Ele há coisas que, no meio de todas as tragédias humanas existentes no mundo, nos fazem acreditar, senão na justiça divina, pelo menos numa certa ideia filosófica de que o bem se há de sobrepor ao mal – e de que não são assim tão poucos aqueles que agem pensando em si, mas também nos outros. Eu sei, caro leitor, cara leitora, estamos à beira do Natal, os atos e os pensamentos altruístas vão bem com a quadra.
Podia ser, mas não é do Natal que falo: falo da felicidade com que vejo inúmeras pessoas a olhar para Gisèle Pelicot – a mulher que durante dez anos foi drogada e violada pelo marido, que recrutou na internet dezenas de outros homens para a violarem também – e a reclamar que ela devia ser considerada a mulher do ano. Escrevi-o numa outra VISÃO do dia, a 13 de setembro, tinha o julgamento dos crimes de Mazan começado há duas semanas, em Avignon, no Sul de França: “Deveria ser uma evidência: ela não tem que se esconder, a vergonha não é sua, mas de quem cometeu os crimes de a drogar e de a violar. Aliás, pelo testemunho, pela coragem, Gisèle Pelicot, que em dezembro completará 72 anos, deveria ser eleita a mulher do ano.”