Um crescimento mundial que ameaça descarrilar, um contexto geopolítico marcado por atentados quase diários e a crise migratória dominam o Fórum Económico Mundial (FEM), em Davos, na Suíça, que começou ontem, quarta-feira, com segurança reforçada.
Nas ruas nevadas de Davos, localidade no cantão de Grissons, as patrulhas são mais numerosas que nos anos anteriores e blocos de betão cortam a estrada de acesso ao centro de conferências.
A organização do fórum reforçou a segurança para limitar os riscos de atentados contra o local, onde vão reunir-se até sábado 2 500 dos mais importantes decisores do planeta, entre chefes de Estado ou de Governo, ministros, presidentes de empresas ou artistas, como Leonardo di Caprio, que foi homenageado pelo seu empenho na luta contra o aquecimento global e as alterações climáticas.
O tema oficial da edição deste ano do FEM é a quarta revolução industrial que pode transformar a economia mundial, mas “como acontece muitas vezes em Davos o tema é eclipsado pelos acontecimentos mundiais, e o que chama a atenção das pessoas é o que se passa na China, onde o crescimento está a diminuir”, considerou o principal economista do executivo britânico, Nariman Behravesh.
Na terça-feira, Pequim divulgou os dados do crescimento no ano passado, o mais baixo nos últimos 25 anos (6,9%). A desaceleração chinesa e dos países emergentes pesa sobre o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e, de um modo geral, é toda a economia do planeta que ameaça descarrilar, advertiu o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Este contexto influencia também os mercados financeiros que conhecem um período de grande volatilidade, o que se traduz na descida das cotações do petróleo e das matérias-primas.
“Sabemos todos que há um Davos público, diferente do Davos privado. E é no Davos privado que os assuntos são verdadeiramente debatidos, não no Davos público”, afirmou Behravesh.
Este Davos secreto, feito de encontros discretos em hotéis de luxo ou em pequenas salas de reuniões nos corredores de um Palácio dos Congressos com segurança reforçada, atrai também diplomatas, para debater temas geopolíticos.
A evolução da luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), os atentados ‘jihadistas’, e a crise dos refugiados que atinge a Europa e o Médio Oriente serão temas presentes.
“A vaga de refugiados constitui um grave problema para a capacidade de absorção dos mercados de trabalho da União Europeia e põe à prova os sistemas políticos”, considerou na terça-feira o FMI.
Na noite de ontem, à margem do fórum, decorreu uma sessão denominada “Open Forum” (Fórum Aberto), que permite aos habitantes da região participarem em debates com diferentes personalidades.
O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, o primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, cujo país reforçou os controlos nas fronteiras, debateram o tema “da migração à integração”, numa altura em que aumenta a contestação à política de acolhimento da Alemanha, na sequência das agressões sexuais registadas na passagem do ano em Colónia, atribuídas a migrantes.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também discursou no FEM.
Hoje, quinta-feira, as problemáticas europeias vão dominar o fórum, com um debate entre vários líderes da região, como o primeiro-ministro francês, Manuel Valls.