As empresas estão cada vez mais cientes e comprometidas com padrões de sustentabilidade, mas existem forças desviantes que estão a tirar o foco de decisores e da sociedade, alerta Peter Grassman, Global ESG Leader na PwC. O responsável, que falava esta quinta-feira, por videochamada, na conferência ESG Talks – Reconstruir o Futuro, na Nova SBE, garante que o tema está no topo da agenda das empresas, mesmo aquelas que ainda carecem de soluções tecnológicas para operar a mudança. “Cheguei ontem à noite de uma conferência no Qatar, com o setor da aviação, e o grande tema foi como é que a aviação pode contribuir para a descarbonização da indústria. É um tema muito relevante, mesmo para empresas que ainda estão muito dependentes de combustíveis fosseis e onde é difícil mudar para outras fontes de energia”.
O problema é complexo. “Há hoje mais stakeholders que têm de ser envolvidos e temos de pensar em ecossistemas, em vez de planos e estratégias individuais. E isso tem grandes implicações nas operações da empresas”. Além disso, o quadro regulatório de reporte e os respetivos standards estão longe de estarem fechados, e há tecnologias por desenvolver. “A incerteza é um elemento típico do ESG”, nota o especialista.
A sustentabilidade ambiental será, atualmente, o elemento mais pronunciado da sigla: “Vemos os gráficos, vemos as cheias, a crise climática está a acontecer enquanto falamos”. E apesar das dificuldades, Peter Grassman afirma que a indústria está comprometida com o tema e com as suas responsabilidades: “Na conferência da COP 26, em Glasgow, fiquei verdadeiramente impressionado. Houve realmente uma transformação e um verdadeiro ‘momentum’. Em vez de termos apenas Governos e partes regulatórias a discutir ESG, houve uma forte presença empresarial. E uma presença sénior. Muitos CEO e CFO estavam presentes para discutir de que forma a indústria pode contribuir para a descarbonização do mundo”.
Infelizmente, diz, corremos o risco de perder o ‘momentum’. Apesar dos compromissos o mundo está longe de cumprir com o objetivo estipulado nos acordos de Paris – aumento de 1,5 graus centigrados – e existem agora forças desviantes, a nível geopolítico, com destaque para a guerra na Ucrânia, e desafios económicos no curto-prazo. Em contrapartida, o tema da energia entrou no topo das prioridades governamentais que discutem agora também como acelerar desenvolvimentos no hidrogénio e outras energias renováveis. “Os preços da energia e a inflação colocam muita pressão nos orçamentos familiares e a questão é: “Quanto mais podemos suportar até entrar num mundo descarbonizado’. E os Governos serão forçados a tomar uma atitude”.
Além dos objetivos já fixados para 2040 e 2050, de emissões zero, Grassman afirma que temos de ter objetivos de transição, “que atestem que, apesar dos desafios, estamos a caminhar na direção certa” e apela à criação de novos incentivos para as empresas que estimulem novos desenvolvimentos. “Está a ficar claro que precisamos de acelerar. As emissões de CO2 ficam na atmosfera durante milhares de anos e isso significa que temos um budget limitado que podemos atingir. Temos de agir agora, os próximos sete ou oito serão decisivos”.
Uma transformação que não deve ser entendida como apenas um custo para as empresas mas que encerra antes oportunidades. Luis Veiga Martins, Associate Dean for Community Engagement & Sustainable Impact da Nova SBE, recorda precisamente as palavras do Secretário-Geral das Nações Unidas que, já em setembro de 2020, calculava o potencial dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em 380 milhões de novos empregos e 12 biliões de euros em oportunidades de negócio até 2030.
Também Teresa Gonçalves, Teaching Assistant na Nova SBE, destaca a geração de valor que a diversidade, nomeadamente de género, e a inclusão, trazem para as empresas. “Apesar disso, muitas organizações não demonstram ter uma política definida para diminuir este gender gap. Outras, dizem não ser uma preocupação porque a igualdade de oportunidades não está sequer em causa. No entanto, as estatísticas contam uma história diferente”.
As ESG Talks são um ciclo de conferências promovido pelo novobanco, juntamente com os media partners VISÃO e EXAME, e os parceiros estratégicos Nova SBE e PwC Portugal, que visa refletir sobre os padrões de sustentabilidade – ambiental, social e de governança corporativa – que desafiam organizações e comprometem o futuro global.