Quando andava na escola primária, Miguel Neiva tinha um colega daltónico. Sempre que o rapaz chegava com uma peúga de cada cor, os miúdos da turma chamavam os amigos para irem ver. A risota era total.
O designer não sabe se terá sido este episódio o primeiro passo para entrar no universo dos daltónicos, mas nunca o esqueceu. Miguel Neiva, 47 anos, criou o ColorADD, um alfabeto universal das cores, para permitir a integração dos daltónicos em todas as atividades que exigem o reconhecimento da cor (existem 350 milhões de pessoas com este problema no mundo).
Este alfabeto cromático demorou quase uma década a ser desenvolvido. Há oito anos que o designer está totalmente dedicado a ele. Hoje, conta com uma equipa de seis pessoas para o fazer chegar ao maior número possível de pessoas.
O potencial de utilização revela-se quase inesgotável. Atualmente, nove empresas têxteis colocam o código nas etiquetas, para os daltónicos saberem a cor do vestuário que estão a comprar. Os transportes também são uma área importante de aplicação. E até nas bandeiras das praias o ColorADD é utilizado.
Algumas aplicações são sugeridas diretamente por daltónicos. É a eles que Miguel Neiva recorre sempre que tem dúvidas. Já houve empresas dispostas a pagarem pelo uso exclusivo do código, mas o designer portuense recusou: “A ideia é que o sistema seja para todos, sem os daltónicos terem de pagar ou revelar a sua condição.” O custo de utilização é negociado de acordo com a dimensão e capacidade financeira de cada empresa interessada.
Uma das principais apostas é a escola, seja através da inscrição do código em lápis de cor ou em manuais escolares portugueses, espanhóis e brasileiros. “Este projeto nasceu para as gerações futuras”, afirma, habituado a participar em ações de rastreio do daltonismo e de sensibilização nas escolas. “Quando as crianças descobrem que o código foi inventado por um português pensam que eu já morri!”, conta, divertido.
Miguel também sente o impacto da invenção além-fronteiras. Juliano, um rapaz argentino de 11 anos, chamou-lhe “anjo da guarda” graças a ele, nunca irá levar as peúgas trocadas para a escola.