Nunca uma campanha eleitoral terá sido tão contaminada pelos casos de Justiça. Um primeiro-ministro está a ser investigado (Operação Influencer). O líder da oposição está a ser investigado (caso das obras na casa de Espinho). Ontem, soube-se que o Processo Marquês volta à ribalta, com a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa a dar razão ao Ministério Público e a querer levar a julgamento outro ex-primeiro-ministro, José Sócrates, por 22 crimes, entre eles, três crimes de corrupção (ver outro texto, em baixo, nesta newsletter). E, agora, rebenta, na Madeira, mais um escândalo judicial, desta vez comprometendo o presidente do Governo Regional, conselheiro de Estado e membro do Conselho Nacional do PSD, Miguel Albuquerque (e pessoas muito próximas).
Este processo leva tudo à frente, incluindo aquele que é considerado o seu futuro sucessor político, Pedro Calado, presidente da Câmara do Funchal, entretanto detido. É a decapitação do poder “laranja”, na Madeira quase 50 anos depois de ter iniciado um longo consulado de poder semi-absoluto. Nesta espécie de “arrastão”, o Ministério Público e a Polícia Judiciária efetuaram mais de 100 buscas, envolvendo 300 investigadores, na Madeira, nos Açores e no Continente, tendo feito várias detenções, entre políticos e empresários. Sem surpresa, os crimes do costume: corrupção ativa e passiva, tráfico de influências, branqueamento de capitais, fraude fiscal, falsificação de documento. E um recuperado crime de “atentado ao Estado de Direito” (não ouvíamos falar disto desde o caso Ongoing, envolvendo, ainda e sempre, José Sócrates) que fala de manipulação dos meios de comunicação social para a “produção de notícias favoráveis”. Alvíssaras! Quase 50 anos depois de denúncias reiteradas de controlo da comunicação social e de asfixia democrática, na Madeira, e numa altura em que já nem sequer se falava tanto disso (não obstante subsistirem casos como este, de alegado afastamento de jornalistas incómodos…), eis que o Ministério Público escolhe um período eleitoral para descobrir que podemos estar – e não fazem nada por menos… – num contexto de “atentado ao estado de Direito”! Acordaram tarde, mas acordaram.