
José Eduardo Martins, advogado e ex-secretário de Estado do Ambiente, começa por lamentar que andemos “há décadas a falar do mesmo”, aludindo ao facto de ter sido secretário de estado do ambiente do Governo de Durão Barroso, nos idos 2002, e de já na altura os seus interlocutores serem os que agora avista na plateia do auditório da Nova SBE, em Carcavelos. Trouxe às ESG Talks, – uma iniciativa do Novo Banco, em parceria com a PwC, a NOVA SBE, a EXAME e a VISÃO -, as inquietações e provocações de quem trabalha na área há mais de vinte anos e conhece bem o sistema por dentro, numa short talk que agitou a sala.
Neste momento, não tem dúvidas: “O principal obstáculo à economia circular é a natureza humana e a forma como se organizam as sociedades. Estamos todos habituados ao conforto.” Mais à frente há de acrescentar que os políticos “não nasceram propriamente para dizer às pessoas que há conforto a mais.”
Apesar de ter 53 anos, o advogado lembrou que, nos tempos em que havia mais pobreza, as pessoas poupavam mais, reutilizando. Ele, por exemplo, ia à mercearia comprar manteiga e ela era vendida a granel e levada para casa em papel pardo. “Hoje só está tudo a poupar energia porque não há.”
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No seu tom característico, José Eduardo Martins notou que agora as coisas estão mesmo a acontecer, pondo em causa a espécie humana. “Começou a ser demasiado sério e impactante.” E virou-se para a China: “Nesse país, onde não há ativismo, as emissões de CO2 são três vezes superiores às da União Europeia e isso afeta o planeta da mesma forma.”
Há 10 anos, acredita, a conferência em que hoje participa teria sido igual. “Não estamos a encarar os desafios. Ficamos a meio caminho entre as palavras e as ações. Podemos fazer melhor: Diversificar. Chegar a mais sítios.” Criticou a opacidade do mundo da reciclagem, os monopólios instalados e defendeu a entrada de novos players no mercado.
José Eduardo Martins acredita na economia circular em alguns setores, com a energia à cabeça, relembrando a reutilização de resíduos, já várias vezes mencionada durante a manhã de conferência. E sugeriu que se estimule cada vez mais as comunidades de energia, de proximidade, sem se utilizar as linhas da REN. São algumas soluções que propõe nesta “guerra pela sobrevivência”.
