As ESG Talks têm o apoio do novobanco
“É preciso acabar com os discursos cor de rosa e com a forma simplista como se vendem os benefícios do combate às alterações climáticas. Esta é uma mudança que tem custos. É preciso enfrentá-los e assumi-los. Existem oportunidades de negócio, mas é preciso não esconder que esta transformação acarreta muitas dificuldades”, defendeu Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum da Competitividade, durante o frente a frente com a bióloga Helena Freitas. O encontro foi subordinado ao tema Economia/Empresas Versus Planeta – Adversários ou Aliados, na conferência ESG Talks, no dia 17 de outubro, uma iniciativa do novobanco em parceria com a VISÃO e a Exame, e com os knowledge partners NOVA SBE e PwC.
“Existe um discurso dominante no qual as questões ambientais vão trazer novos empregos, gerar mais negócio e que é tudo maravilhoso. Mas a realidade mostra que não é bem assim. E depois as pessoas revoltam-se. Em França já tivemos o caso dos coletes amarelos, que nada mais foi do que uma revolta dos trabalhadores pobres contra o aumento dos preços dos combustíveis por via dos impostos ambientais. As políticas são importantes, mas é também essencial fazer a pedagogia do eleitorado”, justificou.
Na opinião do economista, em termos de transformação de práticas mais amigas do ambiente, a desmaterialização da economia, ou seja, usar cada vez menos recursos no processo de fabrico de um qualquer produto, é um dos pontos onde se têm conseguido melhores resultados.
“A desmaterialização é um caminho que já estamos a percorrer. Hoje precisamos muito menos energia dos materiais para conseguir o mesmo euro/PIB do que necessitávamos há 20 anos. Mas pode e deve ser reforçado”, defende Braz Teixeira.
E deu como exemplo o teletrabalho. “Se for provado que as empresas que recorrem ao teletrabalho conseguem reduzir a pegada ecológica, pois o uso do transporte é um dos fatores que mais energia consome, deveria ser criado um incentivo fiscal às empresas que adotam esta prática. Atualmente existem mais pessoas a quererem trabalhar remotamente do que empresas dispostas a aceitar este método. Se nesta equação passar a existir um subsídio ambiental às empresas que recorram ao teletrabalho, então poderemos ter muito mais gente a trabalhar de forma remota”, justificou.

No entanto, a medida que seria mais eficaz para reduzir substancialmente a pegada ecológica, é, na opinião de Braz Teixeira, “trabalhar menos e viver com menos” de forma a reduzir o consumo.
O economista considera que politicamente, “este será o caminho mais difícil”, mas mostra-se aberto em relação ao futuro, afirmando que “as novas gerações já estão a adotar este conceito”.
Por fim, Braz Teixeira referiu-se às novas pressões que as empresas começam a sentir em matéria de práticas ambientais. O que começou por ser uma pressão dos consumidores e dos governos, através da criação dos impostos verdes, chegou agora aos trabalhadores e até aos investidores. “Algumas empresas mais poluentes começam a ter dificuldades em recrutar pessoas, sobretudo mais jovens, que não querem ser cúmplices de uma determinada prática pouco amiga do ambiente. Por outro lado, os investidores também estão a ser mais seletivos nas empresas onde colocam o seu capital, privilegiando as que adoptam políticas mais sustentáveis.
A perspetiva da conservação da Natureza
Helena Freitas, bióloga e professora na Universidade de Coimbra, tem uma visão distinta. Fez alusão “a uma perspetiva cínica” e às “narrativas simplistas a que a economia se agarra” para enfrentar as alterações climáticas.
“Um dos discursos dominantes é a de compensar a descarbonização por via da plantação de árvores. Mas não é assim que iremos ter compensação. Isto é uma mentira que tem de ser rapidamente desmontada. Os grande sumidouros de carbono são os Oceanos”, avançou.
Para a bióloga, a proteção do meio ambiente é mais importante do que qualquer medida de compensação. E deu como exemplo uma das soluções definidas pela União Europeia, que promoveu a plantação de 3 mil milhões de árvores. “Não ponho em causa a função das árvores que se alimentam de carbono e, por essa via, garantem-nos a manutenção do ciclo hidrológico e o fornecimento de oxigénio. Mas do ponto de vista ambiental, seria muito mais eficaz proteger a Amazónia do que plantar 3 mil milhões de árvores”, justificou.
Helena Freitas acredita que as agendas políticas em prol do ambiente têm sido “mobilizadoras da sociedade” para estas novas questões. E deu como exemplo o Protocolo celebrado no ano passado em Montreal que compromete, entre outras coisas, que todos os países do mundo reservem 30% dos seus territórios para a preservação da natureza. “Este é um desafio tremendo que foi subscrito por todos os países”, afirma.

A bióloga salienta ainda que o mesmo protocolo exige que sejam colocados, de forma global, 200 mil milhões de dólares por ano para se fazer a transformação das práticas em prol do ambiente. “Não há financiamento público para financiar este valor. Esta é claramente uma agenda que visa mobilizar o setor privado em torno desta transformação. E, desta forma, trazer o dinheiro para a harmonização entre o desenvolvimento económico e a conservação da natureza”.