Inspiração, superação e inclusão são três palavras que assentam bem à primeira das Conversas com VISÃO, protagonizada por Mafalda Ribeiro, 33 anos, escritora, oradora motivacional e colunista da Bolsa de Especialistas da VISÃO e também pela Secretária de Estado para a inclusão de Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, 35 anos – a primeira pessoa cega a assumir um cargo governativo em Portugal.
Mas há outra palavra que reflete com justiça este encontro promovido pela VISÃO Solidária e a Associação Mutualista Montepio Geral: boa-disposição. Um bom exemplo é a história hilariante de quando os amigos de Ana Sofia Antunes quase a levaram a matricular-se para tirar a carta de condução, esquecidos da sua deficiência por a convivência a ter tornado irrelevante.
O espaço Atmosfera M, em Lisboa, foi o local escolhido para esta conversa entre duas mulheres habituadas a desafios. Mafalda Ribeiro sofre de osteogénese imperfeita (conhecida como a doença dos ossos de vidro), mas não deixa que isso a defina. “A cadeira [de rodas] é um detalhe, as dores físicas que tenho todos os dias são um detalhe”, disse em entrevista à VISÃO.
Ana Sofia Antunes era presidente da ACAPO – Associação Cegos e Amblíopes de Portugal antes de assumir a secretaria de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência. Recentemente, esteve no Rio de Janeiro a acompanhar a comitiva portuguesa paralímpica. Discretamente, respondeu ao jornalista Joaquim Vieira que classificou os Paralímpicos de “espetáculo grotesco” e considerou-os “um espetáculo com um enorme potencial de evolução com muitos recordes para serem batidos”. E reiterou: “Não são um espetáculo grotesco”.
Com a sua habitual descontração, Mafalda Ribeiro começou por pedir a Ana Sofia Antunes para escolher entre as palavras “cega” ou “invisual”… “Invisual é uma palavra que não significa nada. A invisualidade foi inventada recentemente porque as pessoas sem deficiência sentem que se disserem cega estão a ser indelicadas, mas esse desrespeito não existe. Eu sou cega. Não há nada de ofensivo nisso”, declarou a secretária de Estado.
O humor esteve sempre presente na conversa. Afinal, essa é uma das principais armas da entrevistada e da entrevistadora para arrumarem com o preconceito.
“A boa-disposição é um excelente remédio para muitas situações, sobretudo para as mais duras. Às vezes, o melhor é rirmo-nos de nós próprios”, defendeu Ana Sofia Antunes.
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Mafalda Ribeiro e Ana Sofia Antunes partilham o otimismo com que enfrentam os momentos menos bons
Gonçalo Rosa da Silva
A secretária de Estado partilhou com a assistência um dos episódios mais duros da sua vida no que à discriminação diz respeito. Ter terminado o curso de Direito com média de 16 valores e ter demorado seis meses a conseguir um estágio, quando já todos os outros colegas (a maioria com piores notas) já trabalhavam. Também por essa experiência, o emprego é uma das prioridades do seu mandato. E não nega o orgulho em servir de motivação a outras pessoas com deficiência.
Mesmo sem nunca sonhar chegar a secretária de Estado, houve momentos em que pensou como seria se mandasse e, nessas alturas, era a pobreza que mais queria combater.
O Balcão da Inclusão, com atendimento público especializado, e a legislação que dá prioridade às pessoas com deficiência (e não só) nas filas de espera são algumas das suas conquistas políticas.
Além de unidas pelo otimismo, Mafalda Ribeiro e Ana Sofia Antunes partilham a mesma frontalidade e nem a polémica em torno da calçada portuguesa ficou de fora desta conversa.
Devido às dificuldades de circulação que provocam, Ana Sofia Antunes não é fã deste património nacional – uma posição que ficou expressa quando passou pela assessoria jurídica da Câmara Municipal de Lisboa na área da Mobilidade.
“Claro que não quero destruir a Av. da Liberdade ou outras das principais avenidas de Lisboa, mas a calçada não faz sentido nos bairros residenciais”, afirmou, sem papas na língua.
Se o lema de Mafalda Ribeiro é “sorrir sobre rodas”, o de Ana Sofia Antunes passa por nunca deixar que o pessimismo a vença: “Nunca considerei a hipótese de não conseguir aquilo a que me propunha”, afirmou.
Perseverança é outras das palavras que assenta bem a este encontro e às suas protagonistas.
A próxima edição das Conversas com VISÃO está agendada para outubro, no Porto. Os protagonistas serão revelados na página da VISÃO Solidária. Até lá, continuam a decorrer as candidaturas ao prémio Os Nossos Heróis, promovido pela VISÃO Solidária e pela Associação Mutualista Montepio Geral.
Serão premiadas pessoas que se destacam na área da solidariedade social através de projetos que fazem a diferença na comunidade onde estão inseridos.
Se conhece algum caso inspirador de cidadania ou gostava de ver o seu trabalho reconhecido, inscreva-se até 31 de outubro.
O regulamento do prémio e a ficha de inscrição estão disponíveis. O vencedor terá acesso a formação de excelência na área da gestão de projetos sociais e recebe, ainda, um galardão desenhado pelo arquiteto Souto de Moura. Além disso, a sua história será contada nas páginas da VISÃO.