Sabia que, em Portugal, uma em cada três pessoas sofre de dor crónica, principalmente de lombalgia, mais conhecida como dor nas costas? E que se seguem depois as intensas queixas ao nível dos membros inferiores e dos superiores, como ombros e região cervical? E que, muitas das vezes, esta dor crónica é tao incapacitante e perturbadora ao ponto de afetar o bem-estar e qualidade de vida destes doentes?
Estes são alguns dos resultados do estudo “Prevalência e Caraterização da Dor Crónica nos Cuidados de Saúde Primários (CSP)”, realizado em 58 centros das ARS do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, e ARS do Alentejo, começa por explicar Raul Marques Pereira, coordenador do Grupo de Estudos da Dor da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF). Realizaram-se 8445 consultas e foram identificados 2834 doentes com este problema, tendo-se registado uma “intensidade média de dor crónica” a rondar os 5,3 pontos numa escala de zero a dez.
De acordo com o estudo, nota o médico especialista em Medicina Geral e Familiar, “33,6% dos indivíduos em unidades de Cuidados de Saúde Primários no país vivem, assim, com dor crónica, sendo a mais prevalente a lombalgia”. Alias, realça, “este é um dos problemas de saúde mais comuns entre a população mundial e um dos principais motivos que leva as pessoas a consultarem um médico ou a perderem dias de trabalho”. Mais, nota: “A prevalência da lombalgia, ao longo da vida, será superior a 70% nos países industrializados, estimando-se que, em 15 a 45% dos casos, os sintomas persistam durante um ano ou mais”.
Não é, por isso, à toa que a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) tenha definido 2021 como o “Ano Global Sobre a Lombalgia”. A European Pain Association (EFIC) e a Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) associaram-se a esta campanha, promovendo ações para apoiar médicos, cientistas e doentes no âmbito da prevenção e do tratamento da lombalgia. O objetivo é aumentar a qualidade de vida dos doentes.
Ainda neste âmbito, a maioria dos inquiridos no estudo “Prevalência e Caraterização da Dor Crónica nos CSP” referiu sentir “grande impacto da dor crónica em todas as dimensões de qualidade de vida avaliadas, nomeadamente na mobilidade, atividades usuais e pessoais do dia a dia”. O que acaba por resultar em desconforto, ansiedade e depressão, que foram também objetivadas nos resultados deste estudo.
Quando é que uma dor começa a ser crónica?
“Considera-se dor crónica aquela que persiste para além dos três meses de duração”, resume Raul Marques Pereira. Avisa, contudo, que também pode ser crónica se perdurar “após o período estimado para a recuperação normal de uma lesão”. O médico de Medicina Geral e Familiar acrescenta ainda que pode “surgir no contexto de várias doenças (artrose, diabetes, doença oncológica, etc), estar associada a um período pós-operatório ou ocorrer sem causa aparente”. Pode ainda ser agravada por traumatismos ou posições forçadas ou incorretas.
Mas, independentemente da causa, alerta o médico, “a dor crónica necessita de seguimento e tratamento robustos”. E muito importante, realça, “pela sua elevada prevalência e pelo impacto na vida dos doentes, a dor crónica requer uma abordagem integrada, que envolva os CSP e os Cuidados Hospitalares”. Daí a importância de haver comunicação entre o médico e o doente “para permitir um diagnóstico correto da dor e, por conseguinte, um tratamento e acompanhamento adequados”. Além da toma de medicamentos, o tipo de terapêutica pode passar “pelo exercício e acompanhamento psicológico, já que a dor crónica está, em muitos casos, associada a quadros de ansiedade e depressão”, sublinha o médico Raul Marques Pereira.
Por fim, devemos ter um estilo de vida saudável com uma alimentação equilibrada e diversificada, a prática de exercício físico diário e ter o cuidado de evitar posturas incorretas nas atividades do quotidiano.
As principais causas de dor crónica
Entre as principais causas de dor crónica podem estar a idade, o género feminino, o excesso de peso e de obesidade, além da ansiedade e transtornos depressivos. Ou ainda a localização anatómica, pois as zonas lombar e cervical, a cabeça e os membros são as regiões mais afetadas. Também fatores como o desemprego, a história de acidente de viação ou o nível socioeconómico e de instrução mais baixos fazem parte do rol.
Na realidade, existem evidências científicas de que a dor é uma experiência subjectiva e individual. Ao longo da nossa vida, todos nós já a sentimos, seja nas costas, cabeça, barriga ou dentes.