Marcada para esta quinta-feira, dia 20 de junho, a 3º edição das ESG Talks decorreu no auditório do Parque Alentejo de Ciência e Tecnologia, na cidade alentejana de Évora, tendo como foco as áreas da agricultura e sustentabilidade. Nuno Filipe Cordeiro, Risk & Regulation Partner da PWC, foi um dos principais intervenientes, refletindo sobre as oportunidades e riscos do Agronegócio sustentável. “Se o meu tópico é o agronegócio sustentável, aqui a perspetiva certa é a sustentabilidade económica”, referiu.
O partner da PWC, começou por referir que um dos pontos fundamentais do debate destes temas atualmente passa pelo reconhecimento das novas dinâmicas económicas que se têm estabelecido graças às alterações climáticas. “Se pensarmos na agricultura e no turismo, falamos de dois setores económicos que utilizam o clima como um “input” para o seu “output”, reflete. Ou seja, podemos olhar para agricultura e para turismo como produtos do clima”, explicou. Para Cordeiro, os desafios climáticos que têm surgido nas últimas décadas têm, cada vez mais, impactado significativamente os modelos económicos e sociais de ambos os setores agrícola e turístico, com especial destaque para a agricultura.
Na sua opinião, a alteração destas dinâmicas pode ser observada através de uma perspectiva física – através do exemplo visível das grandes secas e inundações – e de disponibilidade de recursos, à medida que estes – que suportavam alguns modelos económicos – vão desaparecendo graças ao agravamento das alterações climáticas. Os agricultores responsáveis por estes produtos passam, assim, a ter de adaptar os seus modelos de negócio bem como a pagar novos impostos – como por exemplo, os impostos associados aos custos do carbono – numa perspetiva de transição que vem responder aos efeitos físicos das mudanças climáticas.
Segundo o especialista, o setor agrícola “é um dos maiores responsáveis pelas emissões de carbono a nível mundial e é inegável esta realidade”. Contudo, o carbono é também um recurso muito útil ao setor por ser um fertilizante natural das plantas, da mesma forma que estas contribuem para o capturar. Um paradoxo que leva à necessidade de adoção de novas estratégias de adaptação da agricultura que garantam a sua continuidade e, ao mesmo tempo, ajudem a diminuir os efeitos de emissões de gases e proteger melhor as espécies presentes neste ecossistema. “Não pode haver uma menor produção do setor agrícola, portanto temos de criar condições para que essa produção possa ser feita em condições de resiliência e de estabilidade suficientes à resposta que será necessária”, esclareceu.
É a esse ponto que pertencem as regulamentações atuais no setor que, para Cordeiro, possuem um grande sentido económico. “Quando olhamos para os diferentes regulamentos o que está por trás é uma estratégia para relançar a economia europeia”, referiu. Destacou sobretudo as políticas europeias PAC e a LULUCF, realçando que as diretrizes destes planos nem sempre são adotadas ou cumpridas por todos os países, o que coloca o alcance das metas ambientais num futuro ainda mais distante. “Só temos um cenário: fazer aquilo que nos for possível e acreditar que haverá reformas e visões mais estruturais que nos permitirão continuar a avançar nestes desenvolvimentos”, acredita.
Para Cordeiro será ainda necessário reconhecer que o impacto das alterações climáticas estão a começar a ter em certos modelos de negócio, bem como os preços praticados nos diferentes mercados. “Para qualquer negócio a estabilidade é preço é fundamental”, referiu. O que pode implicar políticas públicas que corrijam certos desequilíbrios.
Cordeiro terminou o seu contributo realçando que o foco atual deverá estar “num modelo de produção focado em bens transacionáveis nos quais temos alguma vantagem relativa na sua produção e no apoio das ferramentas técnicas hoje disponíveis”.