primeiros passos naquilo que veio a ser o Smart Helmet, sistema que protege os utilizadores de motociclos, já que a mota só liga quando o capacete estiver devidamente colocado na cabeça. Com o apoio da Escola Profissional da Torredeita, em Viseu, e da Fundação Joaquim dos Santos, os jovens reuniram 500 euros, o que lhes permitiu comprar uma mota em segunda mão, um capacete e componentes eletrónicos.
A ideia surgiu no âmbito do projeto Escolas Empreendedoras, promovido pelo Concurso Municipal de Ideias nas Escolas de Viseu. O projeto não ganhou a competição (ficou em segundo lugar), mas “não gostámos da classificação e decidimos concorrer ao Shark Tank (programa de empreendedorismo adaptado pela SIC), recorda o professor de Eletrónica e Eletricidade Paulo Coimbra, orientador do projeto. Quatro “tubarões” interessaram–se pela ideia, mas apenas um investiu Mário Ferreira, dono da empresa de cruzeiros Douro Azul 30 mil euros por 48% do projeto.
“Estamos agora a melhorar o projeto, em fase de testes e de credenciação da ideia, para começarmos a vender o produto”, atualiza Paulo Coimbra. Estão também a estabelecer parcerias com empresas de fabrico de placas eletrónicas em Aveiro e Coimbra. Para já, “temos a patente portuguesa e estamos a aguardar a europeia”, revela Armando Lopes, um dos jovens empreendedores.
A expectativa dos promotores é que o produto entre no mercado em meados do próximo ano. As vendas “dependerão da lei. Se houvesse uma lei que impusesse a utilização do capacete, da mesma forma que existe para os cintos nos automóveis, as vendas seriam bastante significativas”, acredita o professor.
“Vamos dedicar-nos a isto. Este projeto já faz parte da nossa vida”, afirma Armando Lopes. O jovem já está a trabalhar, na área de eletricidade. Kelve Ferreira entrou este ano no curso de Engenharia Eletrotécnica no Instituto Politécnico de Viseu.
30 mil euros é o montante com que o investidor Mário Ferreira (dono da Douro Azul e “tubarão” no programa de televisão Shark Tank) entrou no projeto criado pelos trêsjovens de Viseu, ficando com 48% do capital
O CADERNO REUTILIZÁVEL
Pedro Lopes estava no 12.º ano quando teve uma ideia: criar um caderno onde tudo se pudesse apagar sem deixar marcas. A solução foi encontrada com a ajuda de uma tipografia de Viseu que já fazia cadernos tradicionais e uma campanha de crowdfunding. Assim nasceu a Lopes e Gerken, empresa criada com o sócio e colega de escola Matheus Gerken (que entretanto saiu) para dar corpo ao projeto EcoBook.
A marca foi registada e a solução está patenteada. Hoje, com 19 anos, este estudante de Engenharia está instalado no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) já com uma base de cerca de 1300 clientes -conquistou a FNAC e a Amazon Espanha -e tem planos para vender 20 mil cadernos este ano. Está também de olhos postos no Brasil e em Angola.
“Todo o tempo livre que tenho é dedicado ao projeto. Estou a tentar conciliar com o 1.º ano de Engenharia, mas chego a ter de sair das aulas para atender chamadas de clientes”, conta. O dia de Pedro começa no UPTEC, ainda antes das aulas, a que vai “se conseguir”. Regressa depois das aulas e trabalha até às 21 ou 22 horas. Por ter criado uma start-up e ainda não descontar para a Segurança Social, não tem estatuto de trabalhador-estudante. “Mas quero levar esta empresa ao máximo e estou disposto a arriscar tudo”, afirma Pedro. “Não faz parte dos meus planos trabalhar para outros. Quero fazer o meu percurso, não quero fazer o percurso de outras pessoas.”
12 mil é o número de cadernos vendidos em 2015. O objetivo é vender 20 mil até ao final do ano, o que poderá representar um volume de negócios de 100 mil euros
A VODKA DE ANANÁS DOS AÇORES
A ideia de Paulo Pereira, 21 anos, surgiu há dois anos, no 1.º ano do curso da Escola de Formação Turística e Hoteleira, nos Açores.
“Foi-nos proposto lançar uma ideia pelo IdeiAçores (programa da Direção Regional da Juventude que promove o empreendedorismo junto das escolas). Pensei na fraca utilização do ananás e apresentei a ideia de uma vodka à escola, que ficou em terceiro lugar entre 17 escolas que participaram”, recorda. No ano passado, o jovem decidiu inscrever-se no programa de televisão Shark Tank, foi selecionado e passou à final.
Durante três meses, “todas as horas que tinha livres serviram para trabalhar no produto”, conta. O projeto consiste na produção de uma vodka com ananás regional e um subproduto que é a compota desse ananás. A vodka pode beber-se só com gelo ou ainda em forma de cocktail.
O jovem acredita que o ananás é um produto regional com muitas potencialidades, mas que “não está a ser bem aproveitado. Não por falta de promoção, mas por falta de inovação. Pode ser usado de outras formas, não só consumido em fruta ou compota”.
Reveses no processo
No Shark Tank, Paulo Pereira conseguiu reunir o interesse dos cinco investidores do programa (Mário Ferreira, João Rafael Koehler, Tim Vieira, Miguel Ribeiro Ferreira e Susana Sequeira). Pediu um investimento de 40 mil euros por 25% do capital e saiu do programa com um investimento de 50 mil euros por 50% do capital, com a perspetiva de que cada investidor entrasse com 10 mil euros. “Mas ainda não avançámos para a fase final”, revela o empreendedor. Paulo Pereira e os investidores foram surpreendidos por imprevistos, como a escassez de ananás em determinadas épocas do ano, mas também por questões burocráticas, como o imposto sobre produtos alcoólicos, “que é mais elevado do que pensávamos”.
Ainda assim, o jovem guarda a expectativa de lançar o produto no mercado até ao Natal, que espera vender em “restaurantes e bares de renome, mas também em garrafeiras e supermercados gourmet”.
Paulo, que já tinha trabalhado num restaurante/bar no Pico (com apenas 14 anos) e num produtor de vinhos (Curral de Atlantis), termina o curso este ano e espera continuar a fazer crescer este projeto, mas também vir a “ter mão em mais inovações e criações, continuando a contribuir para o desenvolvimento da minha região”.
Este artigo é parte integrante da edição de novembro da Revista EXAME