Se nessa altura passei em revista alguns dos feitos que constituem matéria de orgulho para o tecido social e empresarial no nosso país, cabe agora testemunhar o quanto sinto que é nas melhores sementes que cada vez mais residem as boas colheitas. Na verdade, a cada dia que passa, e por muito que afirmemos que muito há por fazer, as iniciativas multiplicam-se como que por efeito das boas regas que no dia-a-dia vão sendo asseguradas por tantos dos que se recusam a negar o sentido do outro.
Pego no caso do GRACE, essa Associação de empresas que bem prova que negócio e bem-estar podem e devem juntar as mãos, para ilustrar o que considero dever ser o princípio da multiplicação. Recordar-se-ão alguns que, no final do ano, estávamos na centena de empresas associadas. Pois bem, neste momento, são já mais de cento e vinte e cinco as organizações que perceberam que não é de individualismo que reza a sua história de sucesso e que, quanto mais partilharem esforços e empenhos, maiores resultados conseguirão obter com colaboradores cada vez mais comprometidos, motivados e orgulhosos por pertencerem a estruturas que vão bem para além da sua estrita atividade operacional. Mas se pensamos que é só nas empresas que a crescente responsabilização em temas sociais acontece desenganemo-nos. Cada vez mais o sentido de partilha no tecido associativo se alarga aos mais diversos setores de atividade a que universidades, autarquias, fundações ou outras organizações de Terceiro Setor não são de todo alheias.
No GRACE comemoramos este ano 15 anos de existência. Mais do que um somatório de anos, registamos uma maior consciência sobre temas que deixaram de ser apenas conceitos para serem práticas muito assumidas enquanto parte importante das estratégias corporativas. E também aqui a Responsabilidade Social não está mais confinada aos departamentos de pessoas ou de comunicações. É cada vez mais significativo o número de CEOs que, não apenas respondem à chamada, mas que, sobretudo, fazem questão de tomar o primeiro passo e liderarem pelo exemplo capaz de influenciar os seus gestores e os seus colaboradores. Estamos a ficar no ponto. E também por isso o triple bottom line tem sido largamente ultrapassado quanto à sua génese e à sua meta. É que estudos, análises retro e prospetivas, avaliações de impacto ou políticas de governance estão hoje na agenda de todos os que fazem questão de assentar o seu sucesso nas lições colhidas do passado.
Não atuar ou atuar de forma isolada não é, pois, mais uma opção. Encontros de reflexão sobre Crescimento Verde, Direitos Humanos, Avaliação do Impacto do Voluntariado ou Inovação Social esgotaram o número de lugares vagos na sala. E a iniciativa Responsabilidade Social de Sucesso, que este ano subiu de novo ao Mercado do Bom Sucesso, na cidade do Porto, registou um número bem maior de empresas participantes e de visitantes tão interessados quanto entusiastas. Se as leis da concorrência impõem alguma distância face às demais organizações do mesmo setor de atividade, é bem gratificante verificar que, em associativismo, a coopetição é cada vez mais palavra de ordem. E também nesta Associação o paradoxo dilui-se, já que assistimos a uma capacidade única de conjugar esforços e vontades no serviço prestado às comunidades que são cada vez mais diversificadas e mais de todos para todos. É assim que, a cada novo tema debatido, são os responsáveis de todas as empresas, concorrentes ou não, que formam grupos de trabalho para debaterem profundamente as causas das causas e chegarem a soluções capazes de operarem a diferença junto de todos nós.
Teria aqui muitos mais motivos para levar por diante esta minha opinião sobre novos acontecimentos nas empresas responsáveis. Mas guardo-me para nova rubrica, até porque esta é hora para apelar ao sentido de justiça que nos faz homenagear quem cria tendências, abre caminhos e faz história para a História. Este é espaço e momento para uma palavra de reconhecimento e gratidão a uma Mulher que, em Portugal e além-fronteiras, desbravou caminho, enfrentou adversidades, ultrapassou barreiras, criou condições para combate à pobreza, para dinamização de voluntariado, também empresarial, para defesa de condições de igualdade e de trabalho, para dignificação do ser humano. Às oito décadas de uma vida muito cheia de desafios bem cumpridos e de um sorriso invariavelmente cheio, bonito e rasgado, a “minha” Dra. Elza Chambel partiu. Deixou o país mais pobre mas deixou também um legado de obra-feita e um rasto de certeza de que o seu trabalho só pode ser continuado por todos os que com ela tiveram o privilégio de aprender e sentir que, também em solidariedade, a história se faz em episódios sucessivos e confirmados em toda uma miríade de acontecimentos.