“Será que é possível alcançar o desperdício zero nas nossas cassas e nas nossas empresas?”. Foi com esta pergunta que Ana Milhazes, autora do blogue “Ana Go Slowly” e embaixadora do movimento “Lixo Zero Portugal”, que conta atualmente com cerca de 11 mil pessoas, iniciou a sua intervenção no encerramento do segundo “deep dive” do ciclo de conferências ESG Talks, uma iniciativa promovida pelo Novobanco com organização da VISÃO e da EXAME, subordinada ao tema “Economia Circular e Reciclagem”, que se realizou no dia 9 na Nova SBE.
Uma simples pergunta que serviu de provocação para atrair a atenção das pessoas que acham que é impossível conseguir reduzir ao máximo todo o lixo que geramos ao longo dos dias. No entanto, Ana Milhazes mostrou um pequeno frasco de vidro e garantiu que ali estava todo o lixo que produziu desde 2017.
“Os resíduos são nada mais nada menos que uma falha de design. Se os produtos fossem concebidos desde o iníco para que nada sobrasse, ou aquilo que sobrasse fosse integrado novamente para fazer um novo produto, deixaríamos de falar em lixo”, argumenta.
Posteriormente, explicou como uma depressão e um burnout a transformou numa ativista pelo fim do desperdício. Formada em sociologia pela Universidade do Minho, Ana trabalhou sempre na área de informática. Foi nessa altura que descobriu um estilo de vida chamado minimalista. Adoptou algumas dessas práticas e quando deixou a empresa, devido aos problemas de saúde, passou a ter um papel de ativismo neste movimento, ganhando “qualidade de vida e espaço para que novas coisas entrassem na minha vida”.
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E explica que “o minimalismo não é privação. Todos queremos viver com conforto e qualidade, mas podemos fazer um exercício e ver a quantidade de coisas que temos nas nossas casas que nunca utilizamos”.
Ana Milhazes não defende que toda a gente deva mudar de estilo de vida de um dia para o outro, mas considera que se todos fizermos um pouco, essas ações farão toda a diferença.
“Muita gente pensa, de que vale a pena eu não pedir saco de plástico se as outras pessoas que estão na fila atrás de mim o vão fazer? Mas a sementinha fica lá. Todas as nossas ações contagiam as outras pessoas”, salienta.
Ana Milhazes diz que aproveita todas a idas a restaurantes e outras estabelecimentos para dar sugestões, algumas delas que nem as pessoas que estão a gerir o negócio pensaram, mas garante que “este processo tem de ser feito com respeito e de forma amorosa. Se apontarmos o dedo ninguém nos vai ouvir”.
Para Ana Milhazes, um dos R de que não se fala em matéria de sustentabilidade é o de “Recusar”. “O recusar é para mim o mais importante dos R. Quando recusamos um papel, um bloco uma caneta, no fundo estamos a recusar em última instância às pessoas que produzirem esse tipo de produtos que não o precisam de fazer”.
Por fim, terminou a sua intervenção deixando um desafio a toda a assistência: “de tudo o que ouviram aqui hoje sobre economia circular, escolham pelo menos uma ação para implementar nas vossas casas e outra para implementar nas vossas empresas”.