Garantir que Rustam Shamuradov conseguiria estar em Lisboa, em Setembro último, a tempo de começar as aulas do mestrado em Finanças, na Católica Lisbon, não foi fácil. Licenciado em Gestão na Westminster International University, em Tashkent, o jovem uzbeque, de 22 anos, não conseguia tratar do visto no Uzbequistão. Foi preciso a escola portuguesa agilizar o processo através do Ministério de Negócios Estrangeiros e da Embaixada de Portugal em Moscovo, para resolver a situação.
Esta é hoje uma missão normal para a Católica Lisbon e para a Nova School of Business and Economics, as escolas de negócios portuguesas com maior notoriedade internacional, que recebem candidaturas de jovens de 50 nacionalidades diferentes, têm professores formados nas melhores escolas do mundo, metade dos seus alunos são estrangeiros e leccionam em inglês.
A reforma de Bolonha, em 2007, abriulhes as portas para o mundo, mas há muito que tinham em marcha estratégias para conquistar o mercado internacional.
Fundada há 40 anos, a Católica Lisbon cedo percebeu que, como escola privada com apenas duas licenciaturas (Economia e Gestão), era urgente procurar fontes alternativas de financiamento. E a sua primeira decisão foi começar a abrir a escola ao mercado internacional. Estávamos nos anos 80 quando começou a financiar doutoramentos nas escolas de topo americanas a alguns dos seus melhores alunos. Uns regressaram à Católica ajudando a reforçar a qualidade do seu corpo docente, outros ficaram nas escolas onde se doutoraram, construindo uma enorme rede de contactos, que resulta hoje em parcerias com mais de 100 escolas em todo o mundo.
Ao mesmo tempo, a Nova SBE lançava um MBA em 1980 e o primeiro curso de formação para executivos em 1988, o Curso Geral de Gestão. Em 1991, surgia o MBA da Católica, e no ano seguinte a escola iniciava-se também na formação de executivos, com o PAGE -Programa Avançado de Gestão para Executivos.
As duas escolas iam ganhando experiência e currículo para voos mais altos, como o que a Católica arriscou em 2006, ao ser a primeira a apostar nas acreditações, “que são um instrumento de credibilização internacional muito importante”, reconhece Francisco Veloso, diretor da escola privada. Em 2007 conquistou a triple crown uma distinção com que contam apenas 1% das escolas de negócios do mundo -, e foi a primeira portuguesa a estrear-se nas tabelas do Financial Times, onde entrou com os programas de formação executiva. A partir daí, e também à boleia da reforma de Bolonha, que veio impulsionar a mobilização de estudantes no espaço europeu, “o nosso mercado deixou de ser apenas Lisboa e passou a ser a Europa, tornando-se dezenas de vezes maior do que era”, explica Veloso.
Parceiras e rivais
É nesta altura que se dá um acontecimento curioso na relação das duas escolas. O MIT consegue convencê-las a desistirem dos respectivos MBA para criarem um programa a três, o The Lisbon MBA, que arrancou em 2009, e que tornou as duas escolas parceiras no programa, mas concorrentes em todas as outras áreas licenciaturas, mestrados, formação de executivos e até na internacionalização.
E se Francisco Veloso, director da Católica Lisbon prefere falar em ‘coopetição’, argumentando que graças à internacionalização “o espaço de crescimento das duas escolas passou a ser o mundo”, a verdade é que cada uma tenta estar sempre um passo à frente da outra. Além da triple crown, a Nova SBE integra também a aliança CEMS um ‘clube exclusivo’ que junta 27 escolas de gestão e empresas multinacionais, e que só aceita uma escola em cada país e, em Setembro último, ultrapassou a Católica Lisbon nas tabelas do jornal inglês. Este ano, a escola de negócios pública congratula-se em ser a única portuguesa entre as 30 escolas europeias de topo -ocupa a 29.ª posição, a Católica Lisbon a 32.ª e a Porto Business School a 55.ª.
“Desde que entrámos neste ranking, há apenas dois anos, subimos 44 posições”, destaca com orgulho José Ferreira Machado, director da Nova BSE. Mas o seu palmarés não se fica por aqui, pois tem mais 3 mestrados no ranking um deles, o Masters in International Management, considerado o terceiro melhor do mundo -, e os cursos de formação de executivos customizada, no top 50 a nível mundial.
Por seu lado, a Católica é a quarta escola com maior índice de empregabilidade dos seus alunos de mestrado 100% estão empregados três meses após o curso -, está dois lugares à frente da Nova na formação executiva aberta (ocupa o 51.º lugar da tabela), e também tem um mestrado no ranking. Mais modesta, mas relevante, é a presença da Porto Business School, no 64.º lugar na formação executiva customizada.
Estes resultados só são possíveis pelo esforço de internacionalização que as escolas têm feito nas últimas décadas, e que lhes permite hoje ter nos mestrados, quase o dobro de candidatos em relação às vagas disponíveis, e conseguirem contratar os melhores professores, pois “a criação de uma reputação e de programas competitivos a nível internacional exigem excelência académica e científica”, diz José Ferreira Machado. Hoje as escolas portuguesas competem com as melhores de todo o mundo na contratação de docentes. “Temos uma parte financeira já competitiva e a capacidade de transmitir aos professores que aqui vão encontrar um ambiente de ensino e investigação onde a sua carreira pode progredir”, explica, por seu turno, Francisco Veloso.
Mas é claro que a presença de três escolas portuguesas no ranking European Business School, do Financial Times, dá um conforto extra na hora de optar por Portugal, e não apenas aos professores, mas também aos pais que equacionam enviar os filhos para estudar num país que tem estado nas bocas do mundo não propriamente pelas melhores razões, mas que parece dar cada vez mais provas de um ensino de excelência.
Novos mercados
A competição fora de portas
O mercado lusófono é agora o foco da atenção das duas escolas. A Católica chegou há 4 anos a Angola, onde preferiu aliar-se a parceiros locais. Já formou centenas de quadros de alta direcção e espera triplicar o volume de negócios em 2013. Por seu lado, a Nova optou por uma estratégia diferente e instalou-se diretamente em Luanda, criando a Angola Business School em 2010. O Brasil é outro mercado que está a ser explorado, e Moçambique é o próximo alvo.
Entretanto, a Católica Lisbon está também de olhos postos na Ásia, onde procura o ‘parceiro ideal’. O desafio é encontrar uma escola de qualidade inquestionável, mas com uma dimensão semelhante à sua, “para que não sejamos apenas uma gota no oceano, mas com quem possamos construir algo em conjunto, pois é essa a nossa aposta”, explica Francisco Veloso.
Este artigo é parte integrante da edição 345 da Revista EXAME