O antigo proprietário das obras, o neto do artista, Joan Punyet Miró, explicou à agência de notícias francesa AFP, antes do leilão, que tinha decidido doar esta coleção por ser o que o avô desejaria que fizesse.
“Considero-me o executante da sua vontade e desejo fazer o que ele mesmo teria feito se ainda fosse vivo”, disse Joan Punyet Miró.
“Miró sofreu muitas provações na sua vida. Conheceu a fome, o exílio durante a guerra civil espanhola, a Segunda Guerra Mundial, e conheceu a desolação dos campos de refugiados”, sublinhou.
Exilado em Paris durante a Guerra Civil de Espanha, entre 1936 e 1939, Miró, simpatizante republicano, acompanhara de perto o destino dos refugiados espanhóis fugidos ao regime de Franco.
“Ele sempre quis ajudar as pessoas desfavorecidas, os refugiados e os exilados. Se ainda fosse vivo, consideraria que o que hoje se passa na Síria poderia acontecer amanhã em Espanha”, disse ainda o neto do pintor.
Desde o início do conflito na Síria, em 2011, mais de 4,8 milhões de refugiados fugiram do país, contribuindo para a mais grave crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
Segundo a ONU, há cerca de 60 milhões de pessoas refugiadas ou deslocadas em todo o mundo.
Miró, que morreu em 1983, aos 90 anos, tinha razões pessoais para estar grato à Cruz Vermelha: um médico da organização humanitária internacional salvara a perna da sua filha, mãe de Joan Punyet Miró, quando ela ficou gravemente ferida num acidente de viação, em 1965.
“O meu avô fez uma tapeçaria para a Cruz Vermelha como agradecimento por ter salvado a filha, a sua única descendente”, disse o neto do pintor catalão.