Austeridade, crise, desemprego.
Três palavras que marcaram os anos da troika em Portugal, entre 2011 e 2014. O impacto do programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) fez-se sentir por toda a economia e as grandes empresas não foram exceção, mostra uma análise da Deloitte e da Informa D&B, com base nas 500 Maiores & Melhores Empresas em Portugal (500 M&M), a edição especial da revista “Exame” que há 25 anos distingue as maiores e melhores empresas no país.
O negócio das 500 M&M – medido pelas vendas e resultados líquidos – até caiu mais do que o conjunto da economia entre 2011 e 2013 (ainda não há, naturalmente, dados de 2014). Contudo, estas grandes empresaspreservaram mais o emprego nesse período.
Considerando preços constantes de 2013, o volume de negócios agregado das 500 M&M recuou 8,9% entre 2011 e 2013 e a queda dos resultados líquidos atingiu 30%. Mesmo considerando apenas as empresas com resultados entre €100 milhões negativos e €100 milhões positivos – que representam mais de 95% das companhias no ranking – chega-se a uma queda nos lucros de 13,3%. Valores mais negativos do que a contração de 4,6% registada no Produto Interno Bruto (PIB) português entre 2011 e 2013 (também considerando preços constantes de 2013).
A explicação reside, em grande medida, na forte contração do mercado interno, em resultado da crise e das medidas restritivas implementadas no decurso do PAEF. “A maior quebra nas 500 M&M deveu-se, numa primeira análise, ao impacto direto da contração do consumo e adiamento de decisões de investimento”, salienta João Gomes, sócio da Deloitte.
“A contração do mercado interno tornou-se evidente, o que afetou em especial sectores cuja atividade é essencialmente de mercado interno, como o retalho e as telecomunicações. As maiores empresas destes sectores, que representam cerca de 20% do volume das 500 M&M, apresentaram uma descida de 10% e de 13%, respetivamente, no volume de negócios no período, o que afetou o resultado global das 500 M&M”, aponta, por sua vez, Teresa Menezes, diretora-geral da Informa D&B.
Face a este cenário, muitas empresas portuguesas apostaram nos mercados externos.
Contudo, há atividades que não são facilmente internacionalizáveis e essa aposta “representa custos e investimento que, sendo necessários, afetam os resultados líquidos”, afirma Teresa Menezes. Além disso, asgrandes empresas “têm estruturas operacionais e de custos maiores do que as PME e precisam de um período mais alargado para conseguirem ajustá-las a quebras de atividade”, nota João Gomes. O que tem impacto direto na rentabilidade.
Aguentar a crise O seu negócio registou uma queda mais pronunciada, mas as maiores empresas em Portugal seguraram mais emprego do que o conjunto da economia lusa. É certo que a população empregada nas 500 M&M caiu entre 2011 e 2013, mas a queda foi de 4,7%, en- quanto no país o recuo foi de 6,6%. Como resultado, o peso das 500 maiores empresas no emprego em Portugal passou de 8,58% em 2011, para 8,76% em 2013, tendo atingido os 8,83% em 2012.
As grandes empresas “têm maior capacidade para aguentar os impactos da crise económica sem repercutirem imediatamente esses impactos nos seus recursos humanos”, frisa João Gomes. Além disso, “têm maior capacidade de investimento e podem canalizar recursos, entre outras atividades, para novos projetos e inovação”, aponta.
Analisando o ranking das 500 M&M, conclui-se que “são maioritariamente empresas maduras, 62% têm mais de 20 anos”, nota Teresa Menezes. “Estas empresas são mais experientes e com maior capacidade de absorver crises, segurando o emprego”, considera. “Pela sua dimensão, muitas vezes, estas empresas revelam nestes momentos maior responsabilidade empresarial e social, com uma noção mais forte do valor do ativo que são as pessoas.
Esta consciência leva a um maior cuidado na redução de pessoas, procurando muitas vezes realocá-las. O que acaba por influenciar a estrutura de custos e ter impacto nos resultados líquidos”, remata Teresa Menezes.
Números em destaque
98,6% foi o crescimento do volume de negócios das 500 Maiores & Melhores entre 1989 e 2013 (a preços constantes de 2013. Os resultados líquidos aumentaram 74,2%, enquanto o PIB português e o Valor Acrescentado Bruto da economia cresceram 46,2% e 43,7%, respetivamente, nesse período.
433 mil pessoas representam o emprego assegurado pelas 500 Maiores & Melhores em 2010, o valor mais alto de 1989 a 2013, representando 8,84% do total do emprego em Portugal nesse ano. Um pico que não voltou a ser atingido.
A 26ª edição das 500 M&M vai arrancar em novembro deste ano e, até lá, iremos repescar alguns temas que se mantêm atuais (originalmente este artigo foi publicado a 25 de outubro de 2014).