“A educação está na base de tudo” e, por isso, “temos de falar mais de educação no país”. Esta foi “a grande mensagem” que Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves (FJN) levou às ESG Talks, iniciativa do Novo Banco, que juntou a Exame e a VISÃO, numa grande conferencia. “Portugal é o país da União Europeia com maior gap intergeracional”, onde “40% não terminou o ensino secundário”, o que representa “um problema enorme”, sobretudo se falamos de um país que “tem grande falta de mão de obra”, como Portugal. “Estas pessoas precisam de formação”, vaticinou.
No entanto, “não temos um sistema preparado para formar adultos e entregar competências em shots relativamente curtos”, criticou o ex-secretário de Estado da Inovação, alegando que pessoas entre os 40 e os 50 anos não estão disponíveis já para tirar licenciaturas e necessitam de algo mais flexível que preencha as suas necessidades e, ao mesmo tempo, acompanhe as necessidades das empresas. “E o mais grave, é não vermos coisas a acontecerem que possam resolver isto no curto e medio prazo”, lamentou.
Retomando algumas ideias já divulgados no Estado da Nação, um relatório que a FJN produziu no primeiro semestre deste ano e de que a revista Exame deu conta aqui, Carlos Oliveira frisou, no entanto, que estamos hoje perante “a geração mais bem qualificada de sempre”. Mas… “41% não tem qualificações digitais básicas”. E, “se não lhas derem, nunca conseguirão empregos e salários dignos”.
“A digitalização vai passar por todas as áreas”, avisou, lançando mesmo a provocação a alguns advogados que verão algumas das suas tarefas automatizadas. Isto para demonstrar que esta questão não é problema só de determinadas profissões, mas de todas.
“Há um enorme paradoxo no país”, disse, ao mostrar, com base em números já divulgados, que “25% dos jovens qualificados não têm emprego” e outros “estão num emprego para o qual não precisavam daquele nível de formação”. Interrogou a plateia: “O que se passa?”.
O que se passa é que “há um desalinhamento entre a formação dos jovens e o que as empresas estão a pedir”. E este “é um cenário que tem de ser resolvido e não pode ser só o Governo a resolver”.
Carlos Oliveira demonstrou ainda como é que tudo isto afeta os salários e a produtividade. Para que esta geração qualificada tenha impacto na produtividade de uma empresa, esta “tem de ter, pelo menos, 40% de jovens qualificados na sua força de trabalho”. E sentenciou: “Se for menos, não funciona a favor do aumento da produtividade”.
Também os patrões têm a sua quota parte de responsabilidade, uma vez que “metade dos empregadores não terminaram o ensino secundário” e também necessitam de ser requalificados. “Temos de mudar o prisma, o output com que olhamos para este problema e definir que a solução está “na formação ao longo da vida”.
A importância da saúde mental e bem-estar: um impacto de 240 mil milhões
A intervenção de Carlos Oliveira coincidiu com o dia em que a FJN comemorava dois anos de lançamento público. Foi a oportunidade para que o seu presidente fizesse um apanhado de toda a atividade da instituição até à data. À cabeça está precisamente a educação, com a empresa a financiar (já aplicou 2,6 milhões de euros) bolsas de estudo reembolsáveis. “É importante promover a igualdade de acesso à educação”, justificou.
De seguida, surgiu a construção da plataforma Brighter Future, que mostra “a importância dos números e dos factos” na tomada de decisões de vida. “Onde se vê que os homens ainda usufruem de um salário 20% acima do das mulheres”, exemplificou.
O último pilar da fundação é o da saúde mental e bem estar, “um tema ainda pouco explorado”, mas que também afeta a produtividade de uma empresa. Também aqui, a FJN lançou uma aplicação, a 29k FJN, a que empresas “como a Galp” já recorrem para elevar a qualidade de vida dos seus trabalhadores. Mas, acessível a todos gratuitamente, esta app está já a ser utilizada por “37 mil portugueses”. É “um guia de desenvolvimento pessoal”, porque também é “importante conhecermo-nos a nós próprios, ao nosso interior”.
A notícia é que “está para sair em breve um outro guia para as empresas, de como apostar nos seus trabalhadores”, anunciou Carlos Oliveira. Que defendeu a necessidade de as empresas terem “planos de ação para combater o stress mental no trabalho”, pois este tem “um impacto de 240 mil milhões” na economia, logo, impactos diretos na produtividade e na sociedade em geral.
Para terminar, um pedido: “Se querem antecipar necessidades de competências e trabalhar de forma alinhada com essas necessidades, estejam mais próximos das instituições e apostem na formação ao longo da vida”.