“Eu gosto de ciclovias, gosto de andar de bicicleta, andei de bicicleta em Bruxelas durante anos, enquanto lá estive. Agora, nós temos de ter ciclovias bem feitas. E as ciclovias, em Lisboa, não são bem feitas (…) Há problemas de segurança (…) Morreram 26 pessoas nas ciclovias, em Lisboa, em 2019”, afirmou Carlos Moedas no debate autárquico de terça-feira, na TVI, com Fernando Medina. A afirmação do candidato apoiado por PSD, CDS-PP, MPT, PPM e Aliança rapidamente se tornou viral – já depois de o atual presidente da autarquia (e recandidato pelo PS) o ter convidado a confirmar aqueles números.
Mas terão mesmo morrido 26 pessoas nas ciclovias da capital em 2019? O Relatório Anual de Segurança Rodoviária, referente a esse ano, consultado pela VISÃO, desmente esse dado. O documento confirma que, de facto, os acidentes envolvendo velocípedes resultaram mesmo em 26 vítimas mortais, mas a nível nacional, e não apenas em Lisboa, como afirmou no debate Carlos Moedas.
Os números oficiais desse ano indicam que, em Portugal, estiveram envolvidos em acidentes 1.794 bicicletas – em 1.563 colisões, 649 despistes e 132 atropelamentos –, dos quais resultaram 2.104 feridos ligeiros, 106 feridos graves e 26 vítimas mortais. O relatório (que regista um total de 35.704 acidentes e 626 vítimas mortais) confirma que os veículos ligeiros foram os que sofreram mais acidentes, correspondendo a 75% do total de veículos envolvidos (43.934 veículos), seguidos dos motociclos, que representam 12% (7.101 veículos) – os velocípedes representaram, por sua vez, apenas 4% do número total de veículos envolvidos em acidentes neste período.
Também Miguel Gaspar, vereador do PS da câmara de Lisboa, foi lesto a reagir às palavras de Carlos Moedas. Citando números da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), o vereador, com os pelouros da Economia e Inovação, Mobilidade, Segurança e Proteção Civil e Socorro, referiu, na sua página do LinkedIn, que, naquele ano, “ao contrário do que diz Moedas não morrem 26 pessoas nas ciclovias de Lisboa, mas sim, felizmente, zero. Nas ciclovias ou fora delas”. “O total de mortos [em Lisboa] em 2019 foram 8, em 24 horas [que se seguiram aos acidentes], e 15 a 30 dias. A maioria peões, ou motociclos”.
Conclusão
FALSO
A afirmação de Carlos Moedas é, portanto, falsa. O número de 26 vítimas mortais é, de facto, real, mas corresponde ao total de acidentes envolvendo velocípedes, em 2019, em todo o território português – e não, como afirmou, no debate, o candidato do PSD à câmara de Lisboa, aos que ocorreram apenas nas ciclovias de Lisboa.