Quando os responsáveis da OUSAM – Organismo Utilitário e Social de Apoio Mútuo – souberam que tinham sido os escolhidos dos leitores online da VISÃO Solidária para receberem os €0,50 por cada capa da revista vendida em banca, nem queriam acreditar. Quando se vive a contar os tostões, um donativo destes faz toda a diferença.
Pensaram imediatamente em comprar material didático para a mais de uma centena de crianças que usufruem da creche e dos seus dois jardins-de-infância.
Com o que sobrasse, iniciariam um pé-de-meia que, acrescentado a alguma ajuda do município, daria para arranjarem o telhado da sede, bem no centro de Paredes de Coura, onde funciona o ATL. Até porque seria insustentável aguentar muito mais tempo assim: chove numa das salas de atividades.
Mas aquilo que parecia fácil está a tornar-se de resolução bem difícil. O telhado da sede, uma antiga escola primária de dois andares, tem amianto e veio complicar os trabalhos.
“Apesar de a verba recolhida não ser ainda suficiente, mudar o telhado é uma necessidade urgente. Quando chove, pomos umas mantas no chão. Mas a verdade é que não conseguimos arranjar uma empresa que trate do assunto”, explica-nos Sofia Brito, a diretora técnica da instituição.
O facto de o amianto ser um material tóxico, implica outras exigências: “Perguntam-nos logo se temos onde colocar o material retirado e ninguém quer responsabilizar-se por isso. O ideal seria uma empresa que retirasse o telhado, tratasse dos resíduos e colocasse um novo. Está a ser difícil.”
Alheios a tudo isto estão as 25 crianças-bebé da creche da freguesia de Castanheira, também a funcionar numa escola primária, mas que sofreu obras de adaptação para uma creche.
Bem instalados, os pequeninos deleitam-se com o palhaço que emite sons e música a cada toque. É um dos brinquedos comprados com a verba resultante da venda da VISÃO Solidária e um dos mais apreciados.
Depois vem um balancé e uma cozinha com fogão em placa de vitrocerâmica. As luzes que acendem os discos são uma aparência de verdade para quem simula a confeção de uns petiscos. “Faltava isto para as nossas meninas”, diz Alexandrina Cardoso, coordenadora pedagógica. “Queríamos materiais que lhes dessem mais independência e que fomentassem a partilha.”
Se na creche os cozinhados são a brincar, nos jardins de infância – dois, nas freguesias de Cristelo e de Rubiães – são, por vezes, a sério. “Um dos traços do nosso projeto é estudar práticas geracionais, unir os mais novos aos mais velhos, criando atividades em conjunto”, explica Alexandrina. Daí que já lá tenham ido os avós ensinar como se faz uma sopa, com ingredientes que cada um leva de sua casa, muitas vezes cultivados nos seus próprios terrenos.
Estas são freguesias de uma enorme ruralidade, um dos fatores que deu origem a esta instituição. Há 30 anos, uma enfermeira, uma médica e uma professora começaram a ir buscar as crianças ao campo, onde ficavam com os pais.
À descoberta de ser criança era o nome do projeto e já dizia tudo. Agora os tempos são outros, fez-se todo um caminho e só os mais velhos vão ao campo.
A solidariedade, a troca de produtos, a união entre novos e velhos, a importância da comunidade são valores que se querem manter. Daí que haja um centro de convívio a funcionar às tardes, em Romarigães, que inclui um serviço de apoio domiciliário a três dezenas de utentes.
No jardim de infância de Rubiães já se perfilam alguns pais para levarem os seus meninos. Outros, irão para casa nas carrinhas de transporte da OUSAM. Os que por ali restam andam em grandes correrias, por entre uma espreitadela de dentro da casa de chocolate ou um giro no pequeno escorrega. O
s pequenos sofás (tudo “prendas” da Visão Solidária) também já tiveram o seu uso, mas neste momento não prende a atenção deles. “Estes materiais de crianças desgastam-se muito depressa. Mesmo assim, escolhemos os mais resistentes”, dizem-nos as responsáveis.
Para a sede, mesmo na sala onde chove, chegou uma mesa de matraquilhos, outra de pingue-pongue e cordas. Os que não foram à piscina ou ao ginásio, estão agora a saltar à corda, individualmente ou em conjunto.
O dia escurece e já se sente o frio. Sofia, Alexandrina e os restantes 34 funcionários têm de começar a pensar na festa de natal e, depois, nos festejos dos 30 anos. É preciso conceber ações de voluntariado, formas de angariar dinheiro (já agora, por cinco euros ao ano pode tornar-se sócio). E procurar empresas que solucionem o telhado. Sim, com amianto.