Embora só o desafio da seleção tenha sido transmitido em direto pela televisão, Portugal empatou ontem duas vezes em Budapeste – provocando também dois tipos de reação diferentes. Num caso, o do jogo frente à seleção francesa, a equipa liderada por um Cristiano Ronaldo cada vez mais lendário obteve uma quase vitória, já que cumpriu o seu primeiro objetivo neste Euro de futebol: ultrapassar a fase de grupos, após neutralizar os campeões do mundo. No outro encontro, no entanto, jogado nos bastidores da União Europeia, e que não envolveu uma bola nem gritos de golo, mas apenas a coragem de saber defender, frente à equipa da casa, os mais básicos princípios dos direitos humanos, Portugal acabou por se autoeliminar do lado certo da Europa e com um autogolo: o Governo não assinou a carta já subscrita por 17 países a condenar a aprovação na Hungria de uma lei discriminatória contra as pessoas LGBT e que até a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, considerou ser “uma vergonha”, preferindo antes evocar o dever de neutralidade, por ocupar a presidência da UE, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros.
A verdade é que se o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes – para citar uma frase atribuída a uma tal legião de autores que já ninguém consegue saber exatamente a quem pertence… – também já aprendemos que as neutralidades não são todas iguais. O dia de ontem foi eloquente a esse respeito e as repercussões dos dois “jogos” vão continuar a ser analisadas nos próximos dias e a pesar, também, de forma diferente sobre os seus responsáveis.
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