“Resistência” foi, apropriadamente, a palavra-chave do XXII Congresso do PCP, realizado, este fim-de-semana, em Almada, antiga autarquia icónica do partido, perdida, em 2017, para o PS, e que os comunistas gostariam muito de recuperar, nas eleições locais de 2025. Resistir à erosão, resistir às mudanças sociológicas, resistir à insignificância. A grande novidade foi a presença de um cardeal católico no conclave comunista. D. Américo Aguiar, que é bispo de Setúbal, aceitou o convite, como aceitará qualquer outro, do Chega ao PAN, “espero não me ter esquecido de nenhum”, disse ele, depois de enumerar os partidos representados na AR (esquecendo-se do Livre e do CDS…), porque deve estar “onde estão as ovelhas”. De facto, o mundo já não e o que era. Mas o PCP ainda é. Paulo Raimundo, reeleito secretário-geral, é um homem que provoca empatia: terra-a-terra, pessoa simples, de “pão, pão, queijo, queijo”, que fala a linguagem do cidadão comum, que parece defender alguns valores (como a paz…) que qualquer um subscreveria, segue as pisadas de outro líder simpático, Jerónimo de Sousa, o militante mais aplaudido do congresso. E daí? Que resultados obtém com toda essa simpatia? Comparemo-lo com um líder político como André Ventura: em todas sondagens o líder do Chega é aquele que provoca mais rejeição popular. E, no entanto, o seu partido é o que mais cresce. Também Álvaro Cunhal era odiado por meio Portugal. Mas foi ele que fez o PCP grande – e o mote do Congresso não podia ser, por manifesta impossibilidade, “make PCP great again”. A simpatia, em partidos de forte marca ideológica, não é bom sinal. Porque a simpatia significa que já não são “ameaça”. Todos simpatizamos com o Belenenses – e veja-se onde está o Belenenses.
VISÃO DO DIA: A luta (contra a irrelevância) continua!
