Na obra “os Anjos Bons da Nossa Natureza”, do psicólogo social Steven Pinker (ver mais em baixo, nesta newsletter) o autor demonstra que a violência no mundo tem decrescido, contínua e consistentemente, ao longo dos milénios de História da Humanidade. O estudo de Pinker, também fundamentado em estatísticas, não se debruça, apenas, sobre o número de mortes violentas por cada 100 mil habitantes do planeta, ao longo dos séculos, mas em temas como as relações entre pais e filhos, o Direito, as penas corporais, os direitos das mulheres, a forma como tratamos os animais e as crianças, a empatia social ou o desenvolvimento do Q.I. dos indivíduos (que tem aumentado), diretamente proporcional à redução da intensidade da violência. Nos nossos dias, essa não é, porém, a perceção geral. Numa única noite, em que Israel reivindicou ter matado três dirigentes do Hamas, o movimento terrorista (e utilizo o termo conscientemente…) declarou que as bombas israelitas mataram 160 civis. Só ontem, segundo as autoridades palestinianas, terão morrido mais de 700 pessoas – e mais 80 esta noite, debaixo de fogo de Israel. O número de mortos, metade dos quais crianças (numa estatística que mais rigorosamente devia mencionar “menores”) pode ascender a cerca de 6 mil, só em Gaza, desde que os bombardeamentos começaram, na sequência do ataque selvagem do Hamas, a 7 de outubro. No jornalismo, devemos evitar a adjetivação. Mas não há termos que descrevam rigorosamente (como o jornalismo impõe) estes acontecimentos, se não pudermos recorrer a alguns adjetivos. Ora, a “selvajaria” de um grupo de insurgentes não deve ser replicada por um Estado que se diz democrático. Na reação “olho por olho” de Israel, o termo “selvagem” pode ser, também, citado. Ainda que declarações pouco prudentes de António Guterres (dada a sua posição) estejam a provocar um incêndio político paralelo que mina a sua autoridade e não se sabe bem como irá terminar, com Israel a exigir o seu afastamento e famílias dos reféns a indignarem-se com o português…
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